Em Portugal sabe-se pouco sobre as funções do rim e sobre os fatores de risco para a doença renal crónica
Um desconhecimento que Edgar Almeida, presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, atribui à falta de literacia em saúde, que continua a ser uma constante para muitos portugueses. “Estes dados mostram que há necessidade de se aumentar a literacia em saúde, mas ela não é isolada, deve estar incluída na educação global, que tem de ser implementada para que possamos ter resultados. Mas atenção, que estes nunca serão imediatos, é uma ação a médio e longo prazo, mas vale a pena começar. Até porque a nossa população está a envelhecer, os fatores de risco aumentam com a idade e o grupo de pessoas com doença renal que atingem a fase em que são necessários tratamentos substitutivos aumenta bastante.”
Ainda de acordo com os resultados do inquérito, os problemas cardíacos, como insuficiência cardíaca ou enfarte, não são identificados como fator de risco da doença renal crónica por 21,8% dos inquiridos, com 33,5% a admitir não saber a resposta. Ao todo, 45% não sabem ou respondem de forma errada quando questionados sobre se as doenças cardiovasculares são uma consequência desta doença, ainda que os inquiridos com história de problemas renais ou história familiar para esta doença revelem um nível de conhecimento superior.
Edgar Almeida explica que “os fatores de risco para a doença renal crónica são muito semelhantes aos fatores de risco para as doenças cardiovasculares no geral. Ou seja, as pessoas que são obesas, hipertensas, os diabéticos, as pessoas que fumam, com um elevado consumo de sal na alimentação, também estão em risco de doença renal”. O que significa que “se fizermos tudo para termos hábitos de vida saudáveis estamos a proteger também o rim. No entanto, porque esta é uma doença muito vaga, surge a questão: quando é que as pessoas se têm que preocupar com isto? As pessoas têm que se preocupar em ter os chamados estilos de vida saudáveis, mas são os profissionais de saúde que têm de estar alerta para o diagnóstico da doença renal crónica. E a nossa missão não é só dirigida à população geral, mas também aos médicos, que podem detetar precocemente esta patologia, sobretudo quando as pessoas têm os fatores de risco referidos”.
De acordo com o especialista, a doença renal crónica tem duas fases distintas: “uma fase até ao início do tratamento substitutivo renal, em que as pessoas são acompanhadas nas consultas; e uma segunda fase, em que as pessoas têm necessidade de fazer hemodiálise, diálise peritoneal, transplante”. Nesta situação estima-se que, em Portugal, se encontrem aproximadamente 20 mil pessoas, às quais se juntam “6,1% da população que se estima esteja na fase dita pré-diálise, ou seja, com uma doença moderada a severa”. O que significa que a doença renal crónica “é importante, embora passe despercebida e terá uma dimensão que não fica muito aquém, infelizmente, da diabetes como doença crónica”.
E tudo isto com um grande impacto. “Felizmente, o tratamento é integralmente suportado pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), existindo um grande impacto económico para o País. Mas além desse custo, com o qual todos nós contribuintes nos devemos preocupar, porque o dinheiro podia ser usado para outras coisas, há outro impacto, que se sente na vida das pessoas, que se altera de forma significativa. A hemodiálise costuma ser feita durante quatro horas, três vezes por semana, num centro de diálise, o que torna as pessoas limitadas na sua mobilidade e isto é muito limitativo para quem quer ser autónomo.”
Precisamente com o intuito de alertar a população para a importância de reconhecer e não desvalorizar os sintomas da doença renal crónica, tentando assim chegar a um diagnóstico precoce e que permita um tratamento da doença menos limitativo, a Associação Portuguesa de Insuficientes Renais, a Sociedade Portuguesa de Nefrologia e a AstraZeneca, uniram-se para lançar a campanha #SemFiltros, uma alusão ao papel dos rins no organismo que, entre outras, têm a função de filtrar o sangue.