Caos no Hospital Garcia de Orta pode agravar-se devido a baixas entre profissionais
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De acordo com Pedro Costa, “as notícias que vieram a público no final da semana passada, nomeadamente com o encerramento atendimento urgente de Ginecologia e Obstetrícia e de Ortotraumatologia, são apenas uma ponta do icebergue”. Há todo um conjunto de lacunas que, frisa o presidente do SE, “estão a comprometer o atendimento e tratamento dos doentes”.
Pedro Costa explica que “dos 76 enfermeiros ao serviço na Urgência do Garcia de Orta, há quatro de baixa por gravidez de risco, dois por COVID-19, três ausentes com licença de maternidade e dois por doença”. “A isto há ainda que juntar os oito colegas com horário flexível por apoio à família, quatro com estatuto de trabalhador-estudante e um com isenção de prestação de serviço em horário noturno”, acrescenta.
“Os serviços estão no limite e qualquer imprevisto pode obrigar ao fecho de serviços”, garante o presidente do SE. Pedro Costa dá o exemplo do Serviço de Observação da Urgência, onde “estão 30 doentes ao cuidado de um único enfermeiro”. “Se um dos doentes descompensar, quem toma conta dos outros 29?”, questiona o dirigente. Que adianta ainda que na Área Dedicada ao Doente Respiratório (ADR) “existem 17 doentes para um enfermeiro, enquanto nos cuidados intermédios do Serviço de Urgência onde deveria existir uma média de quatro doentes para cada enfermeiro e, na realidade, são sete doentes para um só enfermeiro”.
Esta é uma situação que se arrasta já há vários meses e que é agora agravada pelo período de férias. “Mas a solução não pode passar por os enfermeiros abdicarem das suas férias, do seu descanso em família. É fundamental contratar mais enfermeiros, preencher as escalas em vez de contar com a boa vontade dos profissionais de Saúde para suprir as faltas dos colegas”, acrescenta Pedro Costa.
O cenário vivido no Garcia de Orta, no que aos enfermeiros diz respeito, “é de exaustão total, por força da constante realização de trabalho suplementar para enfrentar a escassez de recursos existentes e que resulta da falta de um planeamento estratégico”. Pedro Costa recorda que em dezembro de 2021, 76 enfermeiros do serviço de Urgência Geral efetuaram um pedido de transferência coletiva, o que foi um sinal claro de que tinham sido atingidos todos os limites. “Até aí, a sobrevivência do serviço só foi possível graças às mais de 1600 horas extraordinárias mensais, uma situação que se arrastou durante anos”, revela.
Na passada semana, os profissionais que desempenham as suas funções no hospital de Almada viram-se obrigados a recusar a realização de trabalho suplementar programado “por motivos de cansaço, mas também porque essa era uma medida ilegal”. Pedro Costa recorda que no programa do Governo para a área da Saúde, em 2022, fala-se de “dar continuidade ao processo de reorganização dos serviços de urgência, mas o que constatamos é um agravar da situação em muitos hospitais do Serviço Nacional de Saúde”.
Recorde-se que, também em dezembro do ano passado, 65 enfermeiros do Hospital Garcia da Horta tinham entregado uma Declaração de Exclusão de Responsabilidade, uma vez que a dotação estava claramente desajustada das necessidades, não salvaguardando o exercício da profissão em segurança.
O Sindicato dos Enfermeiros mostra-se solidário com os enfermeiros que trabalham no referido hospital e pede respostas rápidas para a resolução de um problema que se vem prolongando no tempo “com custos para os profissionais e para os doentes que recorrem àquele serviço”.