“Devia haver um rastreio pré-natal sistemático do vírus citomegálico humano”
O que é o CMV?
Paulo Paixão (PP)– O vírus citomegálico humano, é um vírus muito comum em todas as populações, sobretudo, em Portugal. Somos dos países da Europa com maior sero prevalência.
Cerca de 80% da população portuguesa adulta já teve contacto com este vírus, que normalmente não tem qualquer consequência clínica, porém, em determinadas populações, nomeadamente nas grávidas e nos imunodeprimidos, pode trazer problemas.
Qual a incidência do CMV em Portugal?
PP – A incidência serológica é cerca de 80%. Em termos problemáticos, por exemplo a infeção congénita, é de cerca de 1%, um valor bastante elevado. Se estamos a falar de uma taxa de natalidade de cerca de 80%, 1% ronda as mil crianças.
Porém, nem todos os bebés irão desenvolver patologias por via da presença do CMV. Estima-se que dessas mil crianças, 100 a 200 venham a ter problemas graves, que podem incluir a morte à nascença, atraso mental ou surdez.
Devia haver um rastreio?
PP - Na minha opinião sim. É um assunto complicado, que tem sido discutido por todo o mundo, pois não há país nenhum que faça um rastreio pré-natal sistemático.
A principal razão prende-se com o facto de não termos um tratamento eficaz para tratar a grávida, logo muitos obstetras, não todos, defendem que assim sendo é preferível não actuar.
Esta atitude é compreensível por um lado, mas incorreta por outro.
Na minha opinião, deveria ser feito um rastreio pré-natal do CMV da seguinte forma: quando uma mulher tem a intenção de engravidar e vai à sua consulta pré-concecional, deve solicitar ao médico a adição da análise ao CMV às análises de rotina. No final da gravidez deverá de a repetir.
Se constatarmos que a grávida teve um resultado negativo no início da gravidez e aparece um resultado positivo no final, então podemos concluir que esteve em contacto com o vírus e que foi infetada durante o período de gestação. Logo, existe cerca de 30% de probabilidade de o vírus ter sido transmitido ao bebé.
Esta informação não é importante para o obstetra, mas sim para o pediatra. O pediatra deve ser informado que existe risco do bebé ter sido infetado, pois mesmo que o bebé não demonstre ter patologias clínicas à nascença, poderá ter sequelas tardias.
O bebé pode nascer sem problemas aparentes, mas a surdez e o atraso mental podem-se desenvolver de forma progressiva ao longo dos anos. Se a presença do vírus for detetada ao nascimento, mesmo que o bebé esteja clinicamente bem, ele terá de ser seguido até à idade escolar. Se for detectado algum problema por exemplo, auditivo na criança, é possível actuar-se precocemente, retardando a evolução de uma surdez.
É um erro não se rastrear por falta de um tratamento durante a gravidez.
O rastreio seria feito em consulta de obstetrícia?
PP- Essa é uma hipótese, mas também pode ser feito um rastreio neonatal, isto é, a todos os recém-nascidos.
Contudo, este é também discutível, porque ao que se diz é caro e complicado do ponto de vista técnico.
Uma equipa de que faço parte publicou vários artigos que demonstraram haver uma metodologia extremamente económica e fácil de executar e que permite fazer convenientemente esse rastreio.
O que está a atrapalhar esta decisão?
PP - Estão a ser feitos estudos a medicamentos que irão permitir tratar a grávida e estamos há uma série de anos a aguardar novidades nesta área.
No dia em que houver um medicamento eficaz serão feitas serologias a todas as grávidas. Porém, ainda não chegaram a conclusões definitivas e a situação arrasta-se.
Enquanto isso não acontece, as alternativas indicadas anteriormente são viáveis, qualquer laboratório pode fazê-las e não são análises com um custo demasiado elevado.
Entrevista efectuada pelo Jornal Médico, Just News.
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