Amianto mata 39 pessoas por ano em Portugal
Em média, houve 36 mortes por ano por mesotelioma, um cancro raro que está associado à inalação de fibras de amianto. Mais raras nas estatísticas oficiais são as mortes por asbestose, uma inflamação crónica dos pulmões também causada pelo amianto: cerca de três casos por ano, em média, no mesmo período, avança o jornal Público.
Portugal está longe dos países com maior taxa de mortalidade por amianto. No topo da lista está o Reino Unido, onde morreram em média 2286 pessoas vítimas de mesotelioma entre 2007 e 2011, segundo dados das autoridades britânicas de saúde. A taxa de mortalidade entre os homens em 2010 foi, no Reino Unido, de 6,2 mortes por 100.000 pessoas, segundo a Agência Internacional para Investigação sobre o Cancro, da Organização Mundial de Saúde. Na Alemanha foi de 2,7, no Japão de 1,6 e nos Estados Unidos de 1,3. Em Portugal, a taxa foi de 0,7 mortes em cada 100 mil homens. O mesotelioma representa cerca de 1% dos cancros do sistema respiratório no país.
As mortes de agora reflectem sobretudo casos de pessoas que foram expostas ao amianto na sua actividade profissional: operários de fábricas que processavam ou utilizavam amianto, construtores civis, electricistas, encanadores e outros. A doença normalmente surge 20 a 40 anos depois da exposição, daí que seja mais frequente em idosos.
Em Portugal, a idade média das pessoas que morreram de mesotelioma desde 2007 é de 68 anos. Mas há mortes em idades bem inferiores. O caso mais precoce refere-se a uma pessoa com 23 anos, segundo as estatísticas da Direcção-Geral da Saúde.
Um estudo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) identificou 427 novos internamentos por mesotelioma nos hospitais portugueses entre 2000 e 2011. O número de novos casos por ano varia entre 26 e 52, mostrando uma ligeira tendência de aumento. Há quatro casos em pessoas com 20 anos ou menos, duas das quais com até quatro anos.
A autora do estudo – a investigadora Mariana Neto, do Departamento de Epidemiologia do INSA – diz que os resultados confirmam a tendência de surgirem agora casos relacionados com pessoas que estiveram expostas ao amianto há 30 ou 40 anos. Mas chama a atenção para a possibilidade de haver outras fontes de exposição que não as mais óbvias, como a construção ou a indústria naval.
“O facto de 50% dos casos malignos terem ocorrido em pessoas com idades inferiores ou iguais a 65 anos e 3% em pessoas com idades inferiores ou iguais a 30 anos justifica a realização de um estudo mais profundo e detalhado, por poderem estar em casa fontes de exposição menos óbvias e mais actuais”, escreve a autora, no estudo publicado na revista Obervações-Boletim Epidemiológico, do INSA.
A pneumologista Paula Figueiredo diz que muitos doentes que surgem com mesotelioma não se lembram de ter estado expostos ao amianto. E chama a atenção para o facto de os números estarem possivelmente sub-valorizados, porque a doença ou a causa de morte podem ser erroneamente associadas a outro tipo de cancro do pulmão. “É importante como se faz o diagnóstico”, avisa.