Fórum do Sal alerta para os riscos do consumo em excesso
Sendo as doenças cardiovasculares a principal causa de morte, e a hipertensão o seu principal fator de risco, torna-se imperativo reduzir o consumo de sal às refeições. E é sobre as estratégias, para reduzir este consumo, de que se fala, hoje, no Fórum do Sal, organizado pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão.
Os portugueses estão cada vez mais informados sobre os riscos da hipertensão e sobre os malefícios do sal em excesso. No entanto, de acordo com um estudo da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), apenas um em cada quatro muda os seus hábitos alimentares.
O sal é um mineral constituído por dois elementos: cloro e o sódio, que sendo um nutriente essencial ao organismo, quando consumido em excesso, comporta sérios riscos para a saúde (sendo o principal responsável para o aumento da pressão arterial). Cerca de 10 por cento do sódio ingerido tem origem no conteúdo natural dos alimentos e o restante é proveniente de adição, durante o fabrico de alimentos processados ou na sua confeção.
A Organização Mundial de Saúde recomenda que um adulto consuma apenas 5 gramas diárias de sal (o que corresponde a uma colher de chá rasa) e 3 gramas para as crianças. No entanto, estudos revelam que estamos a consumir mais do dobro do valor recomendado, numa média de 10,7 gramas por dia, o que coloca em sérios riscos a nossa saúde.
Sabe-se ainda que, para além da sua ligação à hipertensão, o sal tem um efeito danoso, independente da pressão arterial, sobre o coração, os vasos, os rins e sobretudo o cérebro.
De acordo com um estudo realizado por investigadores portugueses, ao contrário do que acontece lá fora, onde o sal provêm sobretudo dos alimentos já processados, em Portugal 20% do sal ingerido é sal que as pessoas adicionam na comida e 25% provém do pão, dos enchidos e do queijo.
Por isso em 2010, graças ao trabalho da Sociedade Portuguesa de Hipertensão, foi introduzida uma lei pioneira na Europa, que estabelece limites máximos ao teor do sal no pão, bem como orientações para a rotulagem de alimentos pré-embalados destinados ao consumo humano.
Neste diploma ficou definido que o máximo permitido para o conteúdo de sal no pão, após confecionado, seja de 1,4 g por 100 g de pão (o que corresponde a 14 g de sal por quilograma de pão ou o correspondente 0,55 g de sódio por 100 g de pão).
Muito embora, o consumo de sal no nosso país ainda está longe de ser o ideal. Por isso, no Fórum do Sal, organizado pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão, se pretende identificar linhas de orientação específicas e eficazes para a redução do consumo de sal em Portugal.
“A curto prazo queremos intervir junto dos produtores para que estes reduzam a quantidade de sal que adicionam aos alimentos. A lei que estabelece os limites máximos de teor de sal no pão é um excelente exemplo de como a intervenção junto dos produtores pode ter resultados muito positivos. O pão é dos alimentos mais importantes para os portugueses e esta diminuição que se verificou desde a implementação da lei foi muito bem aceite. Por esta razão acreditamos que a redução da quantidade de sal noutros alimentos pode também ter uma boa aceitação junto da população. Queremos também centrar a redução do sal nos alimentos que são mais consumidos pelos portugueses, estabelecer políticas de incentivos a produtores e vendedores que reduzam a quantidade de sal nos alimentos, assim como uma política de reconversão de impostos para luta contra o sal”, explica Mesquita de Barros, presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão.
Entre os principais temas a ser discutidos está ainda a necessidade do semáforo de cores na rotulagem dos alimentos. A SPH tem vindo a desenvolver esforços no sentido de ver aprovada a lei que estipula que todos os alimentos embalados devem ter um semáforo de cores uniformizado que informa sobre o seu teor de sal.
“A longo prazo a prioridade é o semáforo de cores para os alimentos embalados. Acreditamos que esta medida iria facilitar as famílias na hora de ir às compras, levando-as a fazer melhores escolhas alimentares. O semáforo incluiria as cores vermelho (muito sal), amarelo (sal moderado) e verde (pouco sal). A intervenção junto das camadas mais jovens é também uma das prioridades devido ao seu elevado potencial de influência junto das famílias. Pretendemos intervir ao nível das políticas de educação nas escolas e na reformulação das dietas nas cantinas”, acrescenta.
Será também debatida a importância do desenvolvimento de campanhas informativas que esclareçam e definam uma medida standard de sal que facilmente as pessoas possam memorizar e aplicar no seu dia-adia (exemplo: 1 colher de chá rasa = 5 gramas de sal).
“Uma das grandes batalhas da SPH é continuar a diminuir o consumo de sal em Portugal. Um grande passo já foi dado com a redução de 1,2 gramas no consumo diário de sal, verificada entre 2009 e 2013. Passamos de um consumo diário de 11,4 gramas para 10,2 gramas e associada a essa redução estima-se uma redução da mortalidade por AVC de 12%. Estes são números que nos motivam a continuar o nosso trabalho, embora tenhamos consciência de que ainda há um longo caminho a percorrer”, refere Mesquita de Barros.