Fisioterapeutas receiam nova interrupção da atividade já este mês
Para a APFisio, ao abrir a porta à suspensão, durante o mês de novembro, da “atividade assistencial não urgente que, pela sua natureza ou prioridade clínica, não implique risco de vida para os utentes, limitação do seu prognóstico e/ou limitação de acesso a tratamentos periódicos ou de vigilância”, o recente despacho do Governo poderá resultar na interrupção ou limitação de muitos tratamentos de Fisioterapia, fruto de uma errónea interpretação da sua não necessidade imediata.
“Receamos que possa agora repetir-se o que se verificou em março, altura em que a incerteza e o desconhecimento sobre a melhor forma de gerir a pandemia justificou medidas mais restritivas, em que muitas pessoas viram os seus cuidados nesta área bastante comprometidos durante o confinamento, com todas as consequências conhecidas para a sua funcionalidade e prognóstico de recuperação”, alerta Adérito Seixas.
O mesmo responsável recorda que os fisioterapeutas atuam não apenas em condições de saúde agudas, mas também crónicas e, muitas vezes, com pessoas com várias comorbilidades e que apresentam inúmeras limitações à sua autonomia e desempenho nas atividades da vida diária.
“A suspensão ou modificação da frequência recomendada de tratamentos poderá traduzir-se não apenas no aumento da necessidade de cuidados mais dispendiosos no médio e no longo prazo, mas também numa ainda maior limitação na qualidade de vida das pessoas que, pela necessidade de recolhimento domiciliário imposta pela crise pandémica, já têm visto a sua funcionalidade bastante condicionada”, considera Adérito Seixas.
O presidente da APFisio reforça que é essencial olhar para o que se passou com os cuidados de reabilitação, que na sua larga maioria são prestados por fisioterapeutas, desde o início da pandemia e tirar as necessárias ilações.
“Na primeira fase da pandemia cerca de 73% dos fisioterapeutas interromperam a sua atividade presencial e destes, apenas cerca de 60% recorreu a estratégias de telefisioterapia para continuar a acompanhar os seus utentes. Neste momento, é seguro afirmar que a maioria dos serviços de Fisioterapia ainda não voltou à atividade normal e as consequências negativas desta limitação no acesso aos cuidados de Fisioterapia, quer em termos físicos, mas também ao nível da saúde mental, estão bem visíveis”, revela.
A APFisio atenta ainda para o facto de a pandemia ter agudizado problemas que já existiam, como é exemplo a realidade dos lares, onde deveria ser obrigatória a presença de fisioterapeutas, uma vez que cada vez mais devem ser vistos como unidades de saúde.
“A presença de fisioterapeutas nos lares já era muito limitada e, para agravar ainda mais esta situação, sabemos que cerca de 20% das instituições onde eram prestados serviços de Fisioterapia antes da pandemia não permitiram ainda o regresso dos fisioterapeutas, o que contribui para uma deterioração do estado funcional dos idosos ao seu cuidado”.
Em conclusão, Adérito Seixas afirma que “os fisioterapeutas reconhecem os desafios que estão a ser colocados à sociedade em geral e aos serviços de saúde em particular, mas alertam que é vital dar prioridade à continuidade da prestação dos cuidados de Fisioterapia, sem secundarizar ou desvalorizar a sua importância”.
Recorde-se que, ainda no passado mês de junho, a APFisio chamava a atenção para o facto de a presença de fisioterapeutas nas Unidades de Cuidados Intensivos de forma permanente não ser uma realidade em Portugal, ao contrário do que acontece na maioria dos países europeus, o que estaria a condicionar a recuperação de doentes com Covid-19 com capacidade funcional reduzida.
Nos casos mais graves de doentes com Covid-19 que necessitam de internamento em UCI e ventilação mecânica, alertou a APFisio, a ausência de cuidados de fisioterapia pode potenciar a ‘Síndrome pós-internamento em cuidados intensivos’, que envolve alterações físicas, cognitivas e psicológicas que afetam gravemente a qualidade de vida.
Em internamento hospitalar, lembrava em junho a Associação, sem cuidados de fisioterapia, pode verificar-se, logo nos primeiros sete dias, a perda de cerca de 20% da massa muscular da pessoa, levando a situações graves de fraqueza muscular, fadiga, rigidez articular e perda de funcionalidade.