Os perigos de abusar do omeprazol
Investigações prévias já tinham encontrado uma relação entre a ingestão prolongada de fármacos como o “omeprazol”, um dos medicamentos mais consumidos em Portugal, e a deficiência de vitamina B12, mas sem a amplitude de um ensaio realizado pela Kaiser Permanente, provedora de serviços de saúde nos EUA.
O estudo da Kaiser Permanente avaliou a relação entre a toma continuada, por mais de dois anos, de doses elevadas de “omeprazol”, na ordem dos 40 miligramas diários, e a falta de vitamina B12, que pode levar a problemas neurológicos graves, como a demência, ou anemias. O cansaço é um sinal de alerta.
Um grupo de 25.956 doentes com um diagnóstico de défice de vitamina B12 foi comparado com um de 184.199 pessoas sem este tipo de transtorno, durante 14 anos, entre 1997 e 2011. O ensaio, publicado na revista Journal of the American Medical Association, concluiu que as pessoas que tomaram “omeprazol” ou similar durante dois ou mais anos tinham 65% mais de probabilidades de ter níveis baixos de vitamina B12.
A Kaiser Permanente apurou, também, que tomar uma dose de 1,5 comprimidos por dia está associado a um risco 95% superior quando a dose era reduzida para metade.
“A mensagem deste estudo é que deve baixar-se a dose tanto quanto se puder, por exemplo de 40 para 20 mg, e parar o tratamento ao fim de algum tempo, ou pelo menos fazer algumas pausas, já que com isto se recupera a absorção da vitamina B12”, recomendou José Luis Llisterri, presidente da Sociedade Espanhola de Médicos de Cuidados Primários.
A absorção da vitamina B12, presente sobretudo em produtos de origem animal, como a carne, requer o funcionamento normal do estômago, pâncreas e intestino delgado. O ácido gástrico é fundamental, pois liberta a vitamina e permite que esta se associe a certas proteínas, para ser absorvida pelo organismo.