Bactéria activa neurónios para relaxar defesa do corpo durante infecção
O grupo descobriu que a dor causada nesses quadros de infecção não se dá pela resposta imunológica do corpo, como todos acreditavam, mas sim devido à acção da própria bactéria que gera a infecção. A dor é intensificada ainda mais quando a bactéria “conversa” com o sistema nervoso do corpo: quando os “neurónios da dor” percebem a sua presença, eles “relaxam” o sistema imunológico, permitindo mais actuação do microorganismo.
O neuroimunologista Isaac Chiu, que coordenou a pesquisa, ficou surpreso com a revelação, pois não imaginava que o corpo não accionava o sistema imunológico na chegada das bactérias. Mas, segundo o próprio, isso ocorre como uma tentativa de preservar os tecidos cutâneos envolvidos no quadro de infecção, minimizando as áreas de inflamação. É como se o corpo deixasse de lutar para guardar forças para a longa batalha que está em curso.
“Se pudermos bloquear a dor nos tecidos infectados e também prevenir a acção dos neurónios sensíveis a ela (que alertam o corpo da presença da bactéria, favorecendo a sua acção), poderemos tratar infecções bacterianas de forma muito mais eficiente», explicou.
No estudo divulgado na revista Nature, Chiu afirma que a ideia surgiu durante o cultivo de neurónios sensíveis a dor e células do sistema imunológico em laboratório. «Surpreendentemente observámos que os neurónios respondiam de imediato à presença de bactérias», disse.
Para chegar ao resultado, a equipa utilizou roedores com infecções cutâneas estafilocócicas e analisaram factores como dor, inchaço dos tecidos, número de células imunitárias e número de bactérias vivas nas cobaias.
Assim, descobriram que o nível de dor tinha uma relação directa com o número de bactérias presentes na infecção, com o seu pico no inchaço dos tecidos - que é causado pela acção da bactéria e não por uma resposta do corpo no local inflamado. Por isso, diz Chiu, a descoberta indica um avanço no tratamento de infecções.