Opinião

“A cabeça já não é o que era” – envelhecimento normal ou demência?

Atualizado: 
21/10/2024 - 08:14
O envelhecimento normal existe. Repitam comigo. O envelhecimento normal existe. Com o avanço da idade, um declínio leve na função mental é quase universal e é considerado normal.

Admite-se que o nosso Quociente de inteligência (QI), a medida que usamos para tentar avaliar a capacidade intelectual de uma pessoa, atinge o seu pico aos 25 anos, estabiliza até por volta por 60 ou 70 anos e depois diminui.

Não diminui por igual. O QI não é todo igual. Falamos essencialmente em dois tipos de QI: o QI verbal, que avalia a nossa habilidade com palavras, e o QI de desempenho, que se foca na nossa capacidade de pensar e raciocinar visualmente e nas nossas capacidades motoras.

Ora aquilo a que chamamos de QI de desempenho diminui mais acentuadamente. A velocidade de processamento diminui e é mais difícil de aprender coisas novas. As habilidades motoras finas e coordenação motora também podem ser um desafio. O QI verbal é mais estável e, em alguns casos, até melhor. Ao longo de nossa vida, acumulamos conhecimento e vocabulário. Estas informações são "cristalizadas", não se perdendo facilmente.

Então o que é normal?

- Esquecer-se do local onde deixou as chaves ou de nomes de pessoas conhecidas

- Esquecer-se de pagar as contas do mês (a água, luz, gás)

- Ter maior dificuldade em concentrar-se

- Haver uma maior lentidão a processar informação e menos capacidade na resolução de problemas

- Ter menos capacidade de reter informação nova

- Haver uma desaceleração psicomotora

E este envelhecimento da cabeça não vem só. Contam também as comorbilidades medicas, os défices sensoriais e a perda de independência que muitas vezes complicam isto. Contam também, em alguns casos, o isolamento, a perda do conjugue ou do círculo próximo de amigos e a perda de poder económico ou de status socioprofissional. Estes são aspetos muitas vezes esquecidos mas que ajudam, a maioria das vezes, a explicar as dificuldades que surgem.

Mas a pergunta que nos traz hoje é outra. Então, quando é que podemos falar em demência?

A demência é uma diminuição grave, lenta e progressiva, da função mental, que afeta várias áreas da cognição (memória, o pensamento, o juízo e a capacidade para aprender) e que surge habitualmente com uma incapacidade de ser autónomo para as atividades da vida do dia-a-dia.

O que nos deve chamar a atenção?

- Perder os óculos e nem sequer lembrar-se de que precisa de óculos ou que os perdeu

- Esquecer-se de como pagar as contas do mês ou que existem contas para pagar

- Desorientar-se em locais conhecidos ou esquecer eventos recentes

- Não perceber o significado de uma palavra ou para que serve um objeto que anteriormente era familiar

- Alterações do modo habitual de se comportar ou de ser

Quando estes sintomas existem, é mandatória a procura de ajuda. Ajuda especializada que permita uma avaliação capaz do que é que existe e do que é que podemos fazer para ajudar.

Autor: 
Dra. Maria Moreno - médica psiquiatra na Clínica CogniLab
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay