Especialista diz

Imuno-oncologia já apresenta "benefícios muito comprovados"

A oncologista médica Ana Castro, do Centro Hospitalar do Porto, destacou que a imuno-oncologia já tem “benefícios muito comprovados”, em vários tipos de cancro, e defendeu o acesso precoce dos doentes a estas terapêuticas.

“A imuno-oncologia é um conceito um bocadinho diferente do que tínhamos até agora. Antes, tínhamos tratamentos dirigidos ao tumor, mas na inumo-oncologia treinamos o sistema imunitário para responder ao tumor, ou seja, são as nossas células T que vão ser os ‘soldados’ que matam as células tumorais”, explicou.

Trata-se de “um princípio que, em si só, é muito atrativo”, até porque a imuno-oncologia é menos agressiva do que as terapêuticas tradicionais, como as que recorrem aos quimioterápicos, e já tem resultados muito positivos, referiu.

“Temos áreas com benefícios muito comprovados”, frisou Ana Castro, que falava à margem da 12.ª edição dos Encontros da Primavera, um congresso especializado em oncologia que está a decorrer em Évora até sábado.

A imunoterapia, que inclui a inumo-oncologia, foi o tema de um dos cursos pré-congresso realizados hoje, ao longo do dia.

Em declarações, Ana Castro considerou que a oncologia como existe até agora deverá “deixar de fazer sentido no futuro”, graças aos avanços na imuno-oncologia, que pode passar a ser “o backbone (espinha dorsal)” da atuação oncológica.

A investigadora destacou que, todos os dias, surge inovação nesta área, exemplificando que, na quarta-feira, as autoridades europeias aprovaram a utilização do “nivolumab”, uma nova terapêutica de imuno-oncologia para o cancro do rim com metástases.

“Foi uma das aprovações mais rápidas a que assistimos nos últimos tempos. Isto prende-se com o facto de, nos ensaios clínicos, comparados com a terapêutica que tínhamos disponível, termos conseguido observar um ganho em termos de sobrevivência global mediana de 12 meses”, congratulou-se.

Em Portugal, revelou, existem doentes com cancro do rim em tratamento com esta terapêutica, por uso compassivo: “Na minha instituição, temos oito doentes em tratamento, mas em Portugal acredito que até haja mais. Os resultados clínicos foram tão bons que, antes da aprovação, o laboratório disponibilizou” a terapêutica, caso “as instituições pedissem”.

O rápido acesso a estes novos fármacos é importante para que os doentes possam ter ganhos de sobrevivência e de qualidade de vida, disse, defendendo a importância dos Programas de Acesso Precoce (PAP) para estas terapêuticas: “Já vamos tendo vários PAP para a imunoterapia, mas ainda um bocadinho aquém daquilo que gostaríamos”.

Segundo a médica, “tão importante como a negociação dos preços”, por parte das autoridades nacionais, “é garantir que os doentes tenham acesso” a estas terapêuticas inovadoras.

“Os recursos são finitos e não sabemos ainda quais são ou serão os preços destas terapêuticas. Seguramente, serão dispendiosas, mas, se calhar, é importante que quem regulamenta esta área pense que é fundamental termos os PAP até a avaliação e as negociações estarem concluídas, porque não é legítimo deixar os doentes por tratar”, argumentou.

No curso, também João Paulo Cruz, gestor do medicamento no Hospital de Santa Maria, abordou as mais-valias da imuno-oncologia, referindo que “pode ser interessante” para atuar em vários tipos de cancro, mas “não é a panaceia para todos os cancros”.

Por outro lado, estes fármacos “vêm com preços quase proibitivos”, o que levanta o desafio de “como é que nos hospitais se acomoda esta despesa”, disse, frisando: ”Acima dos hospitais estão a tutela, os governos e as agências reguladoras, que, muitas vezes, deviam ter um papel mais atuante”, mas ao invés disso deixam aos hospitais “quase todo o ónus” de decisão.

Nos Encontros da Primavera, que juntam mais de mil profissionais de saúde especializados em oncologia, são analisadas e debatidas as mais recentes inovações científicas nesta área médica.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock