O que representa um grande desafio para os médicos

68% dos doentes não têm a asma controlada

Muito prevalente, subdiagnosticada e mal controlada, a asma ainda pode ser causa de morte no nosso país. Para aumentar a literacia sobre esta doença, o Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica e a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, embarcam no Autocarro da Asma para esclarecer a comunidade.

Dados recentemente apresentados, provenientes do estudo epidemiológico nacional EpiAsthma, apontam para uma prevalência de 7,1% na população portuguesa, o que significa que cerca de 570.000 portugueses adultos sofrem de ama. De acordo com Cláudia Vicente, “este valor é superior ao que se tinha estimado em 2012 e que rondaria os 6,8%”. As alterações climáticas, a exposição à poluição, as alterações dos padrões polínicos são fatores que, de acordo com a coordenadora do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias (GRESP) da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) podem justificar o aumento da prevalência da doença a nível global.

Contudo, sublinha, “o mais preocupante é a taxa de mau controlo da doença. Cerca de 68% dos doentes asmáticos não têm a doença controlada, o que constitui um desafio para os médicos que diagnosticam e tratam as pessoas com asma”. Para Ana Mendes, representante da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), “a má adesão ao tratamento continua a ser um dos principais fatores de mau controlo da doença e pode acontecer por má perceção dos sintomas. Por vezes, os doentes subestimam a gravidade dos sintomas e/ou os benéficos do tratamento. Além disso, o tratamento a longo prazo pode implicar um compromisso significativo por parte do doente, seja em termos da toma regular dos medicamentos ou de medidas de prevenção”.

Apesar da progressiva redução da mortalidade associada à asma, fruto de uma maior eficácia dos tratamentos disponíveis, esta doença ainda é causa de morte, nomeadamente no nosso país. “Ainda existem casos graves e fatais, muitas vezes relacionados com diagnóstico tardio, subtratamento ou má adesão ao tratamento. A asma não controlada pode levar a exacerbações agudas, crises respiratórias graves e até mesmo à morte, o que torna fundamental a importância contínua da educação, prevenção e tratamento adequado da doença”, acrescenta a imunoalergologista.

Lígia Fernandes, representante da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), lembra que “um doente asmático controlado tem uma vida totalmente normal, como a de um não asmático”. Contudo, uma asma não controlada, com sintomas persistentes (nem sempre tão reconhecidos ou valorizados) e/ou com crises frequentes, traz limitação em todos os domínios da vida, desde as mais simples atividades, em casa, na escola ou no trabalho e com grande perda de qualidade de vida”. O objetivo do tratamento da asma é o alcance do controlo total da doença, ou seja, a ausência de sintomas e de limitações, o que pode ser conseguido com a utilização correta das terapêuticas disponíveis.

De acordo com a pneumologista, “a maioria dos doentes pode e deve ser tratada no âmbito dos Cuidados de Saúde Primários”, porém, “se a doença se torna mais grave, com mau controlo apesar da terapêutica regular, com necessidade de doses elevadas de terapêutica inalada, crises frequentes ou utilização de corticoides sistémicos, necessidade de exames complementares mais diferenciados ou na presença de comorbilidades mais complexas, os doentes asmáticos devem ser encaminhados para consulta hospitalar para seguimento partilhado”.

O Autocarro da Asma

Também à luz dos dados do EpiAsthma, “perto de 30% dos doentes incluídos neste estudo não tinham o diagnóstico codificado e 23% não tinha um diagnóstico prévio ao estudo”, adianta Cláudia Vicente. A falta de literacia em saúde por parte da população, a dificuldade de identificação dos sintomas e a falta de investimento no controlo das doenças respiratórias “como se verificou. por exemplo, na área cardiovascular”, podem, no parecer da especialista em Medicina Geral e Familiar, justificar este cenário.

Essa é uma área em que, tanto o GRESP, como a SPAIC como a SPP têm vindo a investir, quer com a produção de materiais educativos, quer com a realização de campanhas de sensibilização dirigidas à população. É, pois, neste contexto, que as três Sociedades Científicas se juntam para assinalar o Dia Mundial da Asma, numa iniciativa dirigida à comunidade – O Autocarro da Asma.

“A ideia é levar a três cidades de Portugal – Guarda (dia 6 de maio), Figueira da Foz (dia 7 de maio) e Évora (dia 8 de maio), a mensagem sobre o que é a Asma, quais os sintomas, os sinais de alarme e como podemos controlar a doença. Vários médicos destas três especialidades estarão a bordo de autocarros, a fazer o percurso habitual, e a promover estes conhecimentos junto da população/passageiros”, descreve Cláudia Vicente. “Juntos, no terreno, em maior proximidade com a população, conseguiremos fazer chegar esta mensagem a mais doentes. Esta é uma campanha de sensibilização para a doença, para os seus riscos e, principalmente, para alertar os doentes para não aceitarem qualquer limitação e procurarem ajuda”, acrescenta Lígia Fernandes. “A articulação entre as especialidades médicas neste tipo de ações é fundamental para garantir uma abordagem abrangente e multidisciplinar à doença. A colaboração entre pneumologistas, alergologistas e médicos de Medicina Geral e Familiar e outros profissionais de saúde promove uma melhor compreensão da doença”, argumenta Ana Mendes.

 
Fonte: 
Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP)
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP)