Estudo revela que as mulheres atingem menos cargos de topo na medicina cardiovascular em Portugal

No que diz respeito à investigação científica, de acordo com o estudo, as diferenças de género são menos significativas em Portugal comparativamente com dados Europeus, com cerca de 50% das primeiras autorias dos artigos originais publicados na Revista Portuguesa de Cardiologia por mulheres. Contudo, relativamente à posição sénior das autorias, os dados são muito mais desfavoráveis comparativamente com as outras revistas, traduzindo o conhecido efeito de Glass Ceiling, com números reduzidos de mulheres em cargos de topo na medicina cardiovascular em Portugal.
Para Ana Teresa Timóteo, também Secretária-Geral da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, a solução passará por uma mudança de política organizacional, mas também de uma modificação da perceção do papel da mulher na área da medicina.
Este fenómeno é suportado por estereótipos conscientes ou inconscientes de incompatibilidade entre vida pessoal/familiar e profissional, falta de políticas organizacionais de apoio ao balanço entre o esforço profissional e pessoal, falta de mentores ou role models para as mulheres com interesse em progressão na carreira e uma escassez de conexões que facilitem esse acesso a mulheres. Com efeito, podem-se apontar fatores socioeconómicos, culturais, religiosos, ambientais, entre outros, que condicionaram durante décadas, o acesso das mulheres a muitas áreas profissionais e a cargos de responsabilidade, mas esta situação tem sido progressivamente alterada nos últimos anos, nos países desenvolvidos.
Uma análise prévia internacional de dados dos últimos 20 anos encontrou apenas 16,5% e 9,1% de mulheres como primeira autora e autora sénior, respetivamente. Em 2016, último ano analisado, encontraram 21% como primeiras autoras e 12% como sénior, valores estes substancialmente inferiores quando comparados com jornais de elevado fator de impacto em outras áreas da medicina. Durante o período de análise, confirmou-se a tendência crescente nas autorias femininas, com incremento de 9,5% e 6,6%.
Quando comparado com o global das revistas internacionais, temos valores muito mais expressivos na Revista Portuguesa de Cardiologia de mulheres em artigos originais e de revisão, sobretudo no respeitante à primeira autoria. Estes resultados mostram claramente uma maior representatividade feminina na cardiologia portuguesa. Mesmo comparativamente com as revistas com base europeia, a melhor representatividade em Portugal é notória.