Curso MIND quer dar ferramentas para combater declínio cognitivo associado à doença vascular cerebral

As inscrições ainda estão abertas para esta formação onde o principal mote será abordar as intervenções não farmacológicas para prevenção do declínio cognitivo associado à doença vascular cerebral.
O coordenador do curso, Vítor Tedim Cruz, explica que “o declínio cognitivo que resulta da doença vascular cerebral é um dos principais problemas de saúde da população portuguesa adulta”, embora seja uma situação que “pode ser alvo de prevenção através da correção precoce dos fatores de risco vascular nas populações em risco”. “O que acontece no terreno é que as estratégias de prevenção atuando em múltiplos fatores de risco são de difícil implementação em grandes grupos e no âmbito da comunidade”, acrescenta o investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
É neste cenário que faz todo o sentido dar a conhecer iniciativas como o projeto MIND - Multiple Interventions to Prevent Cognitive Decline - a funcionar ainda numa fase piloto no ACES Porto Ocidental e no Município de Matosinhos - “que procura capacitar equipas locais para a disseminação de boas práticas no âmbito da prevenção vascular”, capacitando os profissionais no terreno com “ferramentas de intervenção que possam ser utilizadas ao nível dos cuidados primários e da comunidade, desde as fases precoces de perceção de risco acrescido”.
Pretende-se, nesta iniciativa, “que os profissionais aprendam a reconhecer indivíduos em risco de declínio cognitivo por doença vascular cerebral e, simultaneamente, organizar equipas locais que facilitem intervenções em múltiplos fatores de risco em simultâneo, nomeadamente a cognição, a nutrição, a atividade física e a perda auditiva”, esclarece o investigador.
Com este curso, os formandos – profissionais de instituições envolvidos nos cuidados à pessoa em risco de desenvolver alterações cognitivas – aprenderão a desenvolver planos multidisciplinares que visem a prevenção de declínio cognitivo, envolvendo diferentes dimensões (treino cognitivo, o exercício físico e a educação alimentar) para que sejam capazes de de implementar planos de monitorização a longo prazo e de replicar a metodologia do projeto MIND através de projetos de iniciativa local.
O programa do curso está dividido em três módulos, com o primeiro a fazer a apresentação da pertinência do projeto MIND, reforçando os principais fatores de risco de demência vascular, a importância da implementação de estratégias não farmacológicas e a apresentação dos resultados já disponíveis da implementação do projeto piloto.
O segundo módulo aborda a intervenção multidisciplinar para a prevenção do declínio cognitivo, desde as estratégias de treino cognitivo, passando pelo exercício físico e pela educação alimentar.
No terceiro e último módulo falar-se-á da monitorização dos défices cognitivos, com especial enfoque na monitorização cognitiva online Brain on Track.
Tal como todo o congresso, também o Curso MIND tem o formato totalmente digital o que, na opinião do coordenador da formação, garante uma “enorme acessibilidade a formação de qualidade desde qualquer local do continente, ilhas e comunidades lusófonas”. Permite também que, a partir desses diversos locais, os formandos possam “tirar dúvidas sobre as dificuldades de implementação, as estratégias de adesão, a construção de materiais, entre outros, com profissionais especializados em cada uma das áreas de intervenção, dos vários parceiros do projeto” e igualmente tirar “dúvidas sobre a adaptação de projetos deste tipo ao atual contexto de pandemia”.
O Curso conta com o apoio da Boehringer Ingelheim.
O projeto MIND
“Ao contrário do que por vezes é veiculado, não é fácil ser bem-sucedido na implementação de estratégias de prevenção em larga escala. A atual incidência de AVC e de demência vascular na população portuguesa são a constatação dessa dificuldade”, reconhece o Prof. Doutor Vítor Tedim Cruz. Um cenário ao qual se soma a evidência de que “os médicos e a população têm conhecimento dos comportamentos de vida saudável, mas têm dificuldade muitas vezes em se apropriar deles e os implementar de forma continuada ao longo das suas vidas”.
O projeto MIND é uma ferramenta nesse processo, procurando implementar ao nível da comunidade os principais comportamentos que podem ajudar a prevenir o defeito cognitivo futuro.
O ACES Porto Ocidental já tem alguns resultados preliminares da implementação desta estratégia. Foram seguidos pelo agrupamento 46 utentes, 83% deles eram idosos e 91% reformados. A grande maioria eram mulheres (72%), sendo que 9% dos utentes seguidos apresentou-se com sintomatologia ansiosa, 7% com sintomatologia depressiva e um em cada dois participantes apresentava alterações auditivas.
Foram organizadas 210 sessões que passaram por aulas de ginástica em grupo com um professor, por treinos de memória através da resolução de exercícios para estimulação cerebral e por sessões de avaliação nutricional e sessões de culinária para dar noções de alimentação saudável. Afinal, 94 % dos participantes reportou não seguir a dieta mediterrânea e cerca de metade tinha excesso de peso e hipertensão.
Houve uma adesão de 86% dos participantes nas diferentes sessões, sendo que três em cada quatro consideraram que estas eram divertidas ou muito divertidas.
15.º Congresso Português do AVC
O 15.º Congresso Português do AVC irá decorrer entre os dias 4 e 6 de fevereiro e, pela primeira vez, decorrerá em formato totalmente virtual. Contudo, as circunstâncias ditadas pela pandemia causada pelo novo coronavírus não vão alterar o formato que tem feito deste evento dedicado ao AVC um sucesso entre médicos, enfermeiros e outros profissionais de Saúde. Assim, “também nesta edição digital todo o programa científico decorrerá numa única sala de transmissão através de plataforma própria para o Congresso, com a virtualização de cenários e transmissão em tempo real de todo o congresso”, lê-se na mensagem de boas vindas do Prof. Doutor Castro Lopes, presidente do congresso.
Este formato permitirá ainda a visualização de conteúdos on demand, após o evento.
Podem ser consultadas todas as informações sobre o congresso na página www.spavc.org/pt/actividades/15-congresso-portugues-do-avc.