Factores de risco organizacionais

Doenças profissionais

Atualizado: 
21/04/2014 - 11:35
São muitos os factores de risco que concorrem para o aparecimento das doenças profissionais. No contexto organizacional são vários os riscos, incluindo um conjunto de riscos emergentes derivados particularmente de novas configurações das tradicionais formas de trabalho.
Doenças profissionais

Os factores de risco organizacionais prendem-se com a maioria dos domínios e contextos de actividade laboral. Situações como a flexibilização do trabalho, a precariedade dos vínculos de trabalho ou o ritmo de trabalho implicam grande capacidade de respostas adaptativas pessoais, sociais e biológicas e podem representar elevados para a saúde dos trabalhadores.

Os efeitos negativos que advém destes factores de risco justificam-se pelos sentimentos generalizados de insatisfação que conduzem a um menor envolvimento dos trabalhadores na situação de trabalho, diminuindo os comportamentos de segurança dos mesmos.

Vários estudos indicam que as pessoas que trabalham à menos de dois anos numa organização registam uma probabilidade superior à média de serem vítimas de um acidente de trabalho.

A justificação para esta maior susceptibilidade à ocorrência de acidentes de trabalho encontra-se na falta de informação adequada, nas alterações psicossomáticas devidas ao trabalho por turnos ou nocturno, na falta de motivação, na ausência de vínculos contratuais, bem como na ausência de ligações físicas entre o local de trabalho e o desempenho do mesmo, não deixando espaço para o desenvolvimento de medidas de prevenção dos riscos.

Os trabalhadores subcontratados, por exemplo, trabalham sob condições ergonómicas deficitárias, ao mesmo que tempo que têm menos acesso a treinos e a informação sobre os riscos de trabalho.

De entre os factores de risco no contexto organizacional destaca-se também o controlo do trabalhador sobre o próprio trabalho e que se traduz em aspectos como a autonomia e a influência no desenvolvimento do mesmo ao nível da ordem de execução das tarefas, dos métodos de trabalho, do ritmo e horas de trabalho, dos intervalos, pausas, folgas e férias.

Especialistas afirmam que a ausência de controlo sobre o modo e o ritmo do trabalho realizado, sobre as pausas efectuadas e sobre as férias realizadas, levando a que os ciclos e ritmos naturais e biológicos do trabalhador não estejam em sintonia com os das máquinas, chefias ou equipas de trabalho, perturba o trabalhador, reduz a sua performance e tem graves efeitos nos processos psicológicos, podendo funcionar como factor estimulador de stress.

As pausas, por exemplo, assumem um peso determinante para o restabelecimento físico e mental do trabalhador, ao mesmo tempo que melhoram o rendimento, permitindo prevenir a aparecimento de sintomas de fadiga e a consequente baixa de produção.

Ainda no contexto dos factores de risco organizacionais, a dimensão da empresa e os seus recursos limitados de tempo, capacidade financeira e meios técnicos para analisarem riscos e adoptarem práticas preventivas, são identificadas como apresentando maior risco para a sua população trabalhadora. Aliás, a percentagem de acidentes de trabalho é superior para os trabalhadores pertencentes a pequenas e médias empresas, sendo que a taxa de incidência de acidentes de trabalho fatais nas pequenas empresas é duas vezes superior à que se verifica nas grandes empresas.

Também os factores associados ao tempo de trabalho – trabalho por turnos, trabalho nocturno, número de horas de trabalho, etc. – encontram-se muitas vezes em oposição aos ritmos de trabalho naturais e humanos. Ou seja, a existência ou não de equilíbrio entre os ritmos naturais de trabalho e o momento de realização do mesmo pode conduzir ao stress no indivíduo.

O trabalho nocturno e o trabalho contínuo por turnos apresentam inúmeros efeitos nocivos no plano familiar, social, profissional e fisiológico, como seja a fadiga e os problemas gástricos, comportamentais e cardiovasculares, claramente reconhecidos como um problema de saúde pública.

