Workshop dedicado à Prevenção Cardiovascular

Grupo de especialistas discute estratégias para reduzir a mortalidade cardiovascular em Portugal

Realizou-se no na passada quarta-feira, no Instituto de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina de Lisboa, o primeiro workshop sobre “Prevenção Cardiovascular – Como implementar as recomendações na prática clínica?”, visando a adesão de médicos e doentes.

O evento contou com a coordenação da Professora Doutora Ana Abreu – Coordenadora do Grupo de Estudo do Risco e Prevenção Cardiovascular da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e Diretora do Instituto de Medicina Preventiva & Saúde Pública e do Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina de Lisboa, e da Professora Alda Pereira da Silva, Coordenadora da Clínica Universitária da Medicina Geral & Familiar, e reuniu um conjunto de profissionais de saúde e especialistas de áreas como a Cardiologia, Medicina Interna, Medicina Geral & Familiar, Psiquiatria, Psicologia, Nutrição e Exercício.

Ao longo deste workshop foram discutidas novas formas de aumentar a sensibilidade de profissionais e doentes para temas como fatores de risco Cardiovascular, prevenção e reabilitação cardíaca ou o tratamento farmacológico e não farmacológico.

Numa altura em que, de acordo com os dados do serviço estatístico europeu, as doenças cardiovasculares foram a principal causa de morte em 23 Estados-membros em 2020, mesmo no ano de início e prevalência da COVID-19, a importância deste encontro e partilha de informação procura colocar o tema das doenças cardiovasculares como prioridade para o sector da saúde, em Portugal.

Para a Professora Doutora Ana Abreu “este workshop foi um passo extremamente importante e de enorme utilidade para reunir alguns dos mais renomeados profissionais do setor para todos juntos, procurarmos dar uma melhor resposta e tentar criar técnicas de motivação e estratégias para aumentar a adesão dos doentes a terapêuticas mais eficazes no combate às doenças cardiovasculares”.

Já a Professora Alda Pereira da Silva acrescenta que “este evento é o primeiro a reunir um conjunto de especialidades e diferentes valências que procura dar algum tipo de resposta às atuais guidelines na prevenção e tratamento de doentes com prevalência de doença cardiovascular. O mais importante é reforçar que a cardiologia e a medicina geral & familiar deverão coexistir de uma forma cooperante encontrando soluções e práticas que acompanhem, tratem e tenham o doente como prioridade da sua atividade”.

Alguns dos dados apresentados revelam que existe uma necessidade de criar um sistema integrado de saúde que facilite o acesso do doente a novas terapêuticas e um acompanhamento multidisciplinar por parte de profissionais de cardiologia (no tratamento das doenças cardiovasculares) e medicina geral & familiar (no acompanhamento constante que deve ser realizado com doentes que tenham sofrido enfarte ou que apresentem risco elevado de sofrer um episódio).

Durante este workshop foram discutidos alguns dados que mostram que a doença cardiovascular é a principal causa de mortalidade e morbilidade no mundo. Os indicadores apresentados pelos vários intervenientes apontam que, no futuro, será o cancro a primeira causa de morte no nosso país. Trabalhar na prevenção e educação é um elemento-chave para combater fatores de risco como o tabagismo, a obesidade, a diabetes, o stress, o sedentarismo e maus hábitos alimentares.

Sobre o atual momento pós-pandemia os dados ainda não estão completamente esclarecidos. O grupo de trabalho presente neste evento pensa ainda que, após a recolha e análise dos dados relativos às doenças cardiovasculares em Portugal, possa haver um aumento da prevalência da doença, uma vez que muitos doentes não recorreram às unidades de saúde ou a profissionais. Segundo a Professora Doutora Ana Abreu “este impacto poderá ser muito negativo, o que nos leva a ter a necessidade de agir rapidamente”.

Ao longo da sessão foram discutidas mais medidas de forma a efetivar um maior controlo das doenças cardiovasculares junto da população. A criação de novos rastreios junto da população em conjunto com a existência de tratamentos inovadores, são apenas algumas das medidas a implementar. Para a Professora Doutora Ana Abreu “existe uma necessidade de conhecer a população portuguesa e as suas características. As pessoas que têm ou não médico de família, cujo acompanhamento é feito no sector público ou privado de saúde, o seu historial, a sua evolução através de sistemas de informação do Serviço Nacional de Saúde, são cruciais para controlar a doença e melhorar a intervenção e o tempo e qualidade de resposta”.

