Conselho Português para a Saúde e Ambiente e Entrajuda lança projeto que dá nova vida plástico hospitalar esterilizado
O projeto, denominado Second Chance, enquadra-se no conceito de Economia Circular e partiu de uma iniciativa do vice-presidente do CPSA, João Queiroz e Melo. O plástico recuperado neste projeto já foi utilizado para fabricar pastas para reuniões científicas, fitas identificadoras para congressos, um protótipo de anorak para viajantes e durante a Jornada Mundial da Juventude 2023, em Lisboa, foi usado para produzir mais de 1000 toalhas que cobriram as mesas da comunhão. A preparação/confeção das toalhas e dos panos foi feita por voluntários envolvendo instituições sociais parceiras da associação Entrajuda. Outras formas de reutilização deste material são a produção de mantas, resguardos, sacos, camisolas, almofadas, ponchos e outros objetos.
A entusiástica colaboração destes hospitais permitiu que o projeto Second Chance recolhesse duas toneladas deste plástico ao longo dos primeiros seis meses, que está a ser transformado em pellets (bolinhas de plástico de menos de 5 mm de diâmetro usadas na produção de produtos de plástico). O CPSA estima que o conjunto dos hospitais públicos e privados em Portugal seja responsável por lançar ao lixo mais de 100 toneladas deste plástico, anualmente, com consequências ao nível do aumento do desperdício, da poluição e dos custos inerentes à recolha e eliminação deste material, que é geralmente descontaminado por autoclavagem e vai para aterro.
O setor da saúde é responsável, em Portugal, por cerca de 4,8% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e por uma considerável quantidade de resíduos. Seria necessário plantar mais de 168 milhões de árvores para retirar este dióxido de carbono da atmosfera.
O CPSA defende que a redução desta pegada ecológica exige uma estratégia nacional, a elaboração e implementação de normas de sustentabilidade ambiental a todos os níveis, a promoção da telemedicina e cuidados de proximidade, como forma de reduzir os trajetos das pessoas. E ainda a inclusão de critérios de emissões líquidas de GEE nulas nas compras, contratações e adjudicações públicas, a existência de um Serviço de Sustentabilidade Ambiental em cada hospital, a certificação de “Green Hospitals”, a medição e publicação anual da pegada carbónica de todas as organizações de saúde públicas e privadas e a definição de metas claras para o sistema de saúde que visem zero emissões em 2035 em tudo o que dependa diretamente do sistema de saúde e em 2040 para o que dependa indiretamente.
"Um dos obstáculos à redução desta pegada ecológica é a existência de legislação antiga e não concordante com as diretivas atuais da União Europeia, como é a legislação portuguesa relativa aos resíduos hospitalares. A proibição da reutilização de dispositivos médicos de uso único certificados e o destino dos corto-perfurantes, como agulhas, que são lançadas pelos doentes diretamente no lixo comum, são também entraves", revela-se em comunicado.
E acrescenta-se: "a lei dos resíduos hospitalares é também um obstáculo para que as fábricas portuguesas produtoras de plástico consigam atingir a meta de 30% de plástico reciclado até 2030, para cumprirem diretivas europeias. O sector da saúde é responsável por cerca de 5% das compras de plástico a nível nacional".
Reduzir a utilização de plástico, reusar e reciclar devem ser uma prioridade, uma vez que os microplásticos têm também um efeito nocivo na saúde humana e já são detetados em 75% dos peixes que comemos, esclarecem as duas entidades.
Por isso, "o Conselho Português para a Saúde e Ambiente apela aos decisores políticos para que levem a cabo uma urgente revisão desta lei de resíduos hospitalares e de outras leis que são um obstáculo à sustentabilidade ambiental do sector da saúde".