Bailarina Isabel Galriça

Criada coreografia para desmistificar doença de Alzheimer

A bailarina Isabel Galriça criou "Uncertain Body", um conjunto de coreografias sobre a doença de Alzheimer, para exprimir a dor do drama familiar, que atinge a mãe, e desmistificar a vergonha associada aos sintomas.

"Esta coreografia é uma homenagem à minha mãe", disse a bailarina da Companhia Nacional de Bailado (CNB) à agência Lusa sobre o projecto, composto por cinco pequenas coreografias, na sua maioria solos, que está a finalizar.

Isabel Galriça tem 38 anos, é solista da CNB desde os 17 e descreve a coreografia "Uncertain Body" ("Corpo Incerto" em tradução livre), como "uma viagem através do movimento, da mente".

É a primeira coreografia que criou até hoje, depois de vinte anos a trabalhar na companhia nacional, onde foi convidada a entrar por Jorge Salavisa assim que concluiu os estudos na Escola de Dança do Conservatório Nacional.

O impulso para coreografar surgiu pela experiência da mãe, de 74 anos, que desenvolveu a doença há cerca de quatro anos. A família, sobretudo Isabel e o pai, têm acompanhado com grande angústia o agravamento da perda de faculdades cognitivas.

"Um adulto volta a ser uma criança", compara a bailarina, que conhece a doença já desde o falecimento da avó, uma doença que a vitimou e agora atinge a mãe. Há uma elevada probabilidade de Isabel vir a sofrer da mesma enfermidade.

Embora existam medicamentos que atrasem o evoluir desta doença - que é a forma mais comum de demência - não existe uma cura para esta perda de funções cognitivas (memória, orientação, atenção e linguagem), causada pela morte de células cerebrais.

O nome vem do médico Alois Alzheimer, o primeiro a descrevê-la, em 1906.

Isabel Galriça quis abordar a situação familiar na sua própria linguagem artística - a dança - para homenagear a mãe e desmistificar a doença: "Existe uma vergonha de procurar ajuda, de aceitar a doença".

"É muito difícil todo o drama emocional, a luta interior de querer recordar, o próprio esquecimento. Criar esta coreografia foi a forma que encontrei de exprimir a minha dor. Dedico-a à minha mãe", disse à Lusa a bailarina, que já trabalhou com coreógrafos como Anne Teresa Keesmecker, William Forsithe, Mauro Bigonzetti, Rui Lopes Graça, Paulo Ribeiro e Olga Roriz.

"Uncertain Body" é composto por cinco coreografias, três solos já concluídos - num deles, Isabel dança enrolada numas tiras que lhe prendem os movimentos do corpo - e outras duas, ainda não finalizadas, que são para ser dançadas por um bailarino (que representa o pai) e um em dueto.

As peças coreográficas "representam momentos e estados de pessoas com a doença de Alzheimer e também de quem as rodeia".

Nelas são explorados "sentimentos, lembranças, vivências, criando um estudo pessoal e biográfico, do movimento", segundo a criadora.

Isabel Galriça procura agora uma instituição cultural onde possa vir a apresentar “Uncertain Body” no sentido de "chamar a atenção da sociedade para esta doença, que necessita de mais apoios fora dos grandes centros urbanos".

A Associação Alzheimer Portugal, com sede em Lisboa, possui delegações no centro, no norte e na Madeira, e núcleos de apoio em Coimbra e Aveiro, além de promover projectos e grupos de suporte no país.

O Dia Mundial da Doença de Alzheimer celebra-se no domingo, dia 21 de setembro, data instituída pela Alzheimer's Disease International (ADI), entidade internacional que reúne cerca de uma centena de associações em todo o mundo para apoiar doentes e familiares.

Dia 21 de setembro também é o dia do aniversário de Isabel Galriça, nascida em 1976.

Fonte: 
LUSA
Nota: 
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