Doenças profissionais
O trabalhador em contexto de trabalho age influenciado não só pelas condições e características da situação de trabalho, como seja o espaço físico, o sistema técnico e organizacional, e outras estruturas e processos organizacionais, mas igualmente, e de modo determinante, pelas suas condições de vida. É na interacção destas dimensões que, segundo alguns autores, se situam os factores de risco psicossociais para o desenvolvimento de algumas doenças profissionais.
A verdade é que dimensões como o stress ou o consumo de álcool e drogas no trabalho revelam-se em simultâneo como factores de risco e problemas de saúde, e contribuem para o aumento da probabilidade e predisposição à ocorrência de acidentes de trabalho e doenças profissionais devido ao impacto nas defesas do trabalhador, na sua capacidade de atenção, concentração e respostas.
No que toca ao consumo de álcool e drogas há diferentes abordagens e opiniões, e enquanto uns defendem tratar-se de um problema de saúde relacionado com o trabalho, que deve ser encarado e analisado como tal, ainda que não seja classificado como doença profissional, outras abordagens defendem tratar-se de um factor de risco psicossocial. Sabe-se que em muitos casos o consumo é muitas vezes a manifestação de problemas associados às condições de trabalho e surge em resposta às mesmas, como seja o stress no trabalho, o emprego precário, o trabalho monótono, o trabalho por turnos e o trabalho nocturno.
Seja como for, o facto é que o consumo de álcool e drogas pode contribuir para a ocorrência de acidentes de trabalho em consequência de dificuldade de coordenação física dos movimentos, diminuição dos níveis de atenção, concentração e capacidade de resposta, particularmente grave no caso dos trabalhadores que manuseiam máquinas e veículos motorizados.
O aumento do absentismo, a diminuição do rendimento e produtividade, os problemas disciplinares, a maior frequência na mudança de pessoal com custos de formação e contratação associados e danos na reputação da empresa, apresentam-se como as principais consequências negativas no local de trabalho. Ao passo que a deterioração da saúde e das relações interpessoais surgem como os impactos negativos no trabalhador.
Violência no trabalho
As fontes da violência no trabalho podem ser internas à organização ou partir do exterior da mesma, tendo em qualquer um dos casos como destinatário o trabalhador. Este pode ser vítima de violência física ou psicológica resultante de agressões verbais, insultos, ironias e outras formas com elevado impacto psicológico para o trabalhador. Enquanto a primeira (física) sempre foi reconhecida, a segunda (psicológica) é subestimada, no entanto o mais frequente é que os dois tipos ocorram em simultâneo.
A desmotivação, o stress e o prejuízo da saúde psicológica como seja a ansiedade, a depressão, o isolamento e manifestações psicossomáticas, são os principais resultados da vivência de violência em situação de trabalho por parte da vítima sujeita à mesma.
Contudo, verificam-se outras manifestações como sejam:
• Efeitos cognitivos que se traduzem em problemas de concentração
• Diminuição da auto-confiança
• Reacções de medo
• Insatisfação profissional.
A violência sexual e a violência racial constituem-se como outras duas formas de violência, assumindo muitas vezes a forma de piadas e insultos que afrontam a dignidade do trabalhador no seu contexto de trabalho, conduzindo-o a experimentar sentimentos de medo, raiva e falta de confiança no seu trabalho, bem como deterioração e insatisfação com as relações interpessoais. No quadro europeu a legislação europeia reconhece progressivamente, e de modo intenso, o assédio sexual como forma de violência no trabalho.
Uma outra forma que a violência pode assumir, consiste na intimidação ou assédio moral no trabalho. Trata-se de um conceito introduzido pela francesa Marie-France Hirigoyen, que lutou pela sua inclusão em França e que pretende significar a exposição prolongada e repetida dos trabalhadores a um conjunto de críticas, insinuações e desqualificações ao longo do seu tempo de trabalho, que vitimizam o trabalhador, afectando a sua performance profissional e resultando no seu pedido de demissão ou na antecipação da reforma.
As principais consequências para as vítimas de assédio moral residem em sintomas físicos, mentais e psicossomáticos, como o "stress, a depressão, a reduzida auto-estima, a culpabilização, as fobias, as perturbações de sono, e os problemas digestivos (náuseas, perda de apetite, etc.) e músculo-esqueléticos”. Irritabilidade, problemas de memória e concentração, bem como o desenvolvimento de comportamentos agressivos, são outras das manifestações dos efeitos a que as vítimas deste tipo de violência estão sujeitas.
Ainda no contexto dos factores de risco psicossociais é importante referir a discriminação a que os trabalhadores eventualmente poderão estar sujeitos, justifica sintomas de ansiedade, stress e depressão associados, que estarão na origem de uma maior predisposição à ocorrência de acidentes de trabalho e de desenvolvimento de doenças profissionais, conduzindo do mesmo modo ao abandono da situação de trabalho por parte dos trabalhadores vítimas deste tipo de discriminação.
Factores relacionados com o stress
No domínio da saúde no trabalho, um dos conceitos mais amplamente objecto de estudos e análises é o stress, uma vez que reconhecidamente apresenta consequências indesejáveis para a saúde dos trabalhadores, bem como para as empresas em que trabalham.
Caracteriza-se por stress o "conjunto de factores que provocam uma determinada reacção no organismo humano”. Este conceito não se manifesta unicamente através de estados fisiológicos (problemas cardíacos, hipertensão, úlceras e colites nervosas, dores generalizadas e problemas gastrointestinais), mas também psicológicos (depressão e ansiedade), sendo que muitas das causas do stress ao nível da organização são também consequências do mesmo, sendo difícil identificar onde começa a manifestação do stress provocada por um factor e onde acaba a de um outro.
Assim, o stress surge associado à concepção e gestão da organização do trabalho, entre os quais se encontram:
• Ritmos de trabalho impostos
• Trabalho por turnos
• Trabalho nocturno
• Ausência de controlo sobre o trabalho, pausas e férias
• Movimentos e tarefas repetitivos
• Horários de trabalho
O assédio moral, a violência no trabalho e os riscos físicos, como o ruído e a temperatura, podem estar também na origem de sintomas de stress no trabalho, conduzindo a quadros patológicos como a depressão, a ansiedade, o nervosismo, a fadiga, problemas cardíacos e distúrbios da produtividade, criatividade e competitividade.
Principais factores de risco psicossociais:
• Violência no trabalho;
• Intimidação ou assédio moral;
• Discriminação (por género, idade, etnia, nacionalidade, deficiência, orientação sexual, etc.);
• Relações hierárquicas;
• Factores relacionados com o stress;
• Consumo de álcool e drogas no local de trabalho;
• Satisfação profissional;
• Exigências muito altas ou muito baixas em relação às competências;