34% dos jovens portugueses não recebe informação sobre contracepção
O Dia Mundial da Contracepção (DMC) realiza-se todos os anos no dia 26 de Setembro. Conforme nos explica Fernando Cirurgião, director do serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de São Francisco Xavier (Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental), em Lisboa, “a campanha global anual centra-se na visão para um mundo onde todas as gravidezes são desejadas”. O DMC foi lançado em 2007 e o principal objectivo é o de melhorar a consciência sobre a contracepção, para que homem e mulher possam tomar decisões informadas sobre a sua saúde sexual e reprodutiva. Este ano o mote da campanha é “Sua vida. Seu futuro. Suas opções”.
Há alguns anos atrás a Organização Mundial da Saúde elaborou uma série de orientações técnicas, aplicáveis a nível mundial, sobre recomendações práticas para o uso e escolha de métodos contraceptivos. Estes critérios de elegibilidade, diz o especialista, “têm por base aspectos clínicos, atendendo ainda a componente social e devendo salvaguardar a preferência individual”. É isso mesmo que garante a definição de contracepção adoptada em 1994: “Saúde reprodutiva é um estado de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade, em todos os aspectos relacionados com o sistema reprodutivo, suas funções e processos”.
Ou seja, “este conceito pressupõe que um casal possa ter uma vida sexual satisfatória recorrendo a métodos contraceptivos que lhes permitam decidir com segurança quando terem filhos, preparar para uma maternidade e paternidade responsáveis”, explica Fernando Cirurgião, acrescentando que, a prestação de cuidados de saúde deve facultar a informação adequada e o acesso a métodos de planeamento familiar de forma gratuita. É verdade que vários métodos contraceptivos estão disponíveis gratuitamente nos centros de saúde nas consultas de Planeamento Familiar, mas nem sempre estão de acordo com a preferência da utente.
As actividades de Planeamento Familiar devem garantir a promoção da saúde pela informação e aconselhamento sexual, prevenção e diagnóstico precoce de doenças sexualmente transmissíveis, do cancro do colo do útero e da mama, de cuidados pré-concepcionais e no pós-parto, prevenção do tabagismo e do uso de drogas ilícitas.
Diferentes métodos contraceptivos
Contracepção hormonal
- Oral
- Adesivo
- Anel vaginal
- Injectável
- Implante
Dispositivo Intra-uterino
- Metal
- Hormonal
Preservativo
- Masculino
- Feminino
Métodos naturais
- Calendário
- Temperatura
- Muco cervical
Contracepção cirúrgica
Laqueação de trompas
Vasectomia
Contracepção de emergência
Os mais utilizados e em que faixas etárias
Conforme refere o especialista, “a pílula combinada, portanto a contracepção hormonal oral, é a mais usada ao longo de toda a vida fértil da mulher, sendo usada por 65,9%”.
A pílula é um método contraceptivo muito eficaz, seguro, reversível e que apresenta outros efeitos benéficos como sejam a resolução da acne, o alívio das dores menstruais, da síndrome pré-menstrual, do inchaço, a redução do fluxo menstrual e até redução da incidência de cancro do ovário. As complicações e contra-indicações são pouco frequentes e os efeitos secundários são ligeiros e geralmente desaparecem ao fim de 3 meses, um dado que Fernando Cirurgião realça como “muito importante na prevenção de abandono prematuro da pílula”. Um dos temas que tem sido envolto em algum mediatismo é a incidência de problemas vasculares atribuídos à pílula. Contudo, o ginecologista alerta que “a mais recente informação veio tranquilizar e reassegurar o que já se sabia: existe mais risco de tromboembolismo venoso numa gravidez do que na toma de uma pílula”.
O compromisso diário da toma pode ser um dos motivos de falha e que pode justificar a opção de um outro método, como por exemplo o dispositivo intra-uterino que pode ser usado até 5 anos.
O Dispositivo Intra-Uterino (DIU) é mais uma opção da mulher que já teve filhos, ainda que comece a ser uma opção válida mesmo para a mulher que nunca teve filhos pela comodidade, eficácia e duração, em 8,8%.
Já a laqueação de trompas tem alguma expressão após os 30-40 anos devendo ser encarada como um método contraceptivo definitivo.
“Os métodos de barreira, preservativos e os naturais têm a mesma expressão ao longo de toda a vida fértil. Sendo que o recurso ao preservativo acontece em apenas 13,4%. Ainda assim 15% das mulheres sexualmente activas não utilizam nenhum método contraceptivo”, lamenta o ginecologista.
Importante lembrar que apenas o preservativo protege das doenças sexualmente transmissíveis.
Gravidezes indesejadas, porquê?
Conforme nos assegura o especialista, a divulgação da importância do Planeamento Familiar tem gerado resultados favoráveis na diminuição de gravidezes indesejadas. “O uso de métodos contraceptivos nas mulheres com idade mais avançada acontecia, em média, pelos 25,6 anos e geralmente só depois do primeiro filho, enquanto nas gerações mais recentes já está a acontecer pelos 20,7 anos e mesmo ainda antes da primeira relação sexual”, refere Fernando Cirurgião, acrescentando que ainda assim, se deve continuar a insistir e relembrar periodicamente do Planeamento Familiar, uma vez que ainda cerca de 1/3 das mulheres tiveram uma gravidez indesejada e também 1/3 dos jovens sexualmente activos não usam contracepção regularmente. Ou seja, a realidade de alguns números mostra que ainda há muito para fazer.
Os dados conhecidos indicam que 42% dos jovens europeus já teve relações sexuais desprotegidas com novos parceiros, este foi um número que aumentou; Em 14% que têm relações desprotegidas acontece porque o parceiro não gosta de usar um método de barreira (preservativo), sendo que os percalços também aconteceram em 11% por causa da influência do álcool; Em alguns países mais de metade dos jovens acredita que o coito interrompido é um método contraceptivo eficaz, bem como ter relações sexuais desprotegidas durante a menstruação e que basta um duche após o acto sexual para evitar uma gravidez.
Informação sobre contracepção
Os cuidados de saúde primários, conhecidos como Centros de Saúde ou Unidades de Saúde familiares, são a primeira linha onde desenvolver actividades de Planeamento Familiar, devendo seguir o estipulado em Decreto-Lei de 2000.
Na opinião do profissional de saúde, “deve ser um trabalho de equipa que envolve médico, enfermeiro e administrativo, e muitas vezes o serviço social e a psicologia, em que devem ter um papel facilitador no que respeita à prestação dos cuidados adequados. Esta atitude tem um especial relevo no grupo dos adolescentes”.
E as estatísticas dizem isso mesmo, já que 28% dos jovens assume ter-se informado de forma incorrecta e em mais de metade deles limitaram-se a perguntar a amigos. Para além disso, apenas metade dos jovens afirma estar bem informado sobre as diferentes opções de contracepção. Sabe-se, inclusive, diz Fernando Cirurgião, “que a 34% dos jovens portugueses não é facultada informação”.
A escola tem um papel muito importante na educação e informação dos jovens. O especialista quer acreditar que a Lei de 2010 em relação à educação sexual será plenamente implementada em todas as escolas.
“As actividades a desenvolver devem passar por elucidar sobre a anatomia e a fisiologia da reprodução, as consequências de uma gravidez não desejada, facultar informação sobre os métodos contraceptivos, proceder ao acompanhamento clínico, fornecer gratuitamente os contraceptivos, prevenir as doenças sexualmente transmissíveis, promover estilos de vida saudáveis e realizar o rastreio do cancro do colo do útero e da mama”, finaliza o especialista.