Biólogo de Aveiro defende:

Criação de corais em aquário para produzir medicamentos

Um estudo de um biólogo da Universidade de Aveiro defende que a indústria farmacêutica deve adoptar uma nova estratégia no fabrico de novos fármacos, baseados nos compostos sintetizados pelos corais.

Em vez de investir nas expedições marinhas para capturar os organismos e na sintetização das respectivas moléculas em laboratório, os investigadores da Universidade de Aveiro (UA) apontam a aquacultura de corais como a opção mais eficiente e mais sustentável.

A equipa da UA, com base em estudos da cultura de corais em aquário, conclui que o custo de produção de um novo medicamento com o auxílio da aquacultura, pode descer de 90 a 60%, dependendo da espécie de coral e do composto alvo.

"Cada vez mais a fonte de inspiração para novos fármacos está no mar e, por isso, as empresas farmacêuticas estão a virar-se para os oceanos à procura de novos compostos, nomeadamente dos que são produzidos pelos corais”, explica Miguel Leal, aluno de doutoramento do Departamento de Biologia da academia de Aveiro.

No entanto, a indústria farmacêutica tem-se deparado com dificuldades por não existir "uma fonte constante e fiável de compostos naturais de origem marinha, uma vez que os organismos produtores dessas mesmas moléculas não são uma fonte inesgotável” e pelo elevado custo da sua captura em alto mar.

Miguel Leal conseguiu demonstrar, através da aquacultura de corais, que é possível produzir as quantidades de matéria-prima necessárias para que as empresas farmacêuticas avaliem o potencial do novo composto, até à fase de ensaios pré-clínicos.

"Não há nenhuma síntese química em laboratório que consiga reproduzir exactamente o mesmo composto natural para além de que, para se chegar ao composto desejado, é preciso fazer muita experimentação e falhar muitas vezes. Mesmo tendo um composto sintetizado à semelhança dos produzidos pelos corais, é preciso provar que funcionam no combate a determinada doença e se a resposta for negativa, todo o enorme investimento é deitado fora e é necessário regressar ao mar para capturar mais amostras”, explica.

Uma das vantagens da aquacultura de corais apontadas pelo investigador "é ter dentro de um aquário não só o verdadeiro composto produzido pelo animal, uma fonte que não falha porque é o produtor natural dessas mesmas moléculas, como também várias espécies prontas a serem estudadas”. O trabalho de Miguel Leal, realizado no âmbito do Doutoramento, sob orientação do biólogo Ricardo Calado, está publicado na Trends in Biotechnology, uma revista de referência na área da Biotecnologia.

Fonte: 
Sapo Saúde
Nota: 
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