Programa pioneiro para a infertilidade
Uma equipa de especialistas do Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC), da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (UC), “desenvolveu e testou o primeiro programa baseado no Mindfulness (atenção plena) para a infertilidade (PBMI) do mundo”.
O programa visa melhorar a qualidade de vida e reduzir a ansiedade e depressão das mulheres que vivem a experiência da infertilidade, “por norma dolorosa e traumática”, afirma a UC, numa nota hoje divulgada e noticiada pelo Jornal de Notícias Online.
O Mindfulness é um treino mental que ensina as pessoas a lidarem com os seus pensamentos e emoções, que “muda o relacionamento com a mente, ensina a distinguir o pensamento útil do pensamento inútil ou mesmo prejudicial”, explica o coordenador dos estudos que culminaram na criação do PBMI, José Pinto Gouveia.
O Mindfulness é “uma abordagem que evidencia a transitoriedade das emoções”, por isso, “há que as reconhecer e não lutar com elas, porque uma cadeia de pensamentos negativos conduz a uma exaustão de energia e a possíveis quadros clínicos como a depressão”, sustenta o investigador.
Trata-se de uma ferramenta "pioneira" de “intervenção psicológica”, sublinha a UC, adiantando que o programa tem gerado “muito interesse junto da comunidade científica internacional”, estando em fase de concretização “parcerias com uma universidade holandesa, um hospital belga e uma clínica de fertilidade da Noruega”.
Para testar a sua eficácia, o programa baseado no Mindfulness para a infertilidade foi “aplicado em 55 mulheres inférteis, de diferentes idades, a realizar tratamento médico em Lisboa, Porto e Coimbra” e abrangeu também “o acompanhamento de um grupo de controlo (sem intervenção) constituído por 41 mulheres inférteis”.
Antes do arranque do PBMI, que contou com a colaboração da Associação Portuguesa de Fertilidade, os dois grupos foram sujeitos a uma avaliação psicológica e revelaram ambos elevados níveis de ansiedade e depressão, refere José Pinto Gouveia.
No final do programa, composto por dez sessões semanais, foram evidenciadas diferenças significativas entre os grupos, concluiu a investigação.
Enquanto as mulheres do grupo de controlo não registaram alterações expressivas em nenhuma das medidas psicológicas, as mulheres submetidas à intervenção diminuíram bastante os níveis de ansiedade e depressão: “aspectos negativos como a vergonha, a derrota ou a autocompaixão e estados de depressão e ansiedade diminuíram muito significativamente”, afirma Ana Galhardo, primeira autora do artigo científico sobre este assunto publicado na revista norte-americana Fertility and Sterility.
Assim, “os pensamentos e sentimentos relacionados ao passado doloroso” (o aborto “anterior”, entre outras situações) ou para o futuro (“eu nunca vou ser mãe”, por exemplo) são reconhecidos “sem tentar suprimir ou modificá-los”, sublinha a investigadora.