Diretor diz

Estudo não põe em causa qualidade pedagógica da Faculdade de Medicina de Coimbra

O estudo que coloca a Faculdade de Medicina de Coimbra como a pior do território continental no rácio entre estudantes e tutores médicos não põe em causa a qualidade do ensino, diz o diretor da instituição.

"É um estudo que faz a avaliação do índice de satisfação pedagógica, não de qualidade pedagógica, que é uma coisa diferente. Em termos de qualidade pedagógica e sucesso profissional dos licenciados pela Faculdade de Medicina de Coimbra eles estão na linha da frente", disse Duarte Nuno Vieira.

O alerta sobre o número de estudantes nos hospitais que põe em risco a formação e a falta de tutores médicos para quem estuda em Coimbra dominaram hoje o encerramento do Congresso Nacional de Estudantes de Medicina, que decorreu naquela cidade.

As conclusões do estudo, promovido pela Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), revelam que os doentes que recorrem a hospitais afiliados de sete escolas médicas existentes no território continental (em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Covilhã) "podem encontrar, juntamente com o seu médico, em média, cerca de 8 estudantes".

O melhor rácio médio estudante-tutor, envolvendo estudantes do 3.º, 4.º e 5.º anos, ocorre na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (2,55 estudantes por tutor) e o pior na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), com 18,5 em média, mais de sete vezes o rácio do primeiro classificado e mais do dobro do sexto e penúltimo classificado.

Duarte Nuno Vieira sublinhou que os dados do estudo referem-se aos anos de 2011 a 2013, numa altura em que a FMUC estava já sem parte do seu espaço no velho edifício [polo I] e sem a totalidade das novas instalações [no polo III] construídas.

"O que está aqui em causa não é a qualidade pedagógica, é apenas a satisfação em termos das condições pedagógicas", frisou.

Duarte Nuno Vieira sublinhou que, sendo Coimbra das faculdades "que tem mais alunos a escolhê-la anualmente", o número de docentes assistentes para as aulas práticas "obviamente não é o desejável".

Questionado sobre o porquê da diferença de rácio para escolas em Lisboa ou Porto com números de estudantes de Medicina similares a Coimbra, apontou "constrangimentos económicos", frisando que, "porventura, a Universidade de Coimbra não tem tido o reforço orçamental que deveria ter para poder dar mais resposta e mais apoio" à FMUC, impedindo esta de contratar mais docentes.

Já o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, disse na sessão que "há gente a mais, batas brancas a mais nas instituições de saúde" em redor dos doentes.

"E isso colide com o direito dos doentes à tranquilidade e também com uma boa formação dos estudantes", afirmou.

Questionado sobre se em 40 anos nada mudou na FMUC em relação ao número de alunos que rodeiam um doente nas aulas práticas, José Manuel Silva admitiu que a situação "não melhorou rigorosamente nada", apontando como causa o aumento do ‘numerus clausus' que levou a que mais alunos tenham entrado nas faculdades de Medicina.

"A redução do ‘numerus clausus' também deve ser vista para beneficio do doente que está internado. É evidente que os alunos aprendem nos doentes, a aprendizagem nos doentes é absolutamente essencial. Ora, se não precisamos de formar tantos médicos, também devemos considerar a necessidade de redução de ‘numerus clausus' para não massacrar os doentes", alegou.

Para o bastonário a questão "tem a ver com a quantidade imensa de alunos que estão nas instituições de saúde" e não só com a falta de tutores médicos que se verifica, de acordo com o estudo, maioritariamente em Coimbra.

No entanto, disse desconhecer "o que se passa" na FMUC, remetendo a questão da falta de tutores médicos para a direção da faculdade "que está atenta, está preocupada, como o seu diretor disse, e quer resolvê-la", frisando que o estudo mostra "a necessidade de reduzir o número de alunos por tutor em Coimbra".

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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