Estudo integrou projeto dedicado à criação de metodologias de formação para professores universitários

Estudo da Atlântica revela que 82% dos docentes não se sentem preparados para educação inclusiva

O caminho a percorrer no sentido de uma educação superior acessível a todos ainda é longo, mas o futuro é promissor. Depois de dois anos em desenvolvimento e da participação de mais de 500 docentes na fase piloto, o programa i-HETP (Inclusive Higher Education Training Program) vai ser hoje apresentado pela Atlântica – Instituto Universitário, num simpósio que reúne alguns dos principais nomes da investigação na área do ensino e acessibilidade. Assente na capacitação dos docentes universitários para uma educação mais inclusiva, promovendo a aquisição das competências pedagógicas que não obtiveram na sua formação académica, o projeto conta com financiamento europeu e parceiros em outros seis países: Espanha, Itália, Polónia, República Checa, Roménia e Turquia.

Segundo dados recentes, resultado das informações recolhidas por David Sotto-Mayor Machado – docente e investigador na Atlântica, e coordenador do i-HETP – e pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (2022), estavam inscritos no ensino superior português, no ano letivo de 2021/2022, 2.779 estudantes com deficiência. Não obstante o aumento face ao ano anterior – mais sete por cento – e a redução dos casos de abandono escolar – menos 20 por cento –, estes alunos enfrentam, ainda, barreiras significativas, exacerbadas por uma lacuna na formação dos professores universitários.

Maioria dos docentes assume necessidade de formação

É consensual. A necessidade de formação complementar no âmbito do apoio a estudantes com deficiência na sala de aula foi expressa por quase 82 por cento dos docentes, com 78 por cento a evidenciar esta mesma necessidade para o ensino à distância. Mais de metade (55 por cento) revelou, inclusivamente, sentir-se desafiado pela atual experiência de ensino a alunos com necessidades educativas especiais (NEE), e apenas 41 por cento considera que as suas instituições compreendem a importância de garantir as competências pedagógicas necessárias a uma educação mais inclusiva.

Apesar de só 32 por cento dos inquiridos afirmar que já recebeu formação neste âmbito, verifica-se um desejo generalizado de mudança. A esmagadora maioria (cerca de 94 por cento) concorda com a relevância de adaptar os métodos de ensino para que se tornem acessíveis a todos, destacando ainda o interesse em compreender as especificidades de cada deficiência e de criar um ambiente de sala de aula inclusivo. A importância de uma formação holística, que aborde tanto estratégias de ensino gerais como desafios específicos relativos à inclusão, foi uma das principais conclusões do estudo.

O inquérito, realizado em março de 2023, integrou o processo de avaliação de necessidades do projeto, contando com respostas de 452 professores universitários dos sete países parceiros. No seguimento do contributo da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) para a disseminação do questionário, uma porção significativa dos inquiridos (297) exerce funções em Portugal.

Movido pela vontade de desenvolver uma resposta integrada a estas necessidades, David Sotto-Mayor Machado revela que parte da inspiração para o i-HETP partiu da experiência pessoal: “Enquanto estudava, sofri uma lesão cerebral que resultou em algumas limitações, nomeadamente a nível da leitura e da escrita. Apesar do apoio que recebi da Atlântica, senti, face aos desafios que encontrei, a necessidade de procurar perceber o panorama da educação superior inclusiva”. A tese de mestrado e outros trabalhos de investigação sobre o tema “evidenciaram a urgência de preparar o corpo docente e não docente para acolher estudantes com NEE”.

O programa surgiu com o objetivo de suprir esta lacuna, conclui o responsável: “Queremos dotar os professores universitários e pessoal não docente de ferramentas e metodologias de ensino inclusivas. O foco do projeto não está na criação de soluções tecnológicas, como estudos anteriores que desenvolvi, mas na formação em boas práticas que promovam a inclusão plena dos estudantes com NEE em todas as dimensões da vida académica, incluindo a dimensão social”.

Programa de formação já está disponível online

A realização do inquérito e de focus groups em todos os países parceiros revelou-se fundamental para o desenvolvimento de um currículo completo, que assegure um ambiente de ensino inclusivo e a possibilidade de participar ativamente na vida académica, independentemente das necessidades específicas dos estudantes. O i-HETP disponibiliza sete módulos autónomos, que abordam diferentes dimensões de uma educação inclusiva. Além de uma introdução à pedagogia e acessibilidade digital, o programa inclui uma componente dedicada ao Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA), assim como módulos orientados para diversos tipos de deficiência – visual, auditiva e/ou de fala, física, intelectual e outras deficiências.

Terminada a fase piloto do projeto, que contou com 504 participantes de oito países e registou quase 26 mil visitantes únicos no domínio oficial, os diferentes módulos do i-HETP estão disponíveis em ihetp.org/pt, na página “Plataforma de Aprendizagem”. A flexibilidade é uma das características distintivas do programa, possibilitando que cada participante personalize a sua trajetória de aprendizagem e adapte a formação ao seu ritmo e disponibilidade horária. Com o projeto implementado, David Sotto-Mayor Machado espera “contribuir para a construção de um sistema de ensino que garanta às pessoas com deficiência a possibilidade de exercerem funções e cargos que se acreditava e fazia crer que eram incapazes de assumir”.

Fonte: 
Atlântica – Instituto Universitário
Nota: 
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Foto: 
Atlântica – Instituto Universitário