10º Simpósio Aquém e Além do Cérebro

“O espírito da ciência está a mudar”

“O espírito da ciência está mudar. Temas como os da interacção entre mente e matéria, que estamos aqui a discutir neste simpósio, são abordados de uma forma cada vez mais aberta e generalizada dentro da comunidade científica”, disse Peter Bancel, um dos oradores de hoje do 10º Simpósio Aquém e Além do Cérebro.

“Digamos que, actualmente, se pode falar nestes temas sem perder o emprego no Departamento de Física…” A ironia de Bancel é muito clara quanto ao espírito de mudança: “É hoje inevitável a convicção de que o caminho futuro da investigação não poderá dissociar mente e matéria e esse é o tema que ocupa muitos investigadores em todo o mundo”.

Peter Bancel, investigador doutorado em Física, falou hoje ao Simpósio sobre o Projecto da Consciência Global, do qual é o mentor. Esta experiência tem como finalidade testar a hipótese de que a atenção focada por um grande número de pessoas durante eventos mundiais possa estar correlacionada com desvios numa rede global de geradores físicos de números aleatórios. Segundo Bancel, num evento (como por exemplo o 11 de Setembro ou as eleições americanas de 2008) a propensão de várias pessoas pensarem na mesma coisa, ao mesmo tempo, não acontece por mero acaso, mas sim devido a uma consciência global, relacionada com o poder da mente.

O segundo dia do 10º Simpósio Aquém e Além do Cérebro foi dedicado à vertente parapsicológica das Interacções Mente-Matéria. Além de Peter Bancel, intervieram ainda Dean Radin, do Institute of Noetic Sciences da Califórnia, Harald Walach, Director do Institute of Transcultural Health Sciences da Universidade Europeia Viadrina, na Alemanha, e Stuart R. Harmeroff, Director do Centro para Estudos da Consciência da Universidade do Arizona, EUA.

 

Consciência em estados de coma e religiosidade em destaque

O 10º Simpósio promovido pela Fundação BIAL tem a sua última sessão amanhã, abordando a dimensão social e filosófica do tema “Interacções Mente-Matéria”.

A análise das capacidades cognitivas em doentes com pouca ou nenhuma evidência de comportamento consciente (caso dos pacientes em estado de coma) será o tema abordado por Vanessa Charland-Verville, investigadora do Grupo de Ciência do Coma da Universidade de Liège. Esta palestrante apresentará demonstrações científicas de que alguns doentes com o cérebro gravemente danificado e com patologias de longa duração podem, mesmo assim, possuir capacidades latentes de recuperação.

De realçar ainda para amanhã a intervenção de Adolf Tobeña, da Universidade Autónoma de Barcelona, que apresentará os dados mais recentes sobre a propensão para a religiosidade associada a singularidades do cérebro. Este autor defende que os avanços nas técnicas de imagiologia têm dado novas pistas sobre o modo como o cérebro processa a espiritualidade.

 

Os bolseiros da Fundação BIAL

O Simpósio não estaria completo sem os bolseiros e os seus projectos. Ao todo, são 48 os posters apresentados neste encontro, num espaço que também está a servir para a múltipla troca de contactos entre a comunidade de bolseiros, orientadores e investigadores das neurociências.

Miguel Castelo-Branco, membro da Comissão Organizadora do encontro, considera que “o nível da investigação desenvolvida pelos bolseiros é hoje especialmente elevado”. Este professor da Universidade Coimbra sublinha que o papel da Fundação BIAL é determinante na Psicofisiologia e Parapsicologia, “áreas onde os apoios de outras entidades são escassos”.

Miguel Farias é um dos bolseiros da Fundação BIAL que está presente no 10º Simpósio Aquém e Além do Cérebro e testemunha a diversidade dos trabalhos presentes. Este investigador estudou, durante 10 semanas, os efeitos psicobiológicos do yoga em ambiente de população prisional. Os resultados constituem a primeira evidência dos benefícios do yoga num universo desta natureza. O investigador refere ter encontrado “um aumento de sentimentos positivos, redução de stress e ansiedade, bem como padrões de comportamento menos agressivos”.

Por seu lado, Peter Fenwick apresenta neste simpósio os resultados do seu trabalho em torno das experiências de final de vida. Após um trabalho iniciado em 2004 de recolha e processamento de testemunhos, Fenwick concluiu que este tipo de experiências ocorre em mais de metade dos casos de morte consciente. Por outro lado, analisou um conjunto de fenómenos parapsicológicos nos momentos de fim de vida para concluir igualmente sobre a sua ocorrência frequente. À questão sobre se este tipo de fenómenos está no interior da mente ou fora dela, Fenwick sorri: “em ambos os lados, claramente…”

Criada pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e pelos Laboratórios BIAL, a Fundação promove o Prémio BIAL – um dos maiores prémios europeus na área da Saúde – e um sistema de Bolsas de Investigação Científica, privilegiando as áreas da Psicofisiologia e da Parapsicologia. Neste âmbito patrocinou já 461 projectos, envolvendo mais de 1000 investigadores em vinte e sete países, de que, até Abril de 2013, resultaram 600 publicações. Neste simpósio foi, aliás, anunciado o arranque de mais um programa de bolsas patrocinadas pela Fundação.

 

Fonte: 
Imago
Nota: 
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