Mortalidade infantil, materna e neonatal poderia ser eliminada numa geração
Realizado por alguns dos maiores especialistas mundiais em saúde materna e infantil, o estudo, publicado na revista Lancet, foi apresentado na conferência do Consórcio de Universidades pela Saúde Global, que decorre em São Francisco, EUA.
As medidas em causa vão desde a melhoria dos cuidados na gravidez e no parto, ao tratamento de doenças infeciosas como a pneumonia, a diarreia ou a malária, passando pela melhoria da nutrição infantil, três áreas da saúde que, apesar de terem registado assinaláveis progressos nas últimas décadas, ainda representam milhares de mortes entre mulheres, recém-nascidos e crianças todos os anos.
Segundo o estudo, o número total de mortes maternas desceu 43%, de 532 mil em 1990 para 303 mil em 2015, e a taxa de mortalidade materna diminuiu 44%, de 385 mortes maternas por 100 mil nados vivos em 1990 para 216 por 100 mil nados vivos em 2015.
No entanto, apesar dos progressos, a meta de reduzir a mortalidade materna em 75% até 2015, definido em 2000 nos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) não foi alcançado.
Também na mortalidade infantil, o objetivo de reduzi-la em dois terços até 2015 não foi concretizado, apesar de se ter registado um declínio de 90,4 mortes de crianças com menos de cinco anos por 1000 nados vivos em 1990 para 42,5 por 1000 nados vivos.
Segundo a ONU, apenas 24 dos 82 países de baixo e médio-baixo rendimento alcançaram este objetivo.
Os investigadores, liderados por Robert Black da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, nos EUA, usaram um modelo matemático chamado ‘Instrumento Vidas Salvas’ para estudar o potencial impacto no número de mortes e os custos de generalizar 66 intervenções chave em 74 países de baixo e médio rendimento que, juntos, representam mais de 95% de todas as mortes maternas e infantis.
No estudo agora apresentado, os cientistas estimaram o número de mortes que poderiam ser evitadas com intervenções essenciais individualmente e agrupadas em três pacotes: saúde reprodutiva, saúde materna e neonatal e saúde infantil.
A medida com maior efeito no pacote da saúde reprodutiva seria alargar os serviços de contraceção a 90% das necessidades por cobrir atualmente, o que teria evitado quase 28 milhões de nascimentos indesejados em 2015.
Esta redução, por seu lado, levaria a evitar 67 mil mortes maternas, 440 mil mortes neonatais e 473 mil mortes infantis, assim como 564 mil nados-mortos.
Como metade das gravidezes não desejadas resultam em aborto, esta medida reduziria também em milhares o número de abortos, muitos dos quais teriam sido realizados sem segurança, estimam os investigadores.
Em alternativa, alargar a 90% a cobertura de todas as medidas previstas nos outros dois pacotes - saúde materna e neonatal e saúde infantil - permitiria salvar quatro milhões de vidas por ano, o equivalente a metade de todas as mortes maternas, neonatais e infantis no mundo, e um terço de todos os nados-mortos.
Entre as intervenções mais eficazes nestes dois pacotes, contam-se a melhoria da gestão da gravidez e do parto, os cuidados dos bebés prematuros e o tratamento de doenças infeciosas e da malnutrição aguda.
Apesar da dimensão do problema, os autores estimam todas as medidas previstas poderiam ser alargadas a quase todas as pessoas que delas necessitam com um investimento de 6,2 mil milhões de dólares (5,4 mil milhões de euros) nos países de baixo rendimento, 12,4 mil milhões de dólares (10,8 mil milhões de euros) em países de médio-baixo rendimento e oito mil milhões de dólares (sete mil milhões de euros) em países de médio-alto rendimento.
Isto equivale a 4,7 dólares (4,1 euros) anuais por pessoa, concluem os autores do estudo, estimando que os custos pudessem aumentar ligeiramente até 2035, como reflexo dos aumentos populacionais.
Os cientistas sublinham ainda que a maioria destas intervenções poderia ser concretizada por trabalhadores comunitários, e centros de saúde, que juntos poderiam prevenir quase três quartos das mortes maternas, neonatais e infantis.