O que são?

Zoonoses

Atualizado: 
02/07/2019 - 11:34
Algumas das zoonoses mais comuns são a Febre escaro-nodular, vulgarmente conhecida como Febre da Carraça e a Leptospirose.
Criança e cão para ilustrar as zoonoses

O que são zoonoses?

São infeções adquiridas em contato com animais de estimação, como cão ou o gato, e ainda pela ingestão de carne contaminada de animais como a vaca ou o porco. Outras doenças podem ser contraídas através do contato não desejado com ratos, moscas e baratas, principalmente através da ingestão de água ou alimentos contaminados. Em suma, precisam sempre de um hospedeiro humano na sua cadeia de sobrevivência.

A Febre da carraça ou Febre escaro-nodular

A febre escaro-nodular é uma zoonose, benigna, com maior incidência nos meses mais quentes (abril a setembro). É uma doença infeciosa causada por uma bactéria – rickéttsia conorri que infeta o ser humano após picada de uma carraça. A doença caracteriza-se por febre moderada ou alta, dores nos músculos e de cabeça, náuseas, vómitos e perda de apetite.

Apesar de poder atingir todos os grupos etários, os grupos mais afetados são as crianças entre 1 e 14 anos, seguidos do grupo etário entre os 55 e os 64 anos, segundo as estatísticas, pois esta é uma doença de declaração obrigatória.1

A febre escaro-nodular tem um período de in­cubação média de 3 a 7 dias e necessita de tratamento com antibiótico, prescrito pelo médico. Na fase inicial da doença surgem sintomas como dores de cabeça, sensibilidade à luz, dores articulares, cansaço generalizado, vómitos e diarreia. Após 3 dias, surge febre elevada, acompanhada de manchas e pápulas/nódulos na pele (exantema maculo-papular), que não causa comichão (prurido) e que se pode disseminar por todo o corpo, sendo mais frequentes nas palmas das mãos e plantas dos pés. Segue-se o período de convalescença, caracterizado por ausência de febre e melhoria gradual do cansaço, com uma duração de 2 a 3 semanas.

A tríade clássica diagnóstica é caracterizada por febre, exantema e a ferida da picada que originou o contágio (escara de inoculação). O achado característico por excelência é o da escara de ino­culação mas é também o que mais frequentemente está ausente. Deve ser atentamente pesquisada, por se encontrar quase sempre em zonas escondidas da pele: virilhas (pregas inguinais), orelhas e nas pregas debaixo da mama (regiões inframamárias).

Como se previne a picada da carraça?

A doença é transmitida ao homem através da picada de uma carraça infetada com a bactéria – rickétsia.

Se tem cães ou outros animais domésticos, deve sempre inspecioná-los para verificar se têm carraças e também colocar-lhes coleiras com repelente, apropriadas para o efeito ou fazer a sua prevenção com a aplicação dos produtos adequados.

Outro cuidado importante a ter é com as zonas de vegetação de baixa ou média altura são as áreas de maior risco de ser picado por uma carraça. Assim, se for para o campo:
- Evite áreas infestadas de carraças;
- Use roupa de cores claras, cobrindo os braços e as pernas, colocando se possível, as calças dentro das botas ou meias;
- Inspecione o corpo e as roupas e retire com cuidado e sem esmagar qualquer carraça encontrada;
- Especial atenção deve ser dada à cabeça, pregas da pele, em especial junto dos genitais e pescoço das crianças.

Como reagir se for picado por uma carraça?

O verão é a época em que surgem mais casos pelo que, sempre que andar em áreas onde possa haver carraças, faça uma inspeção do corpo, para ver se não ficou com alguma agarrada.

