Cada vez mais frequente

A depressão na adolescência

Atualizado: 
05/11/2019 - 12:05
A depressão nos jovens, além dos prejuízos pessoais, acarreta sofrimento para toda a família. Durante muitos anos acreditou-se ser um quadro raro nesta faixa etária mas tem vindo a revelar-se cada vez mais frequente.
Adolescente depressiva sentada perto de janela

Crescer pode ser complicado e a fase da adolescência é recheada de altos e baixos, oscilando entre a tristeza e a alegria, entre o medo e a adrenalina, entre a calma e explosões de raiva. É importante entender esta fase tão peculiar do crescimento e compreender se esta montanha russa faz parte do comportamento típico dos jovens ou pode comportar outro tipo de preocupação. Por isso, os pais devem estar atentos e perceber que nem toda a tristeza é sinal de doença, assim como nem toda a alegria é sinónimo de bem-estar. Há na adolescência uma tendência para o isolamento, para a auto-critica, para questionar a auto-estima e o valor pessoal. Há certos comportamentos silenciosos, apáticos e por vezes irritadiços e brutos que causam preocupações familiares, quando na verdade pode ser apenas uma fase de compreensão da nova realidade, aquela em que se apercebem que já não são crianças, mas também ainda não são adultos. É uma altura em que procuram um espaço na sociedade. O seu espaço. Esta realidade não é, no entanto, sinónima de depressão. Aliás, durante muito tempo a comunidade médica acreditou que este era um quadro raro, ou mesmo inexistente, entre os jovens, até que em 1975, o National Institute of Mental Health (NIMH), nos Estados Unidos, reconheceu oficialmente a doença em crianças e jovens. Portanto, a depressão e a ansiedade são distúrbios que não têm relação com a idade.

Sintomas

A adolescência é uma altura de mudanças – físicas, comportamentais e sociais – e, por isso, os jovens passam por uma fase de auto-crítica, de sentimentos de incertezas e inseguranças, de dificuldade em sociabilizar, de se encaixar em modelos sociais, etc. Muitas vezes, por isso, tendem a procurar o isolamento e podem mesmo ficar tristes e confusos até que compreendam a nova realidade.

É importante que os pais avaliem se a apatia e o afastamento do adolescente são acompanhados por outros sentimentos, como a tristeza ou o choro e se tendem a perdurar no tempo. Para além disso, se mostrar desinteresse por actividades que habitualmente gosta, sem substituí-las por outras ou se o rendimento escolar sofrer uma queda, os pais devem considerar a hipótese de depressão.

Os sintomas da doença são específicos com duração e gravidade suficiente para comprometer seriamente a capacidade de uma pessoa levar uma vida normal. Por isso, os especialistas consideram com cuidado redobrado os sintomas que os adolescentes apresentam e que podem indicar um quadro depressivo. Irritabilidade, instabilidade de humor, crises de raiva, manifestação de sentimentos de desesperança e culpa, perturbações do sono e uso abusivo de álcool e/ou drogas são sinais que o profissional de saúde tem em conta.

Nos adolescentes a depressão também pode ser “mascarada” por problemas físicos e queixas somáticas que parecem não ter relação com as emoções. Estes problemas podem incluir alterações de apetite ou distúrbios de alimentação, tais como anorexia nervosa ou bulimia.

Causas

Segundo os especialistas, a depressão aparece em geral pela primeira vez em pessoas com idade entre 15 e 19 anos. De facto, observou-se nas duas últimas décadas um aumento muito grande do número de casos de depressão com início na adolescência e na infância. Talvez seja porque o mundo moderno se esteja a tornar cada vez mais complexo, competitivo, exigente e muitos adolescentes têm dificuldades em lidar com as necessidades de adaptação que se deparam diariamente.

Por outro lado, os traços afectivos da personalidade podem explicar a razão pela qual alguns adolescentes se tornam deprimidos enquanto outros não, mas como ocorre com qualquer outra doença, algumas pessoas são mais susceptíveis que outras. Contudo, se o jovem estiver inserido numa família ‘disfuncional’ a probabilidade de desenvolver a doença é muito maior.

Os factores genéticos também têm um importante papel no desenvolvimento da doença. Acredita-se fortemente que a depressão possa ser causada por um desequilíbrio de substâncias químicas cerebrais, denominadas neurotransmissores, designadamente três deles - a noradrenalina, a dopamina e, principalmente, a serotonina.

Na verdade, o aparecimento da depressão, seja nos adolescentes ou nos adultos, resulta de uma combinação de múltiplos factores e não de apenas uma causa.

Tratamento

Muitos jovens deprimidos podem beneficiar de um programa de tratamento adequado. O primeiro passo, evidentemente, é procurar a experiência de um profissional capacitado para diagnóstico, aconselhamento, tratamento e ajuda. Juntamente com o adolescente, os familiares e o médico podem chegar a uma decisão sobre o tipo mais adequado tratamento para o doente. Para alguns adolescentes, o aconselhamento pode ser a única terapia necessária. Muitas vezes o tratamento medicamentoso é indispensável mas, mesmo com ele, o aconselhamento que envolve o adolescente e a sua família é bastante benéfico.

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Autor: 
Célia Figueiredo
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
Foto: 
Pixabay