14 de Junho - Dia Mundial do Dador de Sangue
Anualmente o dia 14 de Junho assinala o Dia Mundial do Dador de Sangue. À semelhança de tantas outras efemérides, um dos principais objectivos deste dia é o de aumentar a consciência da população em geral, neste caso para a necessidade de componentes sanguíneos seguros. Para além disso, pretende-se “agradecer a todos os dadores as suas dádivas voluntárias e benévolas, assim como reconhecer a sua importância e contributo em salvar vidas e melhorar a saúde e qualidade de vida de muitos doentes”, refere Gracinda de Sousa, Vogal do Conselho Directivo do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST).
Todos os anos a efeméride é comemorada num local diferente do país e este ano Torres Novas foi a cidade escolhida. “O Dia Mundial do Dador é para nós um momento de celebração e agradecimento aos dadores de sangue, por isso nela participam os dadores de sangue, representantes das Associações de Dadores de Sangue, bem como outros parceiros Institucionais que colaboram regularmente com o IPST, quer na organização de Sessões de Colheita, quer na promoção da Dádiva de Sangue”, diz a responsável, acrescentando que, este ano convidámos todos a trazerem as suas crianças, pois queremos incutir e desmistificar este gesto solidário junto dos mais novos.
Apesar de a população portuguesa estar cada vez mais consciente da importância de dar sangue, Gracinda de Sousa salienta ao Atlas da Saúde que, “tal como outras causas, a promoção da dádiva de sangue nunca é um dado adquirido, mas sim um processo dinâmico. É necessário de forma permanente comunicar com a comunidade, informá-la das necessidades”.
Segundo a responsável, Portugal está em consonância com os países mais desenvolvidos. Assim, para manter a auto-suficiência em componentes sanguíneos, são necessárias em média 1200 unidades, diárias. “Este patamar foi atingido e apesar das dificuldades em alguns períodos, globalmente o país é auto-suficiente”. Contudo, a necessidade de componentes sanguíneos nos hospitais é permanente, até porque uma unidade de sangue tem a validade de 42 dias, as plaquetas apenas 5, pelo que é difícil manter os stocks num nível adequado de forma permanente. Por isso, há uma distribuição das sessões de colheita ao longo do ano, tentando contrariar os períodos de maior carência e as épocas em que é mais difícil manter os stocks, como sejam o pico do inverno (Janeiro e Fevereiro) e os meses de verão (Julho e Agosto). “No inverno, porque coincide com as gripes e constipações e no verão porque coincide com as férias, sendo que as deslocações e acidentes de viação aumentam o consumo”, esclarece Gracinda de Sousa.
E para os que ainda possam ter dúvidas, sim dar sangue é contribuir para salvar vidas, não só em situações limite como em acidentes de viação, partos, etc., como também para ajudar muitos doentes, nomeadamente do foro oncológico, que dependem de componentes sanguíneos em quantidade suficiente, seguros e com qualidade, para recuperar e manter a sua saúde. “Isto sem falar que são imprescindíveis aos doentes na área da Transplantação”. E para ser dador de sangue apenas é necessário ter mais de 18 anos, peso igual ou superior a 50 kg e ter hábitos de vida saudável.
Menos dádivas em 2013
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 92 milhões de pessoas dão sangue anualmente, 45% destes dadores têm menos de 25 anos e 40% são mulheres. Conforme nos refere a vogal do IPST, “a OMS quer expandir este universo de dadores, encorajando outras pessoas a tornarem-se dadores de sangue e, tem para 2020, o objectivo de que as dádivas de sangue em todos os países sejam completamente benévolas e não remuneradas”.
A verdade é que em 2013 Portugal registou um decréscimo de cerca de 12% no número de unidades colhidas, um decréscimo que segundo Gracinda de Sousa, se deve a vários factores. “O envelhecimento da população portuguesa, reflecte-se no número de dadores activos, pois o limite para a dádiva são os 65 anos. A situação económica difícil do país, o aumento da emigração, incluindo dos mais jovens, um menor número de imigrantes no país, concorre para que seja mais difícil manter um crescimento continuado nas colheitas”, são algumas das razões apontadas pela especialista.
Realidades que não fazem o IPST baixar os braços. Bem pelo contrário. Trata-se de um desafio a reposição de gerações na dádiva de sangue, em Portugal e na maioria dos países europeus. “O IPST tem apostado e focado a promoção da dádiva de sangue nos dadores mais jovens, mas também na fidelização dos dadores regulares, pois se estes fizerem duas dádivas por ano, conseguir-se-á uma maior tranquilidade dos stocks necessários”, argumenta.
Instituto Português do Sangue e da Transplantação
O Instituto Português do Sangue e da Transplantação tem por missão garantir e regular, a nível nacional, a actividade da medicina transfusional e da transplantação e garantir a dádiva, colheita, análise, processamento, preservação, armazenamento e distribuição de sangue humano, de componentes sanguíneos, de órgãos, tecidos e células de origem humana.
Porém, na opinião da responsável, “cumprir uma missão não significa que não haja coisas a melhorar. A melhoria é um processo constante, requer trabalho, persistência e até alguma imaginação e criatividade”, diz, sublinhando que “estamos motivados para continuar a fazê-lo, pois os resultados obtidos significarão sempre mais e melhor vida para todos nós”.
O IPST é o resultado da fusão do Instituto Português do Sangue (uma Instituição com mais de 50 anos) com os Centros de Histocomptabilidade e agrega também a área da Transplantação. Os últimos anos têm sido de trabalho intenso, na integração de serviços, na optimização de recursos, visando sempre a excelência dos resultados. Apostamos na aproximação ao cidadão, tem havido campanhas de divulgação nas diferentes áreas (Sangue e Transplantação), estamos presentes nas redes sociais, incluindo uma aplicação para smartphones que permite saber onde pode dar sangue.
Curiosidade
A existência de um Dia Mundial do Dador de Sangue era uma aspiração antiga e que veio a receber a concordância e aceitação por parte da Organização Mundial de Saúde (OMS), tendo esta entidade, oficialmente ratificado aquela posição relativamente àquela efeméride, na última Assembleia Geral, realizada em Maio de 2005, quando os Ministros da Saúde de todo o Mundo subscreveram uma declaração unânime de apoio à dádiva de sangue voluntária e não remunerada. Aprovaram a Resolução WHA 58.13 que instituiu o Dia Mundial do Dador de Sangue como evento anual a ter lugar a 14 de Junho. A proposta foi apresentada pela Federação Internacional das Organizações de Dadores de Sangue (FIODS) em parceria com a Federação Internacional da Cruz Vermelha e das Sociedades do Crescente Vermelho, ainda apoiadas pela Sociedade Internacional da Transfusão Sanguínea (ISBT).
A escolha da data teve que ver com a homenagem ao cientista e médico austríaco, Dr. Karl Landsteiner, precursor da transfusão sanguínea, sendo aquela data, o dia do seu aniversário (14 de Junho de 1868), quando este descobriu o sistema dos grupos sanguíneos AB0, abrindo as portas à transfusão sanguínea.