Evidência científica

Insuficiência de vitamina D agrava doenças crónicas

Atualizado: 
04/06/2015 - 17:46
O papel da vitamina D no fortalecimento ósseo é há muito conhecido. Porém evidências recentes demonstram que níveis insuficientes desta vitamina estão relacionados com o desenvolvimento de outras doenças que não só ósseas.

Sobejamente conhecidos os efeitos da vitamina D na regulação do metabolismo fosfocálcico, assegurando, entre outras funções, uma mineralização óssea normal, um número crescente de estudos associa agora a insuficiência de vitamina D com um maior risco de desenvolver ou agravamento de diversas patologias crónicas.

Conceptualmente, associa-se a vitamina D à formação óssea e equilíbrio muscular, mas a evidência recente demonstra-nos que vai muito além. A vitamina D tem uma acção protectora, de redução de risco, ao nível das doenças cardiovasculares, podendo interferir na redução de eventos. Esta evidência científica recente vem demonstrar que a vitamina D pode ser uma aliada do coração.

Assim, níveis insuficientes de vitamina D estão relacionados com um risco aumentado de desenvolvimento de doenças não ósseas, como as doenças cardiovasculares, a hipertensão, à diabetes mas também a várias neoplasias, a esclerose múltipla, a demência ou doenças infecciosas.

Estas são as mais recentes evidências apuradas em diferentes estudos científicos: um estudo prospectivo que acompanhou, durante 5 anos, 1.739 participantes sem doença cardiovascular prévia mostrou que os indivíduos com hipertensão arterial e níveis baixos de vitamina D apresentaram um risco 2 vezes superior de eventos cardiovasculares em comparação com aqueles com níveis superiores da vitamina.

Uma análise de 454 indivíduos, sem doença cardiovascular diagnosticada previamente e que desenvolveram enfarte de miocárdio ou doença coronária durante 10 anos de seguimento, assim como de 900 indivíduos no grupo de controlo, indicou que o risco de enfarte duplicou nos indivíduos com níveis menores da vitamina, em comparação com aqueles com os que apresentavam níveis superiores. Um outro estudo de seguimento de 7 anos de 3.258 indivíduos que tinham sido encaminhados para angiografia coronária mostrou que a diminuição dos níveis de vitamina D estava associada a um risco crescente de mortalidade global e mortalidade cardiovascular.

Valores plasmáticos suficientes de vitamina D são, portanto, fundamentais para manter uma boa saúde em geral. Até porque sabe-se agora que os diferentes efeitos da vitamina D são mediados por vários receptores em diferentes localizações, que regulam mais de 200 genes. Além dos receptores presentes no intestino e no osso, foram identificados outros receptores no cérebro, próstata, mama, cólon, células do sistema imunitário, do músculo liso vascular e em miócitos cardíacos.

Fontes da vitamina D
Esta vitamina funciona como uma hormona e pode ser sintetizada na pele a partir da exposição à luz solar, embora esta síntese seja bastante variável, dependendo da pigmentação, latitude, estação do ano, vestuário, idade, uso de protector solar e condições meteorológicas locais.

Portugal é um país de sol e está assumido no senso comum que todos podem ter acesso aos níveis de vitamina D adequado. Para sintetizar a vitamina D nas doses diárias necessárias, seria necessário uma exposição solar diária entre 20 e 30 minutos com protecção UV inferior a 8. Tal não é muito viável na prática e uma exposição ao sol por períodos longos de tempo exige o uso de protecção solar com índice de protecção UV exponencialmente superior. Este facto é mais evidente nos idosos e crianças, aqueles que mais necessitam de vitamina D nas quantidades adequadas e que correspondem aos que menos exposição solar têm.

Já outra parte da vitamina D provém de fontes alimentares (entre 100-200 UI por dia), sendo os principais os óleos de peixe e os produtos alimentares enriquecidos, como os produtos lácteos e pão.

Recomendações actuais
A discussão científica em torno dos benefícios da suplementação de vitamina D é um tema actual e está cientificamente aceite que há populações de risco nas quais é obrigatório intervir. Por outro lado, e em consequência disso, à medida que se compreendem os recentes papéis da vitamina D na saúde e na doença, a importância da sua medição exacta torna-se essencial. Especialistas consideram que é necessária melhor concordância entre os métodos, tanto para permitir a comparação mais significativa entre os estudos de investigação como para facilitar um acordo sobre os objectivos mínimos adequados a uma terapêutica de substituição ideal com vitamina D.

Em Portugal, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) publicou em Abril de 2008 uma Circular Informativa aconselhando 700-800 UI/dia de vitamina D nas pessoas com idade superior a 65 anos com osteoporose.

De acordo com as recomendações da Endocrine Societ, em 2011, devem ser rastreados, para identificar potenciais deficiências de vitamina D, apenas indivíduos em risco tais como idosos com mais de 65 anos, institucionalizados (sobretudo acamados), mulheres pós-menopausa e grávidas.

Por expressa opção do autor, o texto não respeita o Acordo Ortográfico

Autor: 
Célia Figueiredo
Fonte: 
Revista Portuguesa de Endocrinologia
Diabetes e Metabolismo – Revisão
Vitamina D – importância da avaliação laboratorial
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
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