Tudo sobre a ejaculação prematura
De entre as várias causas determinantes da ejaculação prematura relevam as causas psicológicas, ou seja as causas em que os aspetos psíquicos interferem com o controlo cerebral da ejaculação.
Na verdade, a importância dos mecanismos anatomofisiopatológicos da ejaculação é decisiva para o entendimento da causa, do diagnóstico e do tratamento da disfunção ejaculatória.
Fisiologia da ejaculação
A ejaculação é um complexo processo que depende da regulação direta do sistema nervoso central, melhor dizendo, de centros nervosos localizados na medula espinal e no cérebro.
A ejaculação é o conjunto de fenómenos neuromusculares que permitem a expulsão do esperma para o exterior do corpo. Acompanha-se habitualmente de uma sensação de prazer, o orgasmo masculino.
Tal como a primeira menstruação marca o início da puberdade feminina, pode considerar-se que a primeira ejaculação marca o início da puberdade masculina. Surge entre os 12-14 anos de idade, geralmente sob a forma de uma emissão nocturna.
As fases de emissão e expulsão
O esperma é um líquido viscoso e esbranquiçado que resulta das secreções das várias glândulas sexuais. A secreção testicular, onde se concentra a totalidade dos espermatozóides, contribui com apenas 10-15% do volume total do esperma; o resto do ejaculado provém da secreção das vesículas seminais (são duas bolsas localizadas entre o fundo da bexiga e o reto, obliquamente acima da próstata) e da próstata.
Cada ejaculação desenvolve-se em duas fases, que são cronologicamente muito próximas: a emissão e a expulsão.
A fase de emissão corresponde à passagem do esperma para a porção posterior da uretra, através dos canais ejaculadores. O aumento da tensão na uretra posterior corresponde à sensação de ejaculação iminente.
A segunda fase, a expulsão, é constituída pela propulsão do esperma ao longo de toda a uretra até à saída. São geralmente três a seis contrações, com 0,8 segundos de intervalo.
A ereção peniana, que costuma anteceder a ejaculação, transforma a uretra num tubo quase reto, o que facilita a expulsão espermática. Ao longo da uretra peniana produzem-se ainda contrações peristálticas da parede, auxiliadas pela constrição do corpo esponjoso peniano. O orgasmo é essencialmente um fenómeno cerebral, que é percecionado como uma intensa sensação de prazer físico-psíquico. Constitui o clímax da atividade sexual e geralmente acompanha o processo de ejaculação, sendo simultânea com a fase de expulsão.
Ejaculação Prematura
Qualquer perturbação, orgânica ou psicológica, que perturbe a anatomia ou a fisiologia da ejaculação pode provocar uma disfunção ejaculatória. Esta pode ser encarada pelo homem com um grau variável de preocupação, que depende da etiologia, da idade do aparecimento, dos sintomas acompanhantes, da repercussão sobre a fertilidade, do efeito psicológico que produz.
A ejaculação prematura é a mais frequente das disfunções sexuais masculinas, com uma prevalência que atinge, nos países europeus e norte-americanos, cerca de 30-35% dos homens, independentemente da idade.
Pode definir-se como a situação recorrente em que a ejaculação se produz antes de desejada pelo homem. Esta é uma definição simples que caracteriza bem o problema, introduzindo o conceito de controlo ejaculatório. Mas não é possível estabelecer uma definição absoluta da ejaculação prematura, já que esta precisa de ser qualificada em função da idade do indivíduo, das circunstâncias, da frequência das relações sexuais, das expectativas de cada parceiro.
A avaliação subjetiva do casal, baseada em critérios de prazer e satisfação, mais do que critérios de tempo, de desempenho ou de performance, é essencial para a caracterização clínica da ejaculação prematura.
A utilização do termo “ejaculação prematura” é preferível a “ejaculação precoce” ou “ejaculação muito rápida”, devido a ser melhor descritiva e ter menor representação negativa para o homem e para o casal.
Causas
A ejaculação prematura deve-se à ausência ou à diminuição do controlo cerebral dos mecanismos medulares da ejaculação. A principal e mais frequente causa é psicológica.
A causa orgânica é relativamente rara, quase sempre devido a processos inflamatórios e/ou infeciosos da próstata e vesícula seminal. Pode dever-se à ação de certas drogas ou medicamentos, como anfetaminas, cocaína, nicotina e alguns alucinogénios. A espinha bífida, a esclerose múltipla e outras doenças medulares podem ainda ser causa de ejaculação prematura.
Existem dois tipos de ejaculação prematura: primária, quando surge na adolescência; e secundária, quando se instala num momento tardio da vida sexual.
A ejaculação prematura primária é quase sempre devida a um erro na aprendizagem das primeiras experiências sexuais. A aprendizagem é o principal mecanismo que vai permitir que a ejaculação se converta num ato voluntário. Todas as circunstâncias que interfiram negativamente nesta aprendizagem podem gerar um reflexo condicionado que desencadeie a ejaculação prematura. Neste mecanismo cria-se um círculo vicioso: o indivíduo reage mais rápido, aumenta a ansiedade, favorece a ejaculação prematura e bloqueia o potencial que permite o prazer sexual.
Os fatores desencadeadores da ejaculação prematura secundária estão relacionados com tudo o que é inerente à terminologia de stress, característica da sociedade atual, em que o prazer erótico se encontra ligado ao sucesso e ao poder. Ou ainda ao tipo de vida consumista, com os seus hábitos tóxicos (álcool, drogas, estimulantes, tabaco, etc.), poucas horas de descanso ou falta de exercício físico. O elevado grau de ansiedade desencadeia uma grande frustração, que faz aumentar a ansiedade antecipatória a próximos fracassos.
Entre as múltiplas causas de origem psicológica capazes de provocar alterações da ejaculação, mencionam-se ainda os transtornos de personalidade, fatores educativos e religiosos, sentimentos de receio e medo, culpabilidade ou angústia, medo da paternidade, mau relacionamento conjugal, etc..
A repercussão individual e conjugal da disfunção ejaculatória é, por outro lado, muito importante. Pode desencadear uma hostilidade inconsciente, receio da crítica da parceira, sentimentos de culpa por não a satisfazer, excesso de preocupação pela resposta da parceira, complexo de inferioridade e inapetência.
A deterioração do relacionamento conjugal e sexual conduz a uma escassa frequência de interações sexuais. Este contexto desenvolve e potencializa o medo do fracasso, provoca uma resposta ejaculatória mais rápida e aumenta os níveis de ansiedade em relações sexuais posteriores. Em frequentes circunstâncias, níveis de ansiedade elevados levam a comportamentos de evitação do ato sexual ou, inclusivamente, a uma fobia do sexo.
Prof. Nuno Monteiro Pereira, Urologista e Professor Universitário in PRIVIEW
Este texto foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico