Metade dos doentes com insuficiência cardíaca são internados seis meses após primeiro internamento
Em Maio assinala-se o Mês do Coração e a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) lembra que em Portugal quase metade dos doentes que tiveram um internamento por Insuficiência Cardíaca (IC) são internados de novo ao fim de seis meses. É, portanto, fundamental alertar a população para a importância das atitudes preventivas, uma vez que não são ainda reconhecidas estratégias terapêuticas que consigam reduzir esta morbilidade na IC.
Paulo Bettencourt, internista e especialista no tratamento da IC, afirma que “a redução da qualidade de vida destes doentes e o maior consumo de verbas estão sobretudo relacionados com a re-hospitalização, isto é, mais de dois terços dos gastos directos estão relacionados com hospitalizações. O problema passa por ainda não serem reconhecidas estratégias terapêuticas que consigam reduzir esta morbilidade na IC, apesar de alguns estudos sugerirem que estratégias baseadas nas características e necessidades específicas de cada doente poderão estar associadas a menor morbilidade e maior qualidade de vida”.
O especialista realça também que “de facto é espectável que com o envelhecimento populacional se observe um aumento do número de doentes com IC. As medidas que poderão atenuar esta tendência são as que se relacionam com estilos de vida mais saudáveis e com o controlo mais rigoroso de condições que lhe estão associadas como a diabetes e a hipertensão arterial. Os doentes com IC são geralmente idosos e frágeis, de estratos socioeconómicos mais desfavorecidos e com várias doenças em simultâneo, como a doença respiratória crónica, a diabetes a anemia e as arritmias. Todos estes factores fazem destes doentes uma população particularmente vulnerável”.
Paulo Bettencourt defende também que é importante desenvolver campanhas que alertem estes doentes para a importância da actividade física na manutenção da saúde cardiovascular. “Existiram já diversas campanhas de sensibilização da população para a identificação e controlo de factores de risco cardiovasculares - controlo de diabetes, ingestão de sal, tabagismo. Mas existe ainda pouca sensibilização na generalidade da população quer para os riscos associados ao sedentarismo, quer aos benefícios da actividade física moderada mas regular”.
O principal problema que a IC apresenta hoje em dia é a incapacidade e a redução da qualidade de vida, uma vez que nas últimas décadas tem havido uma redução muito significativa da mortalidade associada à IC. A sua prevalência em Portugal varia entre 1,36% no grupo etário dos 25 aos 50 anos e 16% acima dos 80 anos. Prevê-se que vá aumentar em 50 a 75% até 2030.