Já o Professor Doutor Paulo Santos, Especialista em Medicina Geral e Familiar da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e Presidente do Colégio Português de Médicos de Família, acrescentou que “enquanto a saúde continuar a ser vista pelas nossas instituições como um custo em vez de um investimento iremos ter sempre obstáculos para combater de forma efetiva o problema. A entrada nesta dinâmica e uma maior participação de municípios e autarquias a nível nacional é fundamental para trazer uma visão e missão aos serviços de saúde existentes. Não basta dotar uma unidade de saúde com tecnologia de ponta. É importante contribuir com uma equipa multidisciplinar composta por nutricionistas, psicólogos, técnicos de saúde, enfermeiros e médicos e trabalhar também a literacia nos doentes. É fundamental esta articulação entre todos”.

Para o Professor Doutor Luís Bronze, ex-Presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão, “esta iniciativa é pioneira porque reúne elementos de diferentes áreas. Resulta de uma tentativa de fazer um enquadramento nacional das doenças cardiovasculares, para que surjam ações práticas e não apenas intensões. Estamos a viver um momento de grande incerteza a nível nacional e que tem consequências na saúde cardiovascular dos portugueses. Pretendemos tentar, entre atores no ramo da saúde, encontrar um terreno de ação comum em que possamos trabalhar juntos. Não é fácil, mas como iniciativa acho uma ideia brilhante e meritória.”

Este workshop é o primeiro do género em Portugal e terá novas iniciativas em breve de forma a continuar o trabalho de coordenação das várias áreas de saúde envolvidas.

Terapêuticas mais eficazes podem ajudar a prevenir e diminuir o número de mortes

Durante a sessão do workshop foram ainda discutidos os benefícios para os doentes ao tomar a polipílula Trinomia® da empresa farmacêutica Ferrer em vez dos componentes isolados, aumentando a adesão ao tratamento.

Esta polipílula desenvolvida pelo Centro Nacional de Investigações Cardiovasculares (CNIC) de Espanha e pela Ferrer, inclui três medicamentos (um anti-agregante, um inibidor da enzima de conversão de angiotensina e uma estatina) numa única cápsula, é eficaz na prevenção de episódios cardiovasculares decorrentes de um enfarte do miocárdio, diminuindo a mortalidade por causas cardiovasculares em 33%. Assim comprova o estudo SECURE, apresentado em sessão Hot Line no Congresso Europeu de Cardiologia (ESC 2022) que teve lugar em agosto na cidade de Barcelona e cujos resultados foram publicados no The New England Journal of Medicine (NEJM).

“Os resultados do SECURE revelam, pela primeira vez, que a polipílula que contém ácido acetilsalisílico, atorvastatina e ramipril, permite reduções clinicamente relevantes nos episódios cardiovasculares recorrentes em doentes que tenham sofrido um enfarte do miocárdio”, sublinha o investigador chefe do estudo SECURE, o Prof. Valentín Fuster, diretor-geral do CNIC, e diretor médico do Hospital Mount Sinai.

O Professor Doutor Miguel Mendes, Diretor de Serviço de Cardiologia do Hospital de Santa Cruz, salienta que “a polipílula é uma arma importante para otimizarmos e mantermos a medicação do doente. Os nossos doentes têm de fazer habitualmente, no mínimo, quatro fármacos e qualquer solução que permita reduzir este número é muito interessante já que é uma solução facilitadora. De referir que temos vindo a perceber que, em algumas situações, não há uma necessidade de tomar os diversos tipos de medicação em horas diferentes podendo a sua toma ser única. Com este medicamento facilitamos a adesão terapêutica por parte do doente”.

O SECURE incluiu 2.499 pacientes de sete países europeus que já tinham sofrido um enfarte do miocárdio e que foram selecionados, de forma aleatória, para receberem um tratamento standard ou a polipílula do CNIC*. A idade média dos participantes foi de 76 anos, sendo 31% mulheres. Destes, 77,9% registavam hipertensão, 57,4% diabetes e 51,3% antecedentes de tabagismo.

O objetivo passa também por desenvolver em Portugal a utilização deste tipo de terapêutica de forma a fomentar a adesão ao tratamento e a contribuir para a prevenção e o acompanhamento de doentes com risco de enfarte, ou que tenham sofrido um episódio de enfarte agudo do miocárdio.

Fonte: 
Cision
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay