Cordão humano em tons de azul apela à "inclusão real" dos autistas
A iniciativa partiu do centro terapêutico Mima Mais e do estabelecimento de ensino pré-escolar Oga Mitá, aos quais se associou depois a Junta da União das Freguesias de Aldoar, Nevogilde e Foz do Douro - sendo que é no molhe da Foz, aliás, que o evento decorre a partir das 19:00.
"As pessoas ainda não sabem muito bem o que é o autismo e queremos deixá-las mais sensibilizadas para o problema, porque a verdade é que se fala muito de solidariedade, mas a inclusão real, na prática, ainda não existe", declarou a psicóloga e terapeuta Alexandra Marques, promotora da iniciativa.
O cordão humano contará sobretudo com familiares e educadores de indivíduos autistas, mas a organizadora do encontro apela também à participação de pais de crianças e jovens que não apresentem Perturbações do Espectro do Autismo e ao envolvimento de professores e outros profissionais que queiram aprender mais sobre as diferentes expressões da doença.
"Depois há ainda a questão da responsabilidade social por parte de empresas e outras entidades públicas", observou Alexandra Marques. "Isso é muito importante porque, mesmo sem falar dos adultos autistas que já estão à procura de emprego hoje, as crianças que agora enfrentam dificuldades de inclusão nas escolas vão crescer e, daqui a algum tempo, é preciso ter soluções também para elas", acrescentou a psicóloga.
As Perturbações do Espectro do Autismo - também designadas "Perturbações da Relação e da Comunicação", numa tentativa de contornar a carga negativa do termo "autismo" - expressam-se sobretudo no comprometimento do funcionamento social, num padrão restritivo e repetitivo de interesses, e num conjunto de alterações de desenvolvimento que conduzem a limitações de linguagem, do sistema motor e ao nível sensorial.
A doença é atribuída a aspectos de ordem ambiental e genética, mas a causa concreta do problema ainda não está apurada e esse mantém-se sem cura.
Por esse motivo, os autistas situados no extremo mais intenso do espectro revelam-se mais dependentes de terceiros e beneficiarão com acompanhamento terapêutico regular ao longo de toda a vida, enquanto os que se situam no extremo mais ligeiro do espectro serão mais autónomos e poderão ter vidas próximas dos padrões normais, com emprego, casamento e filhos.
Realçando que o autismo afecta mais rapazes do que raparigas, Alexandra Marques afirmou que "a incidência da doença está a aumentar" e que, na actualidade, em cada "10.000 pessoas haverá 10 com autismo".
Em Portugal, não há números oficiais sobre a população afectada por essas perturbações, mas nos Estados Unidos a estatística mais recente do Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças indica que, entre as crianças com oito anos de idade, uma em cada 68 sofrerá de uma desordem do espectro do autismo.
"É por isso que o diagnóstico precoce é fundamental para aumentar as possibilidades de sucesso numa intervenção terapêutica", garantiu a psicóloga. "Mas para isso é urgente falar-se abertamente da doença e chamar a atenção de toda a sociedade para esta questão", explicou.