Estudo

Metais no tabaco “contaminam” estrutura dentária de forma irreversível

Não é novidade que o tabaco traz vários malefícios para a saúde. Além de prejudicar a via respiratória, o ato de fumar também está vinculado ao aumento da incidência de cancro da boca e outras doenças periodontais.

O problema, revela o Diário Digital, é que, segundo um novo estudo da FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), os danos do fumo podem ser irreversíveis para a saúde bucal. É que metais pesados, como chumbo, níquel, cádmio e arsénio, presentes no fumo dos cigarros, contaminam a estrutura dentária.

Segundo a autora do estudo, a cirurgiã-dentista Jéssica Dias Theobaldo, os riscos que esses metais pesados podem causar à estrutura dentária são desconhecidos. “No entanto, sabemos que são substâncias altamente tóxicas para o corpo humano como um todo”, afirma.

E uma vez incorporado à estrutura dental, os metais permanecem no local. “O dano para a dentina (uma das estruturas básicas do dente) é irreversível, mas o fumador pode minimizar isso ao interromper o vício e impedir a deposição dessas substâncias na boca”, afirma Maria Lucia Zarvos Varellis, cirurgiã-dentista e conselheira do CROSP (Conselho Regional de Odontologia).

Maria Lucia conta que visitas mais frequentes ao dentista também podem ajudar a minimizar os problemas com tratamentos preventivos e curativos. “Os tratamentos são recomendados de acordo com a necessidade de cada indivíduo. Não há uma regra, pois o paciente pode precisar de um tratamento preventivo ou de restauro. Tudo depende do dano provocado pelo fumo. Além disso, o cirurgião-dentista também pode fazer parte da equipa multidisciplinar na hora de combater o vício”, acrescenta.

Além da contaminação, o estudo demonstrou que as substâncias do fumo de cigarro prejudicaram outros aspetos do tratamento dentário, como a aderência da resina à dentina do dente.

De acordo com Maria Lúcia, os restauros adesivos são os mais procuradas para a população que precisa de reconstruir estruturas dentárias perdidas por cáries ou fraturas. “Esses restauros têm a mesma cor do dente e, portanto, são impercetíveis, melhorando a forma estética do procedimento, o que faz com que grande parte da população recorra a eles”, explica.

O estudo constatou que a exposição da estrutura dentária ao fumo do cigarro diminui a capacidade de colagem dos adesivos usados neste tratamento de restauração. “Acreditamos que os restauros em pacientes fumadores tenham uma durabilidade menor, portanto, isso exige que eles tenham um acompanhamento mais intenso com o cirurgião-dentista”, afirma a pesquisadora.

O estudo foi realizado in vitro e Jéssica expôs amostras de dentes bovinos ao fumo de um maço de cigarros durante cinco dias. “Posteriormente realizamos testes para identificar metais pesados e a resistência dos adesivos dentais à estrutura dentária”, conta.

Para fazer as experiências da pesquisa, a cirurgiã-dentista utilizou uma máquina de fumo desenvolvida pelo Departamento de Odontologia Reparadora da FOP. “A máquina simula a cavidade bucal de um fumador e permite a impregnação de pigmentos e substâncias contidas no cigarro nas amostras de dentes”, conta Jéssica.

O próximo passo da pesquisadora será obter mais dados sobre o efeito do fumo do tabaco na saúde bucal no seu projeto de doutoramento. “O estudo será in vivo, pois vamos buscar pacientes fumadores voluntários para confirmar esses dados. A ideia é consolidar o resultado obtido neste estudo”, afirma.

Fonte: 
Diário Digital
Nota: 
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