Daiichi-Sankyo divulga primeiros dados em Portugal sobre intolerência às estatinas
Esta subanálise incluiu 11.771 mil doentes, com elevado risco ou história documentada de doença cardiovascular, acompanhados nos Cuidados de Saúde Primários e a nível hospitalar. Verificou-se que 10,5% dessa população é intolerante às estatinas, sendo a maioria dos indivíduos identificada nos Cuidados de Saúde Primários.
A população intolerante às estatinas apresentava uma idade média de 73 anos, um nível de c-LDL de 103mg/dL e 43,6% eram mulheres. Dos fatores de risco cardiovascular identificados destacam-se a hipertensão (92,3%), a diabetes mellitus (62,1%), e ainda os fumadores (11,6%).
O tratamento com ácido bempedóico, nesta população, tem vindo a demonstrar diversos benefícios e foi associado à diminuição de 13% do risco de eventos cardiovasculares adversos major – morte por causas cardiovasculares, enfarte do miocárdio não fatal, acidente vascular cerebral não fatal ou revascularização coronária.
O ácido bempedóico demonstrou, igualmente, ser bem tolerado e eficaz na redução no c-LDL em combinação com outras terapêuticas hipolipemiantes, como estatinas e ezetimiba, em doentes de alto e muito alto risco cardiovascular que não conseguem atingir os seus valores-alvo.
O estudo PORTRAYT-DYS é um estudo observacional transversal que tem como objetivo caracterizar o controlo do c-LDL nas categorias de maior risco cardiovascular, incluindo pessoas com alto e muito alto risco. O estudo incluiu os registos clínicos eletrónicos de cerca de 137.000 doentes, seguidos na Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM), de 2000 a 2020.
Foi possível concluir que existe uma lacuna alarmante entre as orientações atuais para o controlo do c-LDL e a implementação clínica. Uma proporção significativa de doentes de alto e muito alto risco cardiovascular nunca recebeu qualquer prescrição de terapêutica hipolipemiante. Apesar da disponibilidade de várias opções eficazes, a sua utilização mais alargada em populações de maior risco é um fator crítico para a prevenção de futuros eventos cardiovasculares.
Apesar do elevado risco cardiovascular dos doentes incluídos na análise, verificou-se existir um muito baixo nível de controlo do c-LDL. De acordo com as recomendações da ESC 2019, apenas 7% dos doentes de alto risco, 3% dos doentes com risco equivalente de doença aterosclerótica estabelecida e 7% dos doentes com doença aterosclerótica estabelecida, estavam dentro dos valores-alvo. De forma ainda mais preocupante, 15% daqueles com doença aterosclerótica estabelecida não faziam qualquer terapêutica hipolipemiante.
A diferença entre sexos na obtenção dos valores-alvo é outro aspeto que merece destaque. O estudo PORTRAIT-DYS demonstrou que as mulheres têm 22% menor probabilidade de atingir os valores-alvos. Este resultado reforça a necessidade de uma reflexão profunda sobre a razão desta diferença: as mulheres recebem menos vezes terapêuticas hipolipemiantes de elevada intensidade, aderem menos à terapêutica com estatinas e descontinuam mais frequentemente por efeitos laterais, pelo que é necessário ponderar terapêuticas hipolipemiantes adicionais e/ou alternativas e melhorar a adesão terapêutica.
Este estudo aporta informação adicional sobre o controlo da dislipidemia em Portugal nos grupos de maior risco e nas mulheres, e deve levar a uma mudança de atitude na agressividade do tratamento deste fator de risco, nomeadamente através da intensificação das terapêuticas de combinação.
O Estudo PORTRAIT-DYS conta já com quatro subanálises que permitiram analisar fatores relevantes no que diz respeito ao controlo e gestão do c-LDL, tais como as “Diferenças entre sexos no controlo do c-LDL” ou ainda a “Gestão lipídica na pré-diabetes e diabetes.”
Os dados da subanálise agora divulgada, são inéditos e marcam a ordem do dia, uma vez que a diminuição do c-LDL em doentes intolerantes às estatinas representa um desafio na prática clínica.