Células mesenquimais do cordão umbilical podem vir a ser usadas no tratamento de asma grave
Os resultados são de um estudo, recentemente publicado, que teve como objetivo investigar o efeito destas células em pulmões asmáticos, recorrendo a um modelo animal. Este trabalho demostrou que o tratamento com células mesenquimais do tecido do cordão umbilical permitiu reduzir os níveis de células do sistema imunitário que se encontram aumentados em pessoas com asma.
Esta doença crónica inflamatória das vias aéreas afeta cerca de 10% dos cidadãos residentes em Portugal e caracteriza-se pelo estreitamento dos brônquios, do qual resulta a sensação de dificuldade respiratória e pieira. A asma interfere com a qualidade de vida, pode levar a internamentos e até colocar a vida em risco.
Embora existam diversos tratamentos para esta doença, alguns doentes não respondem aos tratamentos convencionais, sendo necessário desenvolver abordagens diferentes para reduzir a inflamação e melhorar a sua qualidade de vida.
“As células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical, que podem ser colhidas de forma não invasiva e em grandes quantidades, apresentam potencial para o tratamento de doenças inflamatórias e exercem efeitos imunomoduladores, atuando diretamente sobre células do sistema imunitário, tendo, por isso, sido testadas neste modelo animal (de asma) no sentido de se investigar o seu potencial para o tratamento de doentes com asma”, sublinha Carla Cardoso, diretora do Departamento de I&D da Crioestaminal.
Durante o estudo, foram comparados dois grupos de animais com asma, um dos quais recebeu uma infusão intravenosa de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical.
No grupo que recebeu a infusão, observou-se uma redução significativa da hiperreatividade brônquica característica da asma e de populações de células inflamatórias no fluido resultante da lavagem broncoalveolar. Além disso, os níveis de citocinas no lavado broncoalveolar, que desempenham um papel importante na fisiopatologia da asma, foram atenuados.
No tecido pulmonar, a proporção de eosinófilos (células do sistema imunitário) foi menor no modelo animal tratado com células estaminais do que no grupo não tratado e a infiltração de células do sistema imunitário nos brônquios e vasos sanguíneos melhoraram no grupo tratado com células mesenquimais.
Também os níveis de infiltração de células inflamatórias e o grau de inflamação nos tecidos analisados foram significativamente reduzidos após a injeção de células mesenquimais, tendo ainda sido atenuada a produção de muco.
Verificou-se ainda que a expressão de uma glicoproteína que se encontra aumentada nos pulmões de doentes com asma foi reduzida no modelo animal após a administração de células estaminais do tecido do cordão umbilical.
Em conjunto, os resultados do estudo mostram que as células mesenquimais do tecido do cordão umbilical podem alterar favoravelmente o estado da inflamação asmática, através da sua ação sobre as células do sistema imunitário, podendo vir a ser usadas no tratamento de doentes com asma grave refratária à terapia convencional.
Para os autores, o potencial terapêutico das células mesenquimais do tecido do cordão umbilical pode ser atribuído à regulação de células do sistema imunitário, mas também à cascata de interações desencadeadas por moléculas libertadas pelas células. Defendem, no entanto, que são necessários mais estudos para que as células mesenquimais do tecido do cordão umbilical possam ser aplicadas em doentes com asma.
Referências:
- Mo Y. et al., Intravenous Mesenchymal Stem Cell Administration Modulates Monocytes/Macrophages and Ameliorates Asthmatic Airway Inflammation in a Murine Asthma Model. Mol Cells. 2022 Nov 30;45(11):833-845. doi: 10.14348/molcells.2022.0038. Epub 2022 Nov 11.
- https://www.fundacaoportuguesadopulmao.org/apoio-ao-doente/asma#137, consultado a 20 de janeiro de 2023