Fases da doença de Alzheimer
Fortemente relacionada com a idade, a doença de Alzheimer foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra e neuropatologista alemão Alois Alzheimer e trata-se da causa mais comum de demência.
É uma doença progressiva, irreversível e com causas exactas e tratamento ainda desconhecido. Começa por atingir a memória e, progressivamente, as outras funções mentais, acabando por determinar a completa ausência de autonomia dos doentes.
Com o envelhecimento da população, a prevalência da doença de Alzheimer e de outras formas de declínio cognitivo tem vindo a aumentar. Estima-se que haja 5 milhões de pessoas com esta demência na Europa. Segundo o European Alzheimer's Disease Consortium, surgem 800 mil novos casos por ano, na Europa. No nosso país, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer (APFADA) estima que existam cerca de 60 mil portugueses com esta doença, que duplica em cada cinco anos de vida após os 65 anos.
Diagnóstico e sintomas
Não há nenhum exame que permita diagnosticar, de modo inquestionável, a doença de Alzheimer. Assim, o diagnóstico da doença de Alzheimer faz-se pela exclusão de outras causas de demência, pela análise do historial do doente, por análises ao sangue, tomografia ou ressonância, entre outros exames. Existem também alguns marcadores, identificados a partir de exame ao sangue, cujos resultados podem indicar probabilidades de o paciente vir a ter a doença de Alzheimer. Assim, a doença de Alzheimer é diagnosticada por sinais clínicos e por comparação com critérios predefinidos.
Do ponto de vista dos sintomas, de início observam-se pequenos esquecimentos, perdas de memória, normalmente aceites pelos familiares como parte do processo normal de envelhecimento, que se vão agravando gradualmente. Assim, na fase inicial quando os sintomas são discretos, o reconhecimento da doença é difícil não só para os familiares como também para os profissionais de saúde que habitualmente acompanham clinicamente os idosos. Gradualmente, os doentes tornam-se confusos e, por vezes, agressivos, passando a apresentar alterações da personalidade, com distúrbios de conduta. Acabam por não reconhecer os próprios familiares e até a si mesmos quando colocados frente a um espelho.
À medida que a doença evolui, tornam-se cada vez mais dependentes de terceiros, iniciam-se as dificuldades de locomoção, a comunicação inviabiliza-se e passam a necessitar de cuidados e supervisão integral, até mesmo para as actividades elementares do quotidiano, como alimentação, higiene, vestuário, etc. Trata-se assim de uma doença terminal que causa uma deterioração do estado geral da saúde do doente. A causa de morte mais frequente neste tipo de doentes é a pneumonia, pois a progressão da doença causa uma deterioração do sistema imunológico, aumentando o risco de infecções a nível do tracto respiratório.
Para definir a natureza progressiva da deterioração cognitiva foram identificados de uma forma genérica, sete estágios da doença:
Fase 1
Nenhum declínio cognitivo e função intelectual aparentemente intacta, mas supõe a existência de processos patológicos a nível do sistema nervoso central;
Fase 2
Declínio cognitivo muito ligeiro: o paciente começa a esquecer-se da posição de objectos comuns, mas consegue encontrá-los;
Fase 3
Declínio cognitivo ligeiro, com dificuldade de recordar nomes e incapacidade para planear e organizar actividades;
Fase 4
Declínio cognitivo moderado, com perda de memória a curto prazo. A capacidade de socialização perde-se. Incapacidade de dar informação pessoal ou clínica, mas ainda alguma capacidade de promover cuidados pessoais;
Fase 5
Declínio cognitivo moderado e grave: incapacidade para responder correctamente e reconhecer objectos familiares e manuseá-los. Necessidade de ajuda nas actividades diárias, tais como a alimentação e a higiene;
Fase 6
Declínio cognitivo grave, com deterioração da comunicação, e incontinência urinária e fecal;
Fase 7
Declínio cognitivo muito severo, com dependência total para os cuidados do dia-a-dia, discurso ausente ou incompreensível e deglutição comprometida.
Causas da doença
A causa da doença de Alzheimer ainda não está determinada. No entanto, é aceite pela comunidade científica que se trata de uma doença geneticamente determinada, embora não seja necessariamente hereditária. Isto é, não implica que se transmita entre familiares, nomeadamente de pais para filhos. É também hoje aceite que a doença de Alzheimer pode ter várias outras causas para além dos factores genéticos, como seja por exemplo traumatismos cranianos.
São assim factores de risco já identificados para a doença de Alzheimer a idade (superior a 65 anos), o sexo (alguns estudos têm sugerido que a doença afecta mais as mulheres que os homens), os factores genéticos/hereditariedade e a ocorrência de traumatismos cranianos severos.
A doença de Alzheimer é caracterizada por uma degenerescência e morte neuronal, em relação com a deposição no cérebro de várias substâncias, e atinge inicialmente áreas cerebrais, como o hipocampo e estruturas relacionadas na parte interna do lobo temporal, importantes para os processos de memória.
Tratamento
Não existindo nenhum tratamento eficaz para curar ou estabilizar a doença de Alzheimer, os objectivos do tratamento são dirigidos para promover a qualidade de vida do doente e respectiva família. É assim necessário uma colaboração multidisciplinar e uma continuidade de prestação de cuidados, existindo basicamente três vertentes de actuação que permitem melhorar a qualidade de vida do doente, retardando a sua dependência, desacelerando a deterioração cognitiva e facilitando a vida do cuidador. São elas a vertente psicossocial, a terapia comportamental e a farmacológica.
A abordagem psicossocial tem como finalidade promover recursos para a auto-manutenção física, de higiene e de rotina diária (alimentação, higiene, cuidados diários). Uma alteração no estado nutricional é um traço frequentemente observado na demência do tipo Alzheimer - a maior parte dos doentes são magros, podendo surgir com alguma facilidade estados de desnutrição, que devem ser acompanhados e corrigidos pelos profissionais de saúde que acompanham este tipo de doentes. Também a actividade física permite manter a densidade óssea e muscular.
A segunda medida é a terapia comportamental, pois o doente com doença de Alzheimer pode desenvolver uma ampla variedade de transtornos comportamentais, que incluem depressão, agitação, delírios, ansiedade, insónia, violência. Estes transtornos são também fonte de grande sofrimento para os familiares e cuidadores dos doentes. A terapia comportamental deve complementar a terapia farmacológica, consistindo na promoção da adesão do doente a actividades simples, que ocupem o seu tempo, ajudem a manter as suas funções cognitivas activas e lhe tragam satisfação e bem-estar.
Basicamente, as estratégias terapêuticas visam três objectivos essenciais
1) atrasar a progressão da doença;
2) tratar os sintomas primários, isto é, cognitivos;
3) tratar os sintomas secundários, essencialmente comportamentais e psiquiátricos.
Em termos de terapêutica farmacológica, alguns medicamentos demonstram um efeito significativo na função cognitiva de doentes com doença de Alzheimer inicial ou moderada. Além do efeito sobre as funções cognitivas, verificou-se também um efeito sobre as funções não cognitivas.
A doença de Alzheimer, para além da deterioração da função cognitiva, também se caracteriza por alterações comportamentais, do humor e das funções motoras. Estas alterações não são específicas da doença e para o seu controlo sintomático utilizam-se também medicamentos não específicos como os antipsicóticos, antidepressivos, ansioliticos, etc.
Assim tendo-se hoje tornado claro o benefício do início precoce de terapêuticas farmacológicas e de sessões de estimulação cognitiva, só o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer poderá permitir a utilização destas estratégias na fase da doença onde poderão ser mais eficazes.