Hospital de Cascais com rendibilidade “fortemente negativa”
Segundo o documento da auditoria, os números apresentados no quadriénio ficaram “aquém do que se esperava”, uma vez que o projecto de parceria público-privada para o Hospital de Cascais previa que a Entidade Gestora do Estabelecimento obtivesse, nos 10 anos de exploração, cash flows (entrada e saída de dinheiro corrente) que permitissem alcançar uma taxa de rendibilidade de 9,74%.
Contudo, o retorno contabilístico anual, segundo o relatório, mostra que em 2009 a rendibilidade foi de 0,30%, em 2010 foi de 195,82% negativos, em 2011 foi de 14,03% negativos e em 2012 foi de 21,63% negativos.
No contraditório, o Ministério das Finanças sugere que a baixa rendibilidade constatada pode ser “consequência de uma boa negociação original por parte das entidades públicas envolvidas”, argumento rejeitado pelo Tribunal de Contas que, defendeu que “uma boa negociação pressupõe a sustentabilidade da parceria”.
“Caso contrário, pode resultar em custos acrescidos para os contribuintes, seja devido a renegociações, ou a um eventual resgate da parceria por parte do Estado. Neste caso, ocorreu uma desvalorização da HPP Saúde - Parcerias Cascais, que teve reflexo no valor de venda da sua accionista, a HPP- Hospitais Privados de Portugal, que então pertencia ao grupo Caixa Geral de Depósitos”, sublinhou.
A auditoria dá conta de que 2010, o ano de transição para o novo edifício do Hospital, foi “o mais crítico”, com a situação económica a “degradar-se significativamente”.
“Só em 2010, os gastos com pessoal foram superiores em 69%, cerca de 14.000 milhares de euros, em relação ao previsto no caso base, como consequência da contratação de mais 417 colaboradores”, informa. Para o tribunal, isso deveu-se a uma “gestão reactiva que conduziu ao aumento dos gastos na área dos recursos humanos, afastando-se claramente do previsto no caso base”.
“A HPP Saúde - Parcerias Cascais, S.A., revelou, nos primeiros três anos de actividade, um desequilíbrio estrutural acentuado, patenteado em capitais próprios negativos, 28271 milhares de euros negativos em 2010 e 30502 milhares de euros negativos em 2011, o que colocou a sociedade na situação de 'falência técnica'”, lê-se.
O Tribunal de Contas revela ainda que foi nos gastos com pessoal que o Hospital de Cascais revelou ser mais eficiente, ao gastar 1460 euros por “doente padrão”.
Já o desempenho mais fraco reside nos tempos de espera para a cirurgia e para as primeiras consultas.
Após o relatório apurado, o Tribunal de Contas sugere à ministra das Finanças que reforce o “acompanhamento da sustentabilidade financeira das sociedades gestoras, com vista a antecipar eventuais situações de falência que provoquem a interrupção ou coloquem em causa a continuidade da prestação do serviço público com qualidade e segurança”.
Ao ministro da Saúde, recomenda “determinar a realização da comparação ('benchmarking') do desempenho da Entidade Gestora do Estabelecimento do Hospital de Cascais com o dos demais hospitais” e publicitar essas conclusões “de forma a promover a transparência sobre os resultados dos vários modelos de gestão hospitalar existentes no Serviço Nacional de Saúde”.