Se encontrar alguma agarrada à pele, proteja as suas mãos com um papel ou com luvas para não entrar em contacto direto com a carraça e use uma pinça para retirá-la:
- Pegue na carraça com a pinça, bem perto da pele, com cuidado;
- Puxe devagar, até que todo o corpo da carraça saia, não o torcendo, para evitar que fique algum fragmento da carraça na pele;
- Lave as mãos com água e sabão;
- Limpe a picada da carraça com um líquido desinfetante ou com água e sabão;

Após a picada de uma carraça, se surgir febre, dores musculares e de cabeça, náuseas, vómitos e perda de apetite, entre 2 a 14 dias deve de imediato recorrer ao médico.

Leptospirose

Leptospirose também é uma zoonose, geralmente benigna, com maior incidência no período de verão ao outono. É uma doença infeciosa causada por uma bactéria – leptospira, transmitida por água ou alimentos infetados com urina de ratos ou outros roedores. A doença caracteriza-se por formas em que as manifestações clinicas não são muito evidentes, mais ligeiras, até formas graves, podendo mesmo levar à morte.

Tem maior incidência, segundo as estatísticas, no grupo etário entre os 45 e os 54 anos. Esta é, igualmente, uma doença de declaração obrigatória.

A Leptospirose tem um período de incubação que dura em média 10 dias, podendo no entanto variar entre 2 a 26 dias. Necessita de tratamento com antibiótico, prescrito pelo médico e, em casos mais graves da doença, de internamento hospitalar. Na fase inicial da doença surge febre elevada, dores de cabeça e musculares, vómitos, diarreia, manchas e pápulas na pele (exantema maculo-papular), tosse e dor no peito.

Como se previne a leptospirose?

Os principais reservatórios da leptospira são os roedores (ratos e ratazanas). No entanto, outras espécies de mamíferos podem ser infetados, como os cães, porcos, bovinos, ovinos. O animal infetado elimina as leptospiras pela urina ao longo da sua vida. O Homem é infetado através do contato direto com os animais (mordedura) ou indiretamente através do contato com a pele e mucosas com o solo, água ou vegetação contaminados com urina. Dificilmente existe transmissão de uma pessoa para outra.

Muitas vezes a leptospirose aparece associada a prática de atividades de lazer (pescadores ou banhistas) ou a certas profissões, como é o caso dos trabalhadores em minas, esgotos ou na agricultura.

A exposição também pode ocorrer por penetração das leptospiras através de pequenas feridas da pele. Tem-se verificado nos últimos anos uma tendência para o aumento da transmissão em contexto recreativo e não tanto laboral.

Assim, para evitar a transmissão da doença:
- Evite o contato com água ou lama que possam estar contaminados pela urina de rato. Pessoas que trabalham na limpeza de entulhos, desentupimento de esgotos ou mesmo na agricultura, devem usar botas e luvas de borracha.
- Use água tratada para beber, lavar alimentos e hortaliças.
- Mantenha alimentos fora do alcance dos animais.
- Além do rato, o cão, o gato e animais silvestres podem causar a doença, pelo que a vacinação dos animais domésticos é indicada, devendo ser feitos reforços periódicos.

Se tiver algum sintoma de leptospirose, ou alguma dúvida sobre o assunto, vá até a unidade de saúde mais próxima. A leptospirose tem cura. Basta ser tratada a tempo.

1As doenças infeciosas podem constituir um perigo para a comunidade. Por isso, o médico, quando tem conhecimento da ocorrência de uma dessas doenças, designadas por doenças de declaração obrigatória, deve preencher o Boletim de Declaração Obrigatória. O objetivo é diminuir o risco de contágio dessas doenças.

Bibliografia
SPEIDEL, A., et al. Leptospirose: casuística do Serviço de Infecciologia do Centro Hospitalar de Coimbra 1990-2007. 2008.
LOURO, Emília, et al. Febre escaro-nodular: uma zoonose benigna?. 2006.
DIREÇÃO-GERAL DA SAÚDE. Doenças de Declaração Obrigatória 2009-2012. Vol.1 Lisboa. 2013.

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Autor: 
Carla Marisa Antunes Rodrigues - Enfermeira Especialista em Enfermagem Comunitária no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Nota: 
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Foto: 
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