Casos de demência podem duplicar nos próximos 50 anos em Portugal
“Trata-se de um estudo pioneiro das tendências da prevalência de demência em Portugal, que estima o impacto que este grupo de doenças poderá ter no país até 2080”. Os resultados indicam que o número de pessoas que vive com demência deverá escalar nas próximas décadas, sobretudo devido ao envelhecimento acentuado da população Portuguesa. A idade é um dos principais fatores associados ao aparecimento deste tipo de doenças, que inclui, por exemplo, a doença de Alzheimer e demência frontotemporal. Em 2080, num cenário de projeção central, prevê-se que quase 40% da população portuguesa tenha 65 ou mais anos, e destes, metade tenha 80 ou mais anos. Este crescimento dos grupos mais envelhecidos da população, fará aumentar o número de casos de demência. Estima-se que o número de pessoas com esta doença aumente de 222 mil em 2020 para 450 mil em 2080, no cenário de projeção mais elevado. Este número representará quase 5% do total da população portuguesa em 2080, quando terá sido cerca de 2% em 2020.
Para chegarem a esta conclusão, as investigadoras utilizaram taxas de prevalência de demência por idade e sexo, com base em dois critérios de diagnóstico, encontradas noutros estudos realizados em Portugal. Essas taxas foram aplicadas às projeções da população portuguesa até 2080, para diferentes cenários de crescimento populacional. Segundo destacam, “os dados apontam para o peso expressivo nos grupos com idade mais avançada: prevemos que 3 em cada 4 pessoas com demência em 2080 tenha 80 ou mais anos”. O estudo reforça, ainda, que a doença continuará a ser mais frequente nas mulheres.
Note-se que a demência, é a sétima causa de morte e a quarta causa de sofrimento grave relacionado com a saúde a nível mundial. As autoras consideram urgente a concretização dos planos nacional e regionais da saúde para as demências. Sublinham a importância de medidas concertadas para o diagnóstico precoce, bem como para os cuidados a prestar desde o diagnóstico até ao luto, envolvendo doentes e também cuidadores, que incluem familiares e profissionais. “Há muito a fazer em termos de prevenção de fatores de risco modificáveis (sedentarismo, diabetes, hipertensão), aumento da capacidade de diagnóstico, criação de serviços especializados na comunidade, incluindo cuidados de longa duração e cuidados paliativos, capacitação e formação de profissionais e cuidadores para responder aos desafios da doença, aumento de campanhas de sensibilização, e um maior investimento para a investigação nesta área”, afirma Sara Alves. A autora destaca os projetos inovadores do CIDIFAD desenvolvidos no apoio às demências, nomeadamente, na estimulação multissensorial e na capacidade de condução, financiados pela Fundação “la Caixa”, BPI. Destaca ainda a colaboração com centros de investigação da Universidade do Porto, nomeadamente com o centro Porto4Ageing na criação de um Living Lab no CIDIFAD para testar soluções digitais na área da demência, projeto apoiado pelo Interreg España-Portugal.
O artigo científico, disponível para consulta aqui, contou com o apoio do Programa do Centro Operacional Regional Norte de Portugal, integrado no Acordo de Parceria PORTUGAL 2020, que apoia a Santa Casa da Misericórdia de Riba D’Ave; e por fundos nacionais da Fundação para a Ciência e Tecnologia que apoia o CINTESIS@RISE da Universidade do Porto.