Stresse e subdotação de profissionais limitam “práticas seguras”
Os enfermeiros da zona Centro do país consideram-se motivados para a adoção de práticas seguras ao nível dos cuidados hospitalares, mas dizem que estas são, por vezes, limitadas por fatores como o stresse laboral ou a baixa dotação de profissionais, revela uma investigação realizada pela professora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), Amélia Filomena Castilho.
Os dados resultam de um de três estudos feitos no contexto dessa investigação, segundo o qual 73,8% de enfermeiros (de uma amostra de 800 enfermeiros de 65 unidades de internamento de Medicina e de Cirurgia pertencentes a quatro hospitais de adultos da zona Centro) sente “motivação para a prática segura”, embora 73,2% afirme apresentar “níveis elevados de stresse laboral” e 52,7% considere as “dotações inadequadas”.
No âmbito deste estudo, o “trabalho de equipa” e a “aprendizagem organizacional - melhoria contínua” são aspetos considerados positivos pela maioria de um conjunto de 1152 profissionais de saúde (sobretudo enfermeiros, mas também médicos e assistentes operacionais) que participaram num questionário sobre “Política de segurança”, respetivamente por 78,5% e por 74,6% dos respondentes.
No mesmo estudo, mas a partir de outro questionário exclusivamente dirigido aos 800 enfermeiros, constata-se que os eventos adversos ligados às práticas de Enfermagem que ocorrem com mais frequência nos serviços “são as infeções associadas aos cuidados de saúde, o risco de agravamento/complicações do doente por défice de vigilância e julgamento clínico, as quedas e as úlceras de pressão”, refere a investigadora Amélia Filomena Castilho.
De acordo com os resultados obtidos pela docente da ESEnfC, com base nas declarações daqueles enfermeiros, «os erros de medicação são relativamente raros e acontecem sobretudo na fase de preparação e vigilância da medicação».
Noutro estudo desta investigação, o qual teve por base entrevistas a 18 enfermeiros de diferentes instituições hospitalares que se encontravam a frequentar cursos de especialização na ESEnfC, “em 26% dos relatos assume-se que coexistem falhas na comunicação (entre profissionais e entre profissionais e doentes) e falhas nos processos de gestão, nomeadamente na organização dos processos de admissão, alta e distribuição dos doentes”.
Por outro lado, “os profissionais referem que a subdotação e a instabilidade nas equipas reduzem a sua capacidade de resposta segura em contextos de sobrecarga de trabalho, de imprevisibilidade”, prossegue a autora da investigação.
Ainda neste pequeno estudo, é referido que “o ambiente físico da prestação de cuidados” é caraterizado, essencialmente, por “poder dificultar o trabalho dos profissionais”. “Salas muito distantes, pequenas, mal organizadas, foram alguns dos aspetos estruturais referidos como fatores que dificultam a vigilância dos doentes e/ou a preparação da medicação”, observa a docente da ESEnfC.
A professora Amélia Filomena Castilho defende que “o caminho para a transformar as instituições de saúde em organizações mais seguras exige maior compromisso na gestão do topo organizacional, na liderança das equipas e nos profissionais, apontando pistas de desenvolvimento na formação, na gestão, na investigação e nas práticas profissionais”.
Parte da investigação que Amélia Filomena Castilho realizou entre 2009 e 2014, intitulada “Eventos adversos nos cuidados de Enfermagem ao doente internado: contributos para a política de segurança”, será apresentada amanhã (dia 5 de junho), durante “III Congresso Internacional de Enfermagem Médico-Cirúrgica - Gerir a (im)previsibilidade e complexidade” que a ESEnfC acolhe, nas instalações no Polo A (Avenida Bissaya Barreto, em Celas).