Estudo do Politécnico de Coimbra

Consumir sal de sarcocórnia (sal verde) pode diminuir os riscos cardiovasculares

A utilização de sarcocórnia – uma planta que se encontra nas zonas costeiras portuguesas, semelhante à salicórnia – como alternativa ao sal tem um impacto positivo na regulação do sistema cardiovascular, mostra um estudo realizado em colaboração entre a Escola Superior de Tecnologia da Saúde (ESTeSC-IPC) e a Escola Superior Agrária (ESAC-IPC) do Politécnico de Coimbra e publicado na revista Foods. A investigação aponta para uma diminuição da pressão arterial (pressão sistólica e diastólica) e da velocidade da onda de pulso arterial (um dos principais marcadores de risco cardiovascular), acompanhada de uma diminuição significativa dos níveis de excreção de sódio através da urina, após 30 dias de consumo regular de sarcocórnia em substituição do sal.

“As doenças cardiovasculares constituem uma das principais causas de morte e incapacidade em todo o mundo e a ingestão excessiva de sal está fortemente associada a níveis elevados de pressão arterial, a disfunção vascular e a um incremento substancial

no risco de doenças cardiovasculares”, descreve Telmo Pereira, docente da ESTeSC-IPC e investigador responsável pelo estudo “Randomized Pilot Study on the Effects of Sarcocornia as a Salt Substitute in Arterial Blood Pressure and Vascular Function in Healthy Young Adults”. O consumo de sal acima dos limites recomendados (a Organização Mundial de Saúde recomenda a ingestão máxima diária de 5 gramas, mas estima-se que, na maior parte dos países, o consumo ronde as 9 a 12 gramas/dia) é responsável por cerca de 9,5 por cento das mortes por causas cardiovasculares em todo o mundo e 17,8 por cento das mortes prematuras por causas cardiovasculares.

“Por ter um sabor salgado e ser rica em minerais como cálcio, ferro e também magnésio e potássio (que favorecem a excreção salina), a sarcocórnia parece ser uma excelente alternativa ao sal comum, pelo que nos propusemos a avaliar o impacto do seu consumo no sistema cardiovascular”, explica o investigador. Esta planta faz parte da flora natural portuguesa e cresce abundantemente nas zonas costeiras.

O estudo reuniu uma amostra de 30 participantes (jovens saudáveis, com idades entre os 18 e os 26 anos), que foram divididos em dois grupos: um dos grupos (grupo de intervenção) recebeu 1000 gramas de sal de sarcocórnia para utilizar na confeção das suas refeições, enquanto que o outro grupo (grupo de controlo) recebeu 1000 gramas de sal comum.

Ambos os grupos realizaram exames de diagnóstico (medição da pressão arterial, avaliação da velocidade da onda de pulso, análise da onda de pulso, ultrassonografia cardíaca e análises sanguíneas e de urina) antes do período de intervenção, não se registando diferenças significativas relativamente aos resultados obtidos por todos os participantes. Porém, após 30 dias de utilização de sal de sarcocórnia, o grupo de intervenção registou uma redução nos níveis de excreção de sódio através da urina, acompanhada de uma diminuição significativa da pressão sistólica e diastólica e da velocidade da onda de pulso arterial. No grupo de controlo, os resultados mantiveram-se inalterados face aos primeiros exames.

“Este estudo traz resultados positivos a favor da sarcocórnia como substituto dietético do sal comum”, assume Telmo Pereira, frisando, no entanto, que se trata ainda de um ensaio piloto. Os resultados vão ao encontro de investigações anteriores, realizadas, sobretudo, em experimentação animal, mas não devem ser extrapolados. “É preciso estudar outros contextos clínicos, nomeadamente crianças e adultos com fatores de risco como diabetes ou colesterol, e populações mais alargadas e com tempos de seguimento mais longos”, adverte o investigador.

Fonte: 
Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Politécnico de Coimbra (ESTeSC-IPC)
Nota: 
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Foto: 
Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Politécnico de Coimbra (ESTeSC-IPC)