O trabalho nocturno implica, geralmente, um menor nível de rendimento e uma maior frequência de acidentes de trabalho e, ao nível fisiológico e para a grande maioria de pessoas, conduz a reacções como a "alteração nos ritmos normais do organismo, na temperatura do corpo e na secreção de adrenalina, conduzindo a situações desequilibradoras no funcionamento do organismo”. Ao nível social, o trabalho nocturno é também responsável por problemas de stress ao interferir na vida familiar e social dos trabalhadores.

Ritmo de trabalho

Estudos apontam para a existência de uma correlação directa entre problemas de saúde e condições de trabalho caracterizada pela imposição de ritmos de trabalho intensivos.

Ou seja, quando o ritmo de realização de uma tarefa é imposto, por uma máquina, por objectivos de produção, por exigências externas, por colegas ou mesmo pelo controlo directo do chefe, o trabalhador não pode regular o seu trabalho, aumentando a probabilidade de ocorrência de acidentes.

A manifestação clínica mais frequente associada aos ritmos e movimentos de trabalho intensos são as tendinites resultantes da sobrecarga sobre as bainhas tendinosas e musculares.

Novas tecnologias da informação e comunicação

As novas tecnologias da informação e comunicação são uma realidade nos actuais contextos de trabalho.

A maioria das tarefas é apoiada por suportes tecnológicos e o uso do computador, de ecrãs e/ou monitores. São de facto instrumentos fundamentais para operacionalização das novas tecnologias da informação e comunicação, mas também são responsáveis pelo crescente aumento das horas dispendidas em frente aos mesmos e, por isso, originam queixas dos trabalhadores como:

Fadiga
• Cansaço
• Irritação ocular
• Visão turva
• Tensão muscular
Dores de cabeça
Stress
• Dores no pescoço
• Dores nas costas e nos braços.

Assim, os problemas de saúde implicados na utilização do computador são fundamentalmente de três tipos:

Lesões músculo-esqueléticas
• Perturbações visuais
• Reacções do organismo à exposição a radiações (campos electromagnéticos gerados pelos dispositivos electrónicos).

Todas estas problemáticas são agravadas pelo tipo de tarefas desenvolvidas, muitas vezes assumindo um elevado carácter estático, sendo que este tipo de funções cresce ao mesmo ritmo que a evolução tecnológica.

No entanto, para uma correcta análise deste factor de risco não se deve isolar o uso das novas tecnologias de informação e comunicação de outras variáveis que se constituem igualmente como factores de risco e que a elas estão associadas, como sejam:

• Má disposição das fontes de luz no local de trabalho
• Design inadequado de secretárias e cadeiras
• Quantidade de horas passadas em frente aos monitores e ecrãs
• Carácter repetitivo das tarefas
• Predisposição e sensibilidades individuais
• Ambiente e tensão do trabalho.

É a associação destes factores de risco que causa os efeitos nocivos para a saúde dos trabalhadores e que provêm maioritariamente dos reflexos dos monitores, do seu mau posicionamento e da execução de tarefas repetitivas que obrigam ao uso redobrado dos mesmos músculos e nervos dos olhos, implicadas na utilização dos referidos instrumentos.

Principais factores de risco no contexto organizacional:

• Organização de trabalho mais flexível
• Precariedade dos vínculos contratuais
• Grau de controlo sobre o próprio trabalho
• Ritmo de trabalho
• Rotatividade dos postos de trabalho
• Novas tecnologias da informação e comunicação
• Dimensão da empresa
• Sistema de pagamento
• Exigências de produtividade ou obrigação de resultados
• Impossibilidade de discutir condições de trabalho e mudanças organizacionais

Fonte: 
Relatório do Estudo "Programa de apoio à manutenção e retorno ao trabalho das vítimas de doenças profissionais e acidentes de trabalho"
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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