Segura e eficaz

Conselhos para a medicação na terceira idade

Atualizado: 
17/01/2023 - 09:48
Como é do conhecimento geral, as pessoas idosas, em Portugal, tomam diariamente um elevado número de medicamentos, por prescrição médica, para várias doenças crónicas. Este facto implica que se deva ter cuidados especiais junto deste grupo etário para que o tratamento farmacológico seja eficaz e seguro.

Como gerir então a medicação de um idoso? Alguns conselhos práticos para pessoas idosas, cuidadores formais e informais.

Os medicamentos são parte integrante da vida da maioria dos nossos idosos, permitindo manter sob controlo as várias doenças crónicas de que padecem, contribuindo para uma melhoria da sua qualidade de vida. Contudo, por vezes a quantidade de medicamentos que um idoso toma diariamente é tão elevada que obriga a uma organização e administração com cuidados acrescidos por parte do idoso e de quem dele cuida, de forma a garantir que não há erros nas doses, nos horários ou na troca de medicamentos.

De seguida deixamos-lhe alguns conselhos sobre esta matéria consoante os diferentes contextos em que o idoso se movimenta:

Nas consultas no centro de saúde com o seu médico e enfermeiro de família e/ou no hospital ou outra instituição de saúde:

  • As consultas de rotina no centro de saúde são o momento ideal para utentes e profissionais de saúde comunicarem sobre vários aspetos: a medicação atual, a sua eficácia, a adesão ou não ao tratamento, possíveis efeitos secundários, interações entre diferentes medicamentos, indicações e prescrições de outros médicos especialistas que seguem o utente a nível hospitalar e/ou privado, e para esclarecer qualquer tipo de dúvida;
  • Sempre que possível ou for necessário, a pessoa idosa deve fazer-se acompanhar por familiar ou cuidador, para assim saberem qual o seu estado de saúde, que medicamentos vai tomar, para quê, qual a dose, durante quanto tempo, se existem efeitos secundários, interações com outros medicamentos, de que forma devem ser tomados (por exemplo, se os comprimidos podem ser esmagados ou têm de ser tomados inteiros), ou qualquer outro assunto pertinente.

Nas idas à farmácia com o seu farmacêutico:

  • Sempre que for à farmácia “aviar” uma receita, sugira ao seu farmacêutico que escreva na caixa do medicamento correspondente, as indicações do médico no que respeita à dose e à hora da toma de cada medicamento;
  • Sugerimos, se possível, que vá sempre à mesma farmácia, pois será uma excelente maneira de criar uma relação de confiança com o farmacêutico que, para além de passar a conhecer o estado de saúde do idoso, pode ajudá-lo sempre que tiver alguma dúvida.

E lá em casa: Como organizar toda a medicação?

Há alguns princípios a ter em atenção e que poderão fazer toda a diferença…

  • Em casa, necessita de ter um modo de organização que possa facilmente cumprir de forma segura a toma correta, à hora certa de todos os medicamentos que o idoso necessita. Pelo seu caracter mais prático, há cada vez mais idosos que utilizam caixas com pequenas divisórias (pequeno-almoço, almoço, jantar, deitar) para organizar a toma diária dos seus medicamentos;
  • Em opção, poderá ser usado um quadro (feito numa folha de papel à mão ou desenhado no computador) onde constem todos os nomes dos medicamentos, para que servem, incluindo uma pequena descrição dos mesmos, a hora da toma e um local para colocar um “certo” depois de cada toma. Igualmente prático, este quadro tem ainda a vantagem de poder ser guardado, criando-se assim um histórico.

E o que fazer a tantas caixas de medicamentos…

  • Independentemente do método que utiliza para organizar os medicamentos do idoso, guarde sempre todas as caixas desses mesmos medicamentos. Para além de preservar a informação sobre a toma que os farmacêuticos escrevem sobre a mesma, acrescente a data em que o idoso tomou esses comprimidos e algumas observações pertinentes como, por exemplo, se foi bem ou mal tolerado;
  • Ainda, quando guardar as caixas, guarde também o folheto informativo que é essencial se necessitar de tirar alguma dúvida relacionada com efeitos secundários, interações medicamentosas ou sobredosagem. Para facilitar o seu armazenamento, poderá espalmá-las e guardá-las numa caixa reservada exclusivamente para esse efeito.  

