“É preciso ter uma atitude pró-activa para prevenir o AVC”
Na celebração de mais um Dia Nacional do Doente com Acidente Vascular Cerebral (AVC) a Sociedade Portuguesa da doença lança uma campanha de informação – Eu Não Arrisco - que pretende alertar os portugueses para os factores de risco e sintomas associados ao AVC. “O objectivo é disseminar informação sobre a prevenção e tratamento desta que é a principal causa de morte e incapacidade no país”, comenta José Castro Lopes, presidente da Sociedade, sublinhando que, “o AVC é uma autêntica bomba-relógio que causa a morte a um português por hora, mas pode ser prevenível. A prevenção é melhor que o tratamento e exige uma atitude pró-activa de cada um de nós”.
A Campanha, apadrinhada pela fadista Carminho, vai manter-se activa durante um ano, com especial enfoque no Dia Nacional do Doente com AVC, a 31 de Março, e no Dia Mundial do AVC, a 29 de Outubro de 2015. “Será veiculada online, nas redes sociais, em televisão, na imprensa e através de outdoor. O site da campanha, www.eunaoarrisco.pt, já está disponível e aí pode encontrar variada informação sobre esta doença súbita”.
O AVC é uma doença neurológica provocada pela diminuição súbita do aporte de sangue a uma determinada região do cérebro. Poderá ter como origem o “entupimento” de uma artéria cerebral, ficando impossibilitada a chegada de sangue a essa região do cérebro (AVC isquémico) ou o “rompimento” de uma artéria (AVC hemorrágico).
Principais factores de risco
Para além de factores de risco não modificáveis, como a idade (quando mais idosa uma pessoa for, maior o risco de sofrer um acidente vascular cerebral) ou a existência prévia de um AVC, existem outros factores que contribuem para a possibilidade de um indivíduo sofrer um AVC. Entre os mais importantes estão: a fibrilhação auricular (uma alteração do ritmo cardíaco); a hipertensão arterial; a diabetes; o colesterol elevado; o tabagismo; o alcoolismo; o sedentarismo; a obesidade.
Segundo os dados disponíveis, calcula-se que, por hora, 3 portugueses sofram um AVC, um dos quais resulta em morte. Segundo Castro Lopes, “cerca de um terço dos sobreviventes pode recuperar significativamente no primeiro mês, mas metade dos doentes irá manter defeitos ao longo das suas vidas, necessitando de ajuda para as actividades diárias”.
A intervenção destes doentes ao nível da reabilitação é inegavelmente insuficiente e em grande parte de discutível qualidade. Na opinião do especialista, “existe o possível mas que está longe de ser o desejável. Tem havido esforços por parte dos centros de reabilitação para cuidar destes doentes mas não são suficientes ainda, dado o elevado número de vítimas de AVC”.
À excepção do Centro de Reabilitação do Alcoitão e do recém criado Centro de Reabilitação do Norte, que aumentaram o número de camas disponíveis para acompanhamento das vítimas de AVC, não existem unidades de reabilitação e de promoção da autonomia com condições de excelência e específicas para estes doentes.
É possível prevenir
“É essa a mensagem que pretendemos passar com a campanha”, refere Castro Lopes, salientando que, “devemos ter uma atitude pró-activa para prevenir o AVC”.
Uma das principais recomendações é verificar se sofre de fibrilhação auricular (ou outra arritmia cardíaca), uma vez que esta é uma condição que aumenta o risco de AVC, mas que pode ser controlada, mediante as recomendações do médico. Por outro lado, é muito importante controlar a pressão arterial, já que a hipertensão (pressão arterial superior a 140/90mmHg) é um dos mais importantes factores de risco para o AVC e deve ser tratada.
“Quem sofre de diabetes e/ou de colesterol elevado, deve também controlar a sua doença e cumprir a medicação. De resto, é importante, como sabemos, deixar de fumar e reduzir o consumo de álcool, fazer uma alimentação equilibrada e saudável (reduzindo o consumo de sal, preferindo os legumes às gorduras e consumindo porções mais pequenas) e praticar actividade física”, recomenda o especialista. Ou seja, qualquer das recomendações acima referidas dependem em muito da atitude de cada um, uma vez que se tratam de factores de risco modificáveis e/ou controláveis.
Linha Verde do AVC
A via verde para o AVC foi criada em 2005 pela ARS norte em colaboração com o INEM e tem como objectivo proporcionar o melhor tratamento aos doentes de AVC a nível hospitalar – de preferência em unidade de AVC. Porém, não tem qualquer atitude preventiva da doença.
Falta de força num braço, boca ao lado ou dificuldade em falar são sinais e sintomas que podem indicar a ocorrência de um AVC. Se estes sinais forem reconhecidos a tempo, deve ligar o Número Europeu de Emergência - 112, pois a rápida intervenção médica especializada é vital para o sucesso do tratamento e posterior recuperação do doente.
Através do 112, o INEM coordena a assistência pré-hospitalar e encaminha as vítimas para a Via Verde do AVC, que permite um tratamento mais rápido e eficaz da doença, adequados ao tratamento desta doença. As primeiras 4 horas e 30 minutos após o início dos sintomas de AVC são essenciais para o socorro da vítima, pois é esta a janela temporal que permite que os principais tratamentos sejam eficazes.
Em 2014, o INEM registou 2.920 casos de AVC encaminhados para a Via Verde do AVC. Os distritos de Porto e Lisboa foram onde estes encaminhamentos tiveram maior incidência, com 620 e 592 casos, respectivamente. Seguiram-se Braga com 267 casos e Setúbal com 239.
Desde a criação desta via mais de 20 mil doentes puderam beneficiar de um melhor tratamento. Para que um doente possa ser admitido na Via Verde do AVC deve ter mais de 18 anos, um tempo de evolução dos sintomas inferior a 4 horas e 30 minutos, e não ter qualquer dependência prévia, nomeadamente sequelas de AVC anterior.