Células estaminais do cordão umbilical promovem recuperação de lesão cerebral provocada por traumatismo craniano
Os traumatismos cranianos constituem uma das principais causas de lesão neurológica em adultos, podendo causar graves sequelas ou, até mesmo, a morte. Após o processo primário de lesão neurológica, que acontece nos primeiros minutos após um traumatismo craniano e é irreversível, segue-se um processo secundário de lesão neurológica, atribuível, em grande parte, à inflamação do cérebro, que ocorre como resposta do organismo para controlar potenciais infeções e reparar as zonas lesadas.
“Embora possa ser inicialmente benéfica, esta resposta inflamatória persistente acaba por agravar a lesão cerebral sofrida”, explica a Dr.ª Bruna Moreira, investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal. “À procura de uma resposta para conter a lesão neurológica decorrente de um traumatismo craniano, vários ensaios clínicos estão a testar novos agentes terapêuticos, entre os quais a aplicação de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical, que se tem destacado pelos seus efeitos anti-inflamatórios e regenerativos, bem como pelo seu perfil de segurança muito favorável”, acrescenta.
O estudo agora publicado pretendeu analisar os mecanismos subjacentes a esse efeito benéfico, incidindo na hipótese de que estas células promovem a regulação da resposta inflamatória que ocorre após um traumatismo craniano.
Os autores começaram por avaliar as diferenças na proporção de células pró- e anti-inflamatórias no sangue de doentes que sofreram traumatismo craniano, relativamente a pessoas saudáveis, e verificaram que nos primeiros havia uma proporção aumentada de células pró-inflamatórias. De seguida, avaliaram, em modelo animal, se a administração de células estaminais do tecido do cordão umbilical poderia repor o equilíbrio entre os dois tipos de células.
Nas suas experiências, descobriram que o tratamento com estas células aumentou a proporção de células anti-inflamatórias. Adicionalmente, o tratamento com células estaminais do cordão umbilical em modelo animal esteve associado a uma redução significativa da gravidade da lesão neurológica e a uma melhor recuperação cognitiva após traumatismo craniano. Ao investigar os mecanismos subjacentes, concluiu-se que, além do seu efeito anti-inflamatório, estas células promovem a regeneração da zona afetada através da estimulação do desenvolvimento de novos neurónios.
Com vista à sua implementação na prática clínica, os autores defendem a realização de ensaios clínicos que avaliem a segurança e eficácia desta estratégia em doentes humanos.