E nunca é de mais relembrar que a toma deve ser sempre à hora certa…

  • Para ser eficaz, um tratamento requer que todos os medicamentos sejam tomados à mesma hora todos os dias. Se decidiu organizar os medicamentos em caixas adequadas para o efeito, estes já podem estar divididos para a hora das diferentes refeições. Também será estrategicamente importante manter essa caixa junto do lugar da mesa onde o idoso normalmente realiza as refeições para evitar o esquecimento;
  • Em casos mais específicos poderá haver a possibilidade de programar o telemóvel ou o despertador para lembrar a hora da toma, de forma a assegurar que o idoso não falhe a toma de nenhum medicamento. Se o cuidador estiver em casa com o idoso pode administrar o medicamento, se não, poderá informar o idoso relativamente à hora do alarme e qual o medicamento a tomar. Se esse sistema for muito complicado para o idoso, e caso não esteja em casa, o cuidador poderá agendar um lembrete no seu telemóvel e ligar para o idoso nessa hora, dizendo-lhe qual o medicamento que deve tomar.

E tomar sempre a dose certa…

  • Constatamos muitas vezes que as pessoas idosas deixam de tomar um medicamento porque se sentem melhor ou porque acham que o medicamento pode estar a fazer bem a uma coisa mas mal a outra. O cuidador deve certificar-se que o idoso respeita a toma diária dos seus medicamentos e que não tomou decisões como diminuir, aumentar ou alterar a dosagem de um medicamento, sem antes falar com o seu médico assistente ou outro profissional da equipa de saúde, para avaliarem a sua situação de saúde concreta.

Muita atenção ao prazo de validade dos medicamentos!

  • É essencial que a pessoa idosa e o seu cuidador tenham atenção aos prazos de validade dos diferentes medicamentos que o idoso está a tomar. Sugerimos que organize mensalmente os medicamentos que tem em casa, levando para a farmácia todos os que se encontram fora de prazo de validade ou que o idoso deixou de tomar de forma definitiva. Pode guardar as caixas para o tal “arquivo” que falamos anteriormente, mas o conteúdo das caixas deve ser devolvido à farmácia.

Por último, relembramos que o uso correto da medicação é fundamental para a manutenção e recuperação da saúde de qualquer pessoa e, em especial, da pessoa idosa. Neste sentido deixamos como recomendações gerais:

1. Mantenha os medicamentos nas embalagens originais, pois assim é mais fácil controlar a data de validade dos mesmos e evita que se misturem com outros medicamentos. Mas, se preferir colocar os medicamentos em caixas para o efeito, as chamadas caixas porta-medicação, prefira sempre as que tenham tampa e utilize caixas diferentes para diferentes tipos de medicamentos (por exemplo, material de penso, medicamentos orais ou medicamentos de inalar). A medicação deve ser sempre guardada em caixa de plástico com tampa, visto que as caixas de madeira e de papelão não são indicadas para o efeito, pois podem favorecer a formação de fungos. Mantenha os medicamentos em local seco, arejado, longe do sol e principalmente em local fora do alcance das crianças. Evite guardar medicamentos nos armários da casa de banho, pois a humidade pode estragar a medicação.

2. Para facilitar o processo e para evitar erros, dentro das caixas da medicação, os medicamentos devem estar divididos pelas horas crescentes ou períodos do dia em que devem ser administrados (exemplo: manhã, tarde, noite e nunca manhã, noite e tarde). As referidas caixas podem ser separadas por dia da semana, ou também, uma caixa por cada dia da semana.

3. No caso da pessoa idosa não saber ler, os medicamentos podem ser agrupados e, na sua caixa, desenhar, por exemplo, um relógio com a indicação dos ponteiros e das horas a que devem ser tomados ou outra figura que remeta para a fase do dia (por exemplo, uma chávena de café para a manhã ou pequeno-almoço ou uma cama para a noite ou jantar). Sempre que seja possível, deve-se evitar medicações durante a madrugada para não interromper o descanso da pessoa idosa e/ou do seu cuidador.

4. Se o número de medicamentos for muito elevado, otimize a sua organização, desenvolvendo um plano de medicação diária, que será uma espécie de agenda do dia onde colocará em cada hora o nome do  medicamento e a hora exata em que este deve ser tomado. Afixe o dito plano num lugar visível, onde a pessoa idosa passe frequentemente, como por exemplo, na porta do frigorífico. Nesse plano poderá também colocar um “visto” na medicação já dada, evitando assim aquelas dúvidas, se já tomou ou não o(s) medicamento(s).

5. Deixe somente a última “guia de tratamento para o utente” (a do lado direito da receita médica) junto à caixa de medicamentos. Isto evita confusão quando há troca de medicamentos ou receitas, e facilita a consulta em caso de dúvida ou quando solicitado por qualquer profissional de saúde.

6. Para evitar confusões e erros, devolva sempre os medicamentos que já não utiliza à sua farmácia, para serem devidamente tratados, ou se não o fizer, guarde-os noutro lugar, bem longe da sua medicação diária e fora do alcance das crianças.

7. Se a pessoa idosa tiver dificuldade em engolir comprimidos ou se for alimentada por sonda nasogástrica, converse com o seu médico e/ou enfermeiro de família sobre a possibilidade de dissolver os comprimidos em água ou em sumos. É também importante saber se há alimentos que devem ser evitados pelo facto de poderem interagir com a medicação. Nalguns casos, em que está presente o hábito de beber álcool é importante discutir com a equipa de saúde, se esse consumo pode manter-se mediante determinadas regras ou se deverá ser abandonado.

8. Não utilize como referência para dar os medicamentos a cor dos comprimidos pois as cores dos comprimidos podem mudar consoante o laboratório onde são produzidos.

9. E nunca se esqueça: não guarde em casa medicamentos fora de validade e não acrescente, diminua, substitua ou retire medicamentos sem antes consultar a equipa de saúde que o segue. E já agora, não use medicamentos que foram receitados para outra pessoa, mesmo que essa pessoa tenha um problema de saúde semelhante ao seu.

10. Se após tomar um medicamento a pessoa idosa apresentar alguma reação estranha/possíveis efeitos secundários ou interação entre medicamentos, avise logo que possível a equipa de saúde.

11. Informe os profissionais de saúde sobre todos os medicamentos que a pessoa idosa toma, sejam ou não de prescrição de médica, sem esquecer os chamados produtos de saúde (chás, vitaminas e suplementos). Cuidado com os produtos naturais, como os chás de plantas medicinais, pois estes podem alterar a ação da medicação que a pessoa idosa está a tomar.

12. Se conduz veículos ou manipula máquinas ou utensílios de cozinha, convém perguntar se algum medicamento que a pessoa idosa anda a tomar ou tenha sido prescrito pode afetar o seu estado de alerta ou a sua destreza manual.

13. Se a pessoa idosa vai de viagem lembre-se de informar a sua equipa de saúde. Há medicamentos que requerem cuidados adicionais em função do destino ou do meio de transporte.

14. Em caso de qualquer dúvida e sempre que precisar de ajuda para organizar a medicação solicite-a à equipa multidisciplinar de saúde, esta com certeza estará disponível para ajudar.

 

Autores: 

 

Maria Helena JunqueiraEnfermeira Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica – Serviço de Medicina do Hospital de Pombal – Centro Hospitalar de Leiria EPE, [email protected]

 

Pedro QuintasEnfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária na área de Enfermagem de Saúde Familiar - Unidade de Cuidados na Comunidade Pombal, [email protected]

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
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