Identificados “fatores de risco magnéticos” permitindo nova abordagem na prevenção do crime
Pela primeira vez, um estudo internacional mapeia, de forma sistemática, as sequências de vulnerabilidades multissistémicas - sociais, psicológicas, familiares e escolares — que influenciam o desenvolvimento e persistência de comportamentos antissociais desde a infância até à idade adulta e identifica “fatores de risco magnéticos” que geram uma verdadeira “avalanche de risco”, promovendo trajetórias criminais difíceis de interromper.
O projeto de investigação “ChainPrevent – Sequência de eventos subjacentes ao desenvolvimento e persistência do comportamento antissocial: Avançar na prevenção do crime através de respostas individualizadas”, coordenado por Miguel Basto Pereira, investigador no William James Center for Research e professor no Ispa – Instituto Universitário, introduz o conceito inovador de "fatores de risco magnéticos", fatores que não só aumentam o risco de envolvimento em comportamentos problemáticos durante a infância, como também atraem novas vulnerabilidades ao longo do desenvolvimento. Um exemplo claro é a fraca supervisão parental na infância, que para além de aumentar diretamente o risco de comportamento antissocial, aumenta o risco do desenvolvimento de outros problemas como o insucesso escolar e o envolvimento em ambientes prejudiciais durante a adolescência, multiplicando assim os riscos em fases posteriores da vida. O estudo sugere ainda que a parentalidade disfuncional, o baixo aproveitamento escolar e dimensões relacionadas com o baixo autocontrolo na infância formam cadeias de risco, não só aumentando substancialmente o risco de delinquência juvenil, mas também gerando novas vulnerabilidades em diferentes fases de desenvolvimento (insucesso escolar, afiliação a colegas com comportamentos delinquentes, dificuldades em manter um trabalho) que promovem trajetórias antissociais ao longo da vida.
Um dos estudos conduzidos no âmbito deste projeto sugere outro resultado de grande relevância. Para crianças e jovens sem estas vulnerabilidades, nem comportamentos desviantes durante o desenvolvimento, mas que viveram em condições de pobreza extrema, ao ponto de limitar, em fases subsequentes do desenvolvimento, o acesso pleno ao ensino e até mesmo o desenvolvimento cognitivo e emocional, as oportunidades de sucesso tornam-se tão restritas ao longo do ciclo de vida, que existe um risco substancialmente mais elevado de condenações criminais na idade adulta, quando comparados com jovens que não vivenciaram estas formas de pobreza extrema.
Este trabalho desenvolve e testa uma metodologia que permite mapear, ao longo de dezenas de vulnerabilidades, essas cadeias (ou sequências) de risco e identificar fatores-chave em cada fase de desenvolvimento para uma intervenção eficaz. “Este objetivo é particularmente relevante porque é utópico esperar que as políticas públicas de justiça consigam intervir ou prevenir todas os fatores que são conhecidos por aumentarem o risco de comportamento criminal. Este projeto pioneiro abre portas para uma nova linha de investigação científica na área da criminologia desenvolvimental que permite identificar e priorizar a prevenção e intervenção em alguns fatores de risco que são estratégicos para impedir trajetórias criminais e de marginalização social”, sublinha Miguel Basto Pereira, investigador e docente do Ispa.
Os resultados finais deste projeto de investigação serão apresentados no próximo dia 4 de novembro, no Ispa, em Lisboa, na conferência “Interna'onal Conference on Developmental and Life-course Criminology - Bringing Developmental Criminology to the Core of Crime Prevention Policies”, que contará com a presença de figuras notáveis como o Prof. Manuel Eisner, Diretor do Instituto de Criminologia da Universidade de Cambridge, Prof. Friedrich Lösel, Prof. Emérito do Instituto de Criminologia da Universidade de Cambridge e um dos criminólogos mais premiados a nível mundial e o Prof. Darrick Jolliffe, Professor de Criminologia na Royal Holloway University of London e Diretor da Divisão de Criminologia Desenvolvimental e de Ciclo de Vida da Associação Americana de Criminologia, entre muitos outros investigadores de renome.