Prevalência aumenta com a idade

Disfunção erétil pode ser tratada

Atualizado: 
14/12/2021 - 17:13
A disfunção erétil pode surgir em qualquer idade, embora a prevalência aumente com a idade. Contudo, esta pode ser tratada quase sempre, independentemente do grupo etário e, até, da causa graças aos cada vez mais eficazes tratamentos existentes.
Disfunção eréctil

A disfunção erétil (DE) é a incapacidade persistente para obter ou manter uma ereção peniana que permita a um homem ter relações sexuais satisfatórias. Significa o mesmo que “impotência sexual”, embora este termo seja pouco utilizado pela comunidade científica, exceto quando descreve um grau extremo de disfunção erétil. Nada tem a ver com outros problemas sexuais masculinos, como a falta de desejo sexual, as alterações da sensação de prazer (orgasmo) ou os problemas de emissão de esperma (ejaculação).

Quando se fala de DE, pode-se estar a falar de uma incapacidade total para conseguir uma ereção, de uma incapacidade parcial ou de só ter ereções de curta duração, mas todas estas situações são disfunções. Precisamente por existirem tão grandes variações, é difícil calcular a verdadeira prevalência da disfunção erétil.

Apesar de ser uma disfunção benigna, a disfunção erétil pode afetar a saúde física e psicossocial e ter um impacto significativo na qualidade de vida dos homens que sofrem desta condição e das suas parceiras.

Estudos demonstram que a disfunção erétil pode ser uma manifestação precoce de doença vascular periférica ou de doença coronária, pelo que deve ser encarada não só como uma questão de qualidade de vida mas também como um aviso potencial de doença cardiovascular.

Estudo epidemiológico Episex-pt
Em 2006, a Sociedade Portuguesa de Andrologia revelou os resultados de um ambicioso estudo epidemiológico sobre as disfunções sexuais em Portugal. O estudo, denominado Episex-pt (Vendeira, Pereira et al., 2006), foi efetuado por aplicação direta de um questionário, onde foram analisados os dados referentes a 1250 homens e 1250 mulheres, com idades compreendidas entre 18 e 75 anos, inquiridos em Portugal Continental entre Março e Dezembro de 2004. A amostra foi estratificada por região do país e grupo etário.

O Episex-pt revelou que 12.9% dos homens (cerca de 460 mil indivíduos) referiam problemas de ereção.

O estudo comprovou que a disfunção aumenta de prevalência com a idade: acima de 40 anos 17.6% dos homens referiram algum grau de disfunção erétil, sendo de 23.4% a prevalência nos homens com mais de mais de 50 anos.

Um levantamento levado a cabo pela Sociedade Portuguesa de Andrologia em 2004 avaliou em apenas cerca de 10 mil o número de consultas anualmente realizadas em todo o País. Ou seja, recorreram a consultas especializadas menos de 5.6% dos homens que se estima terem problemas eréteis...

Existindo uma DE, e ao contrário do que muitos pensam, esta pode ser tratada quase sempre, independentemente do grupo etário e, até, da etiologia. O reconhecimento dessa realidade é cada vez maior. Na verdade, e apesar da baixa procura de ajuda especializada, são cada vez mais os homens que, tratados, conseguem recuperar a sua capacidade erétil, graças aos cada vez mais eficazes tratamentos existentes.

O que é que pode causar uma disfunção erétil?
A função erétil requer uma sequência de acontecimentos, o que significa que a disfunção erétil pode surgir sempre que houver interrupção ou perturbação de qualquer deles. Vimos que é a nível cerebral que os estímulos sensoriais passam a integrar os afetos, as memórias, os conhecimentos e as fantasias. É exatamente nesta fase do processo sequencial que qualquer dificuldade ou perturbação na integração de qualquer um dos fatores referidos, determinará uma causa psicológica de DE. Por exemplo, uma desastrosa prévia experiência sexual, registada no hipocampo, pode perturbar o estímulo sensorial, diminuindo a sua atividade.

Cerca de 10 a 20% dos casos de disfunção erétil devem-se exclusivamente a fatores psicológicos. Entre eles encontram-se a ansiedade, a depressão, a falta de autoestima, o sentido de culpa, o medo de falhar. Mas a maior parte dos fatores psicológicos existe em associação com as causas orgânicas ou, melhor dizendo, surge como reação secundária às causas físicas. Esse grupo pode atingir 80% das situações.

As causas físicas são principalmente de dois tipos: neurológicas, como por exemplo os casos de interrupção da condução nervosa periférica por cirurgias radicais de remoção do reto, da próstata e da bexiga, ou vasculares, quando a circulação sanguínea do pénis está perturbada.

A causa mais frequente de disfunção erétil é precisamente a insuficiência arterial, que é responsável por cerca de 60-70% das causas orgânicas de disfunção. Uma série de doenças crónicas - aterosclerose, hipertensão, diabetes, alcoolismo, tabagismo - provoca alterações da parede dos vasos sanguíneos, obstruindo o seu interior ou diminuindo a elasticidade da sua parede. Isso pode determinar uma diminuição do aporte sanguíneo.

Menos frequente é a insuficiência venosa, que acontece em cerca de 20% dos casos orgânicos de disfunção erétil e pode dever-se a malformação congénita ou a lesões tardias. Quando a anomalia venosa é congénita as queixas são muito precoces, frequentemente desde a adolescência. Se são lesões tardias geralmente encontramos uma história de diabetes, excesso de tabaco, doença de Peyronie ou, simplesmente, não encontramos qualquer explicação.

As causas endocrinológicas, não considerando a diabetes, são responsáveis por apenas cerca de 5% das disfunções. As situações mais relevantes são devidas a problemas da hipófise, do testículo, da tiroideia ou simplesmente devidas a alterações intrínsecas do envelhecimento que se repercutem no sistema hormonal.

Outra causa muito frequente de disfunção erétil é a tóxica e a medicamentosa. Pode estar presente em cerca de 25% das perturbações erécteis. Para além das drogas ilícitas, onde dominam a cocaína, a heroína e o ecstasy, encontram-se os anti-hipertensores, os anti-histamínicos, os antidepressivos, os supressores do apetite e os anti-ulcerosos pépticos.

Como se diagnostica a disfunção erétil?
Para determinar o tipo e grau de DE é muito importante conhecer a história do doente, realizar exames físicos e laboratoriais, estabelecer uma avaliação psicológica e endocrinológica e, caso necessário, realizar testes mais específicos.

A história do doente, a começar pela caracterização sumária do envolvimento social, inquirindo a idade, as habilitações literárias e profissionais, estado civil, idade da mulher, número de filhos, onde habita, com quem vive, o modo como vive é muito importante. Depois, interessa caracterizar os antecedentes de doença.

Como se trata a disfunção erétil?
Uma regra básica da terapêutica da DE impõe que se tentem sempre medidas menos invasivas antes de se avançarem para medidas mais invasivas. Assim, a terapêutica da DE pode ser classificada em três níveis, baseados não só na agressividade da terapêutica, mas também em critérios práticos de quem deve prescrevê-la e executá-la.

As chamadas terapêuticas de primeira linha são aquelas que podem ser prescritas por qualquer médico, desde que bem conhecedor da DE e dos tratamentos que prescreve.

As terapêuticas de segunda linha, reservadas para situações mais graves ou que não melhoraram com as terapêuticas de primeira linha, estão vocacionadas para serem prescritas e/ou administradas por sexólogos e andrologistas.

A terceira e última linha terapêutica, para situações ainda mais graves, é exclusivamente constituída por técnicas cirúrgicas.

Nuno Monteiro Pereira in Revisitar as Disfunções Sexuais Masculinas

Este texto foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico

Autor: 
Prof. Nuno Monteiro Pereira
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro e/ou Farmacêutico.
Foto: 
ShutterStock