Enfermeiros portugueses no Reino Unido recrutados por agências
Dos 349 inquiridos, 11% de um universo oficial de 3.155 enfermeiros lusos inscritos no Nursing and Midwifery Council (NMC), entidade que regula a actividade no Reino Unido, 51% respondeu a um anúncio de emprego de uma agência empregadora britânica e 33% a uma agência portuguesa.
A média de idades é de 27 anos, predominando o intervalo entre os 22 e 27 anos, e 81 por cento dos inquiridos afirmaram ser solteiros, confirmando-se também que a esmagadora maioria desta vaga é composta por recém-licenciados.
O caso de Sabrina Ferreira, actualmente com 26 anos, é emblemático: terminou o curso em 2010 e no início de 2011 já estava a chegar ao Reino Unido, onde é actualmente enfermeira nas Urgências do St. Georges University Hospital.
O estrangeiro surgiu como uma opção que se confirmou ser inevitável após uma procura de trabalho infrutífera em Portugal, contou: “Enviei cento e tal currículos; só recebi duas respostas e convite para uma entrevista para uma posição com dois mil candidatos”.
O processo com a agência de recrutamento foi rápido, recordou, pois foi seleccionada à primeira, seguindo num grupo com mais 40 enfermeiros portugueses, inicialmente para Tunbridge Wells, 80 quilómetros a sul da capital britânica.
As principais dificuldades, admitiu, foram a adaptação à comunicação em língua inglesa, sobretudo devido aos diferentes sotaques e uso de expressões populares, e também à forma de trabalho dos britânicos.
Mas em poucos meses conseguiu a transferência para um serviço que desejava, as urgências, algo que estima que em Portugal demoraria pelo menos 10 anos e dependeria de factores nem sempre subjectivos.
“Eu não gosto de cá estar, não gosto da cultura. Estou cá para trabalhar, por causa da minha carreira. Mas não acho que conseguiria voltar já a Portugal porque não quero ser tratada como seria lá”, confessou.
Paulo Sousa, casado e com 39 anos, representa uma situação menos comum neste grupo, mas também representativo de um número de enfermeiros portugueses experientes que olham para o estrangeiro como uma forma de progredir na vida e na carreira.
“Queria uma vida melhor do que ter três empregos a trabalhar 70 horas por semana. Estava saturado porque tinha responsabilidades e não recebia por isso. E porque queria dar uma vida melhor ao meu filho”, justificou.
Saiu de Santa Maria da Feira em 2009 para o Reino Unido porque este era um país mais próximo de Portugal e menos complicado em termos de burocracias do que a Austrália, que chegou a ser a primeira opção.
Tanto para Paulo, especialista em cuidados intensivos, como para a esposa, igualmente enfermeira, a experiência tem sido positiva: alguém de emprego no Royal Brompton Hospital, encontraram um salário melhor, formação paga, promoções e ofertas de trabalho.
“Faço coisas que não existem em Portugal. É estimulante a possibilidade de fazer coisas diferentes. Não estamos minimamente arrependidos - só temos pena de não termos vindo mais cedo”, garantiu.
Paulo e Sabrina falam ambos da qualidade de vida que encontraram no Reino Unido, que lhes permite ter outras actividades ou viajar, pelo que o regresso a Portugal é encarado como uma possibilidade num futuro distante.
Esta é também a perspectiva da maioria dos inquiridos do inquérito: embora 43% admita voltar para exercer a profissão, 33% só pretende voltar ao país de origem depois da aposentação e 24% dos enfermeiros portugueses não quer nem voltar para trabalhar nem para gozar a reforma.