Cientistas criam lente de contacto que diminui progressão da miopia
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As lentes convencionais corrigem apenas a visão central, o que não evita o aumento do tamanho do olho e da miopia, mas esta lente inovadora pode abrandar este crescimento ao atuar também na visão periférica.
"A miopia moderada e alta, que tem maior impacto na saúde visual, inicia em geral entre os 5 e 10 anos de idade, progride fortemente até aos 16 e depois tende a desacelerar. A nova lente de contacto pode permitir uma mudança no final deste processo entre três e cinco dioptrias a menos", explica, em comunicado, José Manuel González-Méijome, diretor do Laboratório de Investigação em Optometria Clínica e Experimental (CEORLab) do Centro de Física da UMinho, que coordenou os ensaios em Portugal.
A investigação clínica, que envolveu 100 pacientes durante dois anos, foi distinguida num congresso dos Estados Unidos e saiu em revistas internacionais, incluindo uma revisão dos estudos do CEORLab na “Eye & Contact Lenses” (EUA). O “segredo” para a nova lente progressiva hidrofílica controlar a progressão da miopia, escreve o Sapo, poderá estar na imagem que se forma nas áreas laterais da retina, continua José Méijome.
As lentes convencionais são necessárias para ver, mas são consideradas ineficazes para corrigir a miopia. Ou seja, não impedem o aumento do tamanho do olho e isso causa a crescente desfocagem de objetos distantes e o aumento dos riscos associados para a saúde ocular.
Adaptada a qualquer idade e graduação
“Não há nada comercializado com a eficácia e o alcance desta nova lente, por isso poderá ter um grande impacto imediato, em particular nos jovens, diminuindo o risco de sofrerem uma patologia ocular muito grave na idade adulta”, nota Jaume Pauné, da Politécnica da Catalunha.
Ainda assim, os investigadores reconhecem que a mesma não funciona para todos os contextos, como a sua utilização irregular ou certos fatores genéticos. Esta lente pode ser usada inclusive por crianças de 8-10 anos, desde que com responsabilidade. Este segmento etário foi alvo de outro ensaio clínico internacional multicêntrico ao longo de cinco anos, envolvendo o CEORLab.
A miopia atinge mais de 5% das crianças entre 6 e 9 anos, sobe para 25% nas de 13 anos (confirmado junto de 200 alunos de Caldas das Taipas em 2011-15) e para 45% nos universitários (com base em 340 que ingressaram este ano na UMinho). E entre os estudantes da Escola de Ciências desta academia a miopia passou de 23 para 41% entre 2002 e 2014, indica outro estudo do CEORLab. É sabido que, a partir das cinco dioptrias, o risco de patologia ocular aumenta 20 a 50 vezes face a uma pessoa sem problemas visuais. A miopia representa um quinto da cegueira causada no mundo. Nalguns países da Ásia afeta 80% dos alunos e causa sérios problemas de saúde pública.
A UMinho é das raras universidades europeias com investigação aplicada nesta matéria e inclui a temática na sua oferta letiva, com o mestrado em Optometria Avançada e dois cursos de ensino a distância, permitindo a atualização dos profissionais e que as soluções tecnológicas cheguem mais rápido ao cidadão.