Crianças até aos 3 anos consomem o dobro das proteínas que deviam
As crianças portuguesas entre os 12 meses e os três anos consomem mais do dobro das proteínas recomendadas, sobretudo devido a um excesso de leite de vaca, segundo um estudo sobre a alimentação nos primeiros anos de vida.
De acordo com os dados do estudo “EPACI - Estudo do Padrão de Alimentação e de Crescimento na Infância”, que será apresentado sexta-feira (1 de Novembro) em Lisboa, as crianças portuguesas registavam um consumo de energia superior às recomendações e um consumo de proteína mais do dobro do recomendado.
Pedro Graça, coordenador do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, explicou que parte desse consumo excessivo de proteínas se deve ao leite, com os pais a terem tendência para sentirem que a criança fica protegida se consumir elevadas doses proteicas. Também Carla Rêgo, pediatra e coordenadora do EPACI, indica que estão a ser dadas às crianças até aos três anos “volumes de leite de vaca francamente acima do recomendável”.
Segundo a especialista, a partir dos 12 meses já pode ser introduzido leite de vaca na alimentação das crianças, embora as recomendações vão para se continuar a dar leite de fórmula (em pó) durante mais tempo.
“As fórmulas infantis têm menor teor de proteína e têm a adição de alguns nutrientes que o leite de vaca não consegue fornecer”, disse, explicando que há actualmente um “recurso precoce ao leite de vaca”. De acordo com Carla Rêgo, são suficientes, entre os 12 e os 36 meses, entre 300 a 500 mililitros de leite e derivados, ou seja, já incluindo iogurtes e queijo. O consumo aconselhado de proteínas nesta faixa etária é de 0,8 a 1,2 gramas por quilo de peso.
Além do recurso precoce ao leite de vaca, a especialista aponta as quantidades excessivas consumidas por crianças pequenas que já estão inseridas na dieta familiar, comendo carne e peixe, por exemplo. Para Carla Rêgo, o estudo demonstra que “o maior responsável pela oferta de proteína” a estas crianças é a proteína do leite de vaca.
Outro dos problemas detectados no estudo nos bebés até aos três anos é o consumo excessivo de energia, com o consumo de bebidas açucaradas numa base diária a contribuir fortemente para esta realidade.
Segundo Pedro Graça, 17% das crianças portuguesas com 18 meses consome refrigerantes diariamente, com o consumo diário de sobremesas a ser também elevado, de acordo com os indicadores do estudo que tem uma amostra representativa da realidade nacional.
“Muitas vezes, dar doces é como um gesto de ternura, uma forma de tornar as crianças mais felizes e bem-dispostas. É importante que pais e familiares percebam que a oferta de doces desde muito cedo é nefasto para a criança”, alertou.
Aliás, os especialistas vincam que a saúde da criança é pré-determinada nos primeiros mil dias de vida, que são “cruciais para o desenvolvimento da criança a todos os níveis e também ao nível dos paladares”.
Como dados positivos, o responsável destaca a elevada percentagem de crianças dos 12 aos 36 meses que consomem diariamente fruta fresca (93%) e sopa (96%), embora apenas metade atinja a recomendação de cinco porções de frutos e hortícolas por dia.
Em relação à amamentação, os indicadores também animaram os investigadores, mostrando que 90% das mulheres portuguesas amamenta os filhos, com a média de aleitamento materno exclusivo a chegar aos quatro meses.
Entre os quatro e os seis meses há um abandono grande da amamentação, com apenas 53% das mulheres a amamentarem quando os bebés atingem meio ano, o que se deverá a factores como a reentrada no mundo do trabalho.
Sobre o início da diversificação alimentar, o estudo mostrou que 2/3 dos bebés começam a consumir outros alimentos além do leite entre os quatro e os cinco meses, sendo que metade fá-lo primeiro com sopa.
O “EPACI - Estudo do Padrão de Alimentação e de Crescimento na Infância ”, realizado durante o ano de 2012 com uma amostra representativa da população nacional, pretendeu avaliar hábitos alimentares nas crianças dos 12 aos 36 meses, uma faixa etária que ainda não tinha sida estudada. A análise resultou de uma parceria entre várias instituições, como faculdades, sociedades científicas, administrações regionais de saúde e Direcção-Geral da Saúde.