Encontro quer criar respostas da pediatria para a diversidade de género
"A sexologia está bastante ausente da pediatria. E então a sexologia na infância é uma área de desconhecimento", aponta o diretor do serviço de urgência do Hospital Pediátrico de Coimbra (HPC) e membro da comissão científica do 1º Encontro Nacional de Sexologia em Pediatria, Luís Januário.
Dentro da sexologia, a organização decidiu focar-se na diversidade de género, por se constatar que as pessoas transexuais, transgénero ou intersexuais são "as mais discriminadas, por não se reconhecer a sua existência" na pediatria, disse Luís Januário.
O encontro, que surgiu a partir de uma proposta de um conjunto de internas do HPC, vai ser por isso um primeiro passo para o Hospital Pediátrico de Coimbra encontrar "respostas" para a diversidade de género na adolescência e infância, até agora "ignorada".
O encontro vai debater a sexualidade na infância e adolescência, a necessidade de abordagens multidisciplinares, variações de identidade de género em crianças e adolescentes, o papel da família, das associações e dos ‘media’, e conta ainda com um momento de partilha de experiências por pessoas que se identificam como diversas em termos de género.
"Estas são questões que se iniciam na infância e que depois, se não as detetarmos precocemente, poderão surgir-nos sobre outras formas mais graves, por exemplo, do ponto de vista do equilíbrio emocional", vincou.
Segundo Luís Januário, há "necessidades imensas de formação", sendo que o próprio encontro vai dinamizar cursos vocacionados para médicos.
O objetivo da organização do encontro passa por "abrir as mentes para a necessidade de conhecimento destas situações" e criar uma "resposta organizada" no campo da saúde infantil e juvenil dentro do hospital, para que "estas crianças possam ser estudadas e orientadas, numa perspetiva saudável".
"É importante que se possa dizer que depois não são adolescentes com disforia de género [transtorno de identidade de género], mas sim pessoas com questões de diversidade de género que estão em orientação", realçou.
"Este é um pontapé de saída fundamental", sublinhou a investigadora do Centro de Estudos Sociais Ana Cristina Santos, também membro da comissão científica.
Para a coordenadora do projeto INTIMATE (Micropolítica da Intimidade na Europa do Sul), é importante que não haja "qualquer tentativa de patologizar" as crianças, visto que o único problema que existe "é a discriminação".
O médico tem aqui um papel importante, mas também "simbólico", como figura que "tem autoridade e legitimidade para confirmar ou contrariar determinados preconceitos, medos ou ansiedades".
"Os casos devem ser sinalizados desde cedo, para garantir que estas crianças e adolescentes têm o apoio a que têm direito e que encontram no profissional de saúde um aliado", frisou.
No encontram participam, entre outros, o sexólogo Júlio Machado Vaz, o pediatra Mário Cordeiro, a psicoterapeuta e investigadora Ana Alexandra Carvalheira, a jornalista Ana Soromenho e a professora de Direito Teresa Pizarro Beleza.