Cerca de um terço das pessoas com Diabetes têm também Insuficiência Cardíaca
“A diabetes e a IC ocorrem frequentemente em conjunto e a presença de cada uma delas em associação aumenta o risco absoluto da outra. Em comparação com as pessoas sem diabetes, a presença da doença duplica o risco de IC no homem, e quadruplica o risco na mulher. Quanto mais avançada a idade, maior a possibilidade de uma pessoa com diabetes vir a ter insuficiência cardíaca.”, alerta Pedro Matos, cardiologista na APDP.
A IC na diabetes manifesta-se clinicamente de forma variada, alternando entre sintomas inespecíficos, como o cansaço, e outros mais clássicos, como a dispneia e os edemas periféricos. “Na maioria dos casos, o processo de desenvolvimento da IC na diabetes é diferente, não havendo diminuição da contractilidade cardíaca evidenciada pelas técnicas diagnósticas. Por isso, muitas vezes, o diagnóstico é menos óbvio do que nos casos em que a função sistólica cardíaca está comprometida.”, acrescenta.
Nas últimas décadas tem-se assistido a inúmeras transformações no que diz respeito à luta contra a diabetes, tanto no diagnóstico e seguimento, como no tratamento e na utilização das novas tecnologias. “É certo que as transformações das últimas décadas nos têm feito caminhar para uma melhoria do controlo glicémico em pessoas com diabetes. Também na doença cardiovascular, a maior sensibilização da comunidade para os fatores de risco tem contribuído em muito para a redução do número de eventos major.”, avança o especialista.
“No entanto, a crescente melhoria nas abordagens terapêuticas destas complicações levou a que a expressão da doença cardiovascular deixasse de ser predominantemente derivada da doença coronária, passando a estar mais relacionada com a insuficiência cardíaca.”, explica.
Atualmente, existem já várias opções de tratamento com benefício comprovado, sendo crucial apostar no diagnóstico precoce, de forma a realizar uma intervenção atempada. Ainda assim, e apesar de toda a evolução verificada nesta área, em especial nos últimos 10 anos, a prevalência de IC em pessoas com diabetes continua extremamente elevada e com sinais de crescimento.
“Devido a isto, verifica-se um enorme acréscimo de pessoas hospitalizadas por descompensação da IC, um maior recurso aos serviços de urgência e um aumento de pessoas com incapacidade temporária.”, refere.
Depois de muitos anos sem novos fármacos disponíveis para tratar a IC, existe agora uma janela de oportunidade, que poderá permitir modificar o futuro das pessoas que já têm esta complicação. Eventualmente, poderá ser ainda possível mudar o rumo de quem está em significativo risco de a vir a desenvolver.
Ainda assim, a Associação defende a importância de se estar atento aos sinais de alerta para a IC, sendo mais proactivos no diagnóstico precoce e na seleção das estratégias de tratamento. “Talvez assim, possamos todos, profissionais de saúde e pessoas com diabetes, inverter ou estabilizar a progressão desta pandemia de IC na diabetes, que se parece estar a anunciar.”, conclui Pedro